VIGILANTE–XVI– O MUNDO LOUCO DE DENISE MANSUETTO

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Mas se tanto imprensa como o próprio Garroteador tinham certeza de que o “senhor” X planejava cuidadosamente suas investidas, de maneira a forçar caminho rumo ao famoso serial killer, a verdade era muito mais simples e talvez desinteressante.

Denise não era mais Denise.

Era o que vivia abaixo da superfície mental de Denise.

Instintos e sentidos.

Raciocínio mínimo, porém sempre o mais eficiente.

Atacava aleatoriamente e sempre em flagrante.

Para isso, não só escutava a frequência da polícia, mas também a de todos os paramédicos da cidade, transmissões via satélite e das câmeras da cidade.

Tudo tinha a marca dos produtos inteligentes Mansuetto. Uma backdoor que não só dava acesso ao sistema operacional do aparelho como permitia ouvir tudo o que se passava com quem utilizava o produto Monsuetto Tech.

Era assim que a Fintech mantinha sua fidelização. Eles simplesmente ouviam o que o cliente queria.

Denise não tinha a mínima vergonha disso.

“Todo mundo faz, por isso ninguém, ninguém, nunca vai abrir a boca! Todos estariam ferrados da silva!”.

Graças ao backdoor Mansuetto, “o” senhor X conseguira evitar inúmeras agressões em família. Todas as vítimas seriam mulheres. Todos adoravam as TVs Manstech. E todos eram ouvidos por Miguel Dickey, que, fazia uma triagem e transmitia real time as que considerava ocorrências mais urgentes.

Dickey auxiliava Denise mais por obediência do que por outro interesse. Nem mesmo aceitou o considerável aumento de salário que Denise lhe ofereceu para ser o seu chair man, torcendo para que ele não desconfiasse de suas atividades letais com o traje sombra.

Ele sempre olhava desolado para o traje descarregado e sujo de terra de metrôs, esgotos, becos, guetos e o que mais Deus sabe o que aquela maluca percorria com ele.

“Parkour Anônimo” – Denise dizia.

--- Já imaginou alguém vê sua famosa chefa fazendo parkour, dr Dickey?

Seria uma chuva de manchetes desagradáveis. Danifiquei o traje ou só o sujei?

--- O traje está íntegro, mas precisa de manutenção. Seu parkour anônimo vai ter que esperar uma semana.

Denise desconfiava que a obediência e o silêncio desconfiado com que o pobre dr estagiário encarava suas atividades eram uma espécie de amor por ela.

Agora percebera como estava enganada.

Dickey amava o traje acima de qualquer coisa. Nunca iria sair de perto dele, mesmo tendo qualificações para usar a tecnologia em projetos muito mais importantes do que um simples traje.

E quando, esticado no scanner da manutenção, Denise viu o homem sentar-se ao lado do traje e acaricia-lo como se fosse uma bela garota que estivesse sentada ao seu lado, chegou a conclusão de que nunca poderia ser sã de novo.

“Vivemos contemplando um espelho que se chama realidade, mas nunca vi um aspecto que possa ser chamado de sanidade. Oh horror, teu nome é loucura. Ah loucura, teu planeta é a Terra.

Onde só não é louco quem está no hospício.

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