VIGILANTE–I–VOCÊ ME ENCONTROU–PARTE 1
Denise estampa uma capa da Forbes Brasil. Chamada da matéria: “CEO topmodel: A Mansuetto toda poderosa!”
A revista está jogada aos pés de sua cama, onde infeliz com o conteúdo da reportagem, um repeteco jornalístico do bullying da academia, ela, com apenas um quimono-doll, dorme.
O sonho é uma enorme mancha colorida de azul e amarelo, vermelho e negro, roxo e cinza, diáfano, um véu, um quimono, um quimono de dormir.
Diáfano e com tantas cores que era quase branco. Ela vaga por um beco, perdida a noite, mas andando tranquila e segura, apesar de quase desnuda.
A noite está agradável, porém, súbito, um mal cheiro a atinge.
Uma mão contorcida e maltrapilha estende-se para ela.
Sangue jorra na escuridão
Sob os uivos das mãos dos decepados.
Denise acorda.
Seu quimono doll é vermelho e preto, bem como os lençóis e o dossel da cama são azuis e amarelos. As blasfemas cores do sonho.
A combinação de cores não lhe pareceu inapropriada no cansaço e na tristeza na hora da leitura daquela merda de revista nem quando a lançou cama afora.
Agora lhe dava ânsias.
Arrancou os lençóis e dosse. Substitui-os por tecidos brancos e leves. Sentiu-se melhor.
Lembrou-se da estranha mão do sonho.
Olhou para as suas próprias.
Não eram as mãos de uma maltrapilhas.
Delicadas, macias, rosas e bem tratadas.
Nada de unhas quebradas e sujeira das calçadas e dos esgotos.
Só um sonho estranho e cheio de sinestesias, nada mais.
E voltou a dormir.
Zap!Zap!Zap!Shrick.Shrick.Shrick de aço cortando ossos e carne.
ZapZapZap! Brilho afiado de lâminas.
Um inofensivo maltrapilho desmembrado por katanas.
Bem debaixo dos SEUS olhos.
Ela lá sem fazer nada.
Fecha os olhos. ZapZapZap.
O brilho da katana, a carne rasgada, o órgão perfurado.
Sangue. Sangue. Sangue.
E o mal cheiro blasfemo do horror.
Nas mãos delicadas de Denise o cabo da katana. Ela abre as mãos. A katana fala:
--- Lâmina solta. Acionar magnetos.
Denise sente a lâmina prender-se à sua mão.
Ela sacode a mão, mas a lâmina grudou em sua pele.
Tenta acordar quase em pânico. Não consegue.
Olha para a espada.
Seu reflexo lhe sorri, cheio de covinhas alegres e:
Aquele olhar maldoso.
--- Você me encontrou – diz o reflexo.
E ri. Cada vez mais alto. Quando os tímpanos de Denise estão prestes a explodir, ela consegue acordar.
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