VIGILANTE–FINAL–UM NOVO COMEÇO
Quando acordou, Denise estava numa cama de hospital, entubada, cheia de eletrodos pelo corpo, medidores de sinais, outras parafernálias médicase, pior, algemada. Oficialmente presa.
Estava tonta, nauseada e o pior: a dor do tubo em sua garganta era insuportável. Arrancou-o.
Tossiu. De novo. E de novo.
Arrancou de seu corpo todos os plugues, eletrodos e fios.
BIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIPPPP!
Fez o alarme do controle de vida.
Um enfermeiro entrou correndo e flagrou Denise flexionando os pulsos tentando livrar-se das algemas.
Ele caiu em cima de seus braços.
Era pesado e volumoso.
Denise estava muito fraca. Pouco resistiu.
--- Relaxa dona. Você esteve em coma por três dias. Quase foi dessa para melhor. Se não fosse o dinheiro dos Mansuetto...
--- E o que significa isto? – resonde Denise erguendo levemente a mão algemada. Pode me explicar?
--- Claro que sim, dona – liga a tv – está em todos os canais. A senhora é famosa. E polêmica. Mas, cá entre nós, pode me dar um autografo, Sr. X. Sou seu fã.
Denise mal ouviu o que o homem falou.
Uma imagem na tv captou toda a sua atenção.
O detetive S. sendo condecorado com a medalha de excelência da policia federal. E promovido. O oficial da cerimônia o chama de Capitão S.
O repórter da tv narra o que está acontecendo na tela normalmente, mas para Denise nada faz sentido.
Porém quando ouve que, neste momento, S. brindará a todos com a versão oficial dos fatos:
Bom dia a todos e obrigado por estar aqui. Devemos o estouro do bando do Garroteador a um telefonema anônimo que denunciou a presença de abre aspas: sombra se movente, fecha aspas. Como estava próximo do local fui o primeiro a chegar. O vigilante não foi nada sutil. O portão estava dentro da guarita de segurança da entrada da casa. Os seguranças mortos a tiros. Tudo indica que o ataque do Sr. X foi brutal, selvagem e violento.
--- Capitão. Como o senhor deduz que o sr X está por trás do ataque à mansão Figueiredo? O modus operandi dele não é com espadas e facas?
--- Sim, filho. E estas ele reservou para o Garroteador. Seu mentor, dr. Figueiredo. Quando invadi seu quarto, ele estava decepando as mãos do homem e provavelmente iria mata-lo. Mas atirei e acertei. Ele fugiu.
--- Então o vigilante continua solto pelas ruas, Capitão?
S. deu um rouco e contrariado gemido de “mea culpa”:
--- Infelizmente ele foi mais rápido do que eu. O que equivale a dizer que sim. O vigilante continua atuante nas ruas.
Toda a multidão soltou um
Oooooooooooohhhh!
Era a consagração do Sr. X.
E S., por dentro, cinto de cilício substituído por traje sombra, dava piruetas de alegria.
Denise suspirou. Depois chorou. Depois riu. Depois gritou. Ela sabia quem era o atual sr. X. Não se conformou.
E riu, chorou, gritou e chorou, riu, gritou.
Até que realmente enlouqueceu.
Foi parar no hospício achando que era um homem cujos testículos foram arrancados pelo Sr. X.
Fim.
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Mande fumo pro Curupira