VIGILANTE–XXXV–DO QUE HÁ NOS CELULARES DOS SERIAIS-KILLERS
Horas depois, na mansão Figueiredo, este em seu disfarce de Garroteador postara-se atrás de Denise, fio de nylon de alta densidade preparado para esganar, sufocar, talhar o suave pescoço da moça naquele que seria sua obra prima.
Mas para sua surpresa, Denise recuperara-se de sua bombástica revelação.
Ao apertar o pescoço da vigilante, ela simplesmente ergueu as nanolâminas e as superaqueceu. Depois encostou-as de chapa nos braços do Garroteador.
Carne chiou, ele gritou.
Soltou-a do garrote mortal.
Denise não hesitou.
Torceu o corpo, levantou-se, ganhou espaço de manobra num pulo que a distanciou do Garroteador.
Arremessou a nanoadaga.
Ela rasgou o nariz do Garroteador e cravou-se na parede.
Surpresa por ter errado, olhou para suas mãos.
Elas tremiam.
Sua cachola tremia junto.
O Garroteador aproveitou sua hesitação.
Com um chute de savate francês soltou a nanoadaga da parede.
Ela rodou no ar.
Pousou para as mãos do Garroteador.
Denise abriu um sorriso de covinhas e pressionou o punho com o dedão.
ZZZZZZZZZZZZZZZZZZTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT
Um choque vindo da empunhadura da arma apagou o Garroteador.
Denise alcançou a nanolança. Apoiou-se nela e levantou-se penosamente.
Aproximou-se do corpo inerte do Garroteador. Fuçou os bolsos em procura de alguma arma. Nada.
Viu o telefone celular de Figueiredo pousado na mesa de cabeceira.
Decidiu investigar.
E o que encontrou gelou sua espinha.
O celular daquele depravado que um dia quis ser meu marido estava cheio de sadomasoquismo pesado até a metade.
Sexo sofrido e snuffs vídeos sanguinolentos numa parte.
Na outra os clássicos desenhos animados que com Denise, Paulo Afonso Mansuetto e Figueiredo assistiam e gostavam.
E, no celular, havia vídeos. Muitos vídeos. DELA.
Vídeos de Denise tomando banho, andando pela sala, dormindo, dançando nua louca na varanda enquanto a chuva caía em grossas gotas e ameaçadores trovões.
O dia de seu batismo.
Aquele filho da puta sacana e maquiavélico havia a grampeado.
E há tempos.
Mas afinal o que ele queria dela?
Amor ou vingança? Ou pior. Os dois ao mesmo tempo?
Com um grito Denise lança o celular ao chão.
O carpete mal arranha sua tela.
Denise, então, sacode as duas lâminas.
Elas crescem, viram lanças.
Sacode Figueiredo com o cabo delas. Quando finalmente ele acorda, aponta a lâmina para seu pescoço:
--- Gostei de virar o feitiço contra o feiticeiro, sacana... Achei seu celular, viu. Muito interessante essa vidinha sexual. Agora me explica isso. Que porra é essa?
Pega o celular do chão e o estende o celular diante do nariz mascarado do Garroteador.
Uma a uma lhe mostra as filmagens no interior de sua casa.
Ao que o Garroteador sorriu:
--- Quem ama cuida, minha cara e estimada Denise... e eu cansei de te amar. Quis lhe dar o meu melhor, mas só posso lhe oferecer o que sobrou. O pior. O assassino, o esquizofrênico serial killer. O voyeur.
Diante de algo tão doentio quanto o amor do Garroteador, a vigilante simplesmente recolheu suas lâminas.
Olhou com desprezo para o homem mascarado à sua frente:
--- Você, advogado ou assassino, é patético. Inteligente e maquiavélico, sim, cheio de truques, sim. Mas não passa de um homem ferido correndo atrás da morte para ver se ela o alcança primeiro.
O Garroteador riu.
--- E assim não somos todos nós?
E com um gesto discreto acionou o alarme.
Denise ouviu, mas já esperava por isso.
--- Não sei, nem pretendo descobrir. Só sei que se te ver outra vez, você morrerá.
O Garroteador sorriu. E riu. Riu e riu.
Denise o esbofeteou, lançou um gancho de escalada com uma corda retrátil que se enrolava em seu pulso. Fixou o gancho no telhado, ergueu-se ao teto, rumo ao ar puro da manhã.
Mas sua espinha tremia.
O mundo estava se tornando um lugar escuro demais.
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Mande fumo pro Curupira