VIGILANTE–XIII– O GARROTEADOR–FINAL

 

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Causada pelo calor do momento, essa morte não estava nos planos de Figueiredo.

Na hora suou frio. Quase hiperventilou, mas, depois, acalmou-se. Chegou à conclusão que o melhor seria armar uma cena de suicídio na casa de Mansuetto.

Chamou dois capangas.

Com a ajuda deles carregou o corpo para o carro.

O cadáver do velho Mansuetto ficava entre seus dois capangas. Se eles tinham asco, medo, repulsa ou alguma piedade, não demonstravam.

Sérios, sisudos, sinistros.

Apoiavam o corpo ainda sem rigor mortis em seus ombros poderosos para conte-los nas curvas mais acentuadas.

E foi com essa macabra condução que chegaram à casa de Mansuetto.

De pronto, usando uma chave do velho, abriram a porta, adentraram na casa.

Levaram o cadáver até o banheiro e chegando lá, um dos corpulentos acólitos de Figueiredo fez um laço e com a ajuda do outro capanga, passaram o laço por cima de um robusto lustre de madeira.

Envolveram o laço no pescoço do cadáver. Elevaram o cadáver até que seus pés não tocassem o chão por cerca de um metro.

Depois soltaram.

O corpo caiu e ficou balançando acima dos azulejos do banheiro.

Figueiredo sorriu.

Estava feliz com o resultado de seu plano. Tudo saíra às mil maravilhas.

A polícia logo veria que não se tratava de nenhum suicídio, mas um homicídio, talvez até qualificado. Porém, não havia nada ali.

Não havia provas.

Figueiredo e os seus asseclas fizeram um trabalho profissional.

Não deixaram digitais, nem rastros ultra-violeta, nem cabelos, pelo e barba para exames de DNa.

A única pista que a polícia encontraria seria a própria vítima do crime enforcada no lustre de carvalho sobre os azulejos do banheiro.

O caso, contra a vontade da polícia e da família – dele inclusive – caminhou rápido para a conclusão de suicídio.

As ações Mansuetto despencaram.

Denise viu-se com a presença de espírito de, em pleno estado de tristeza e revolta profunda, fazer a sucessão da empresa, tomar luto pelo pai, providenciar velório e enterro e buffet para os visitantes da tarde.

Ele pode vê-la, o desejo de seus sessenta anos. O vestido preto, discreto, mas moldando as curvas perfeitas de seu corpo.

O chapéu com véu, belo e sutil, apenas insinua a beleza de seu rosto.

Denise nunca gostara de Figueiredo.

E fez questão que ele soubesse que, com ela garantida como CEO da Monsuetto Tech na sucessão, sua firma não mais representaria a empresa.

Ele não se importara com isso. Havia mil outros caminhos para reconquistar um cliente. E, nesse caso em particular, algum deveria levar à chave de como tomar posse da Mansuetto Tech.

E calmamente enunciou seu discurso para Denise no velório:

--- Apesar de nossas rivalidades, e com todos os contudos de nosso relacionamento, quero dar o maior apoio a você

--- Olha fica na tua, você foi amigo de meu pai, não meu. Dispenso sua simpatia. Por favor fique o tempo que quiser, mas não me dirija mais a palavra e não volte mais a esta casa.

Indiferente ao clamor de Denise, Figueiredo vai até o caixão, contempla o morto. Uma lágrima cai se seus olhos e desce umedecendo um estranho sorriso que se formara em Figueiredo.

Um sorriso que assustara até Denise.

Então Figueiredo disse:

--- Oh, mundo cruel, onde a paz cobra seu preço com o sangue dos melhores seres humanos. E o castigo deste sangue recai sobre os melhores amigos dos melhores seres humanos deste planeta.

Depois, sentindo-se dramático, diz ao corpo velado:

--- Você tem sorte de ser uma boa alma, Mansuetto.

Depois, batendo no peito.

--- Pois não há descanso para os malditos.

  

                      NO REST F THE WICKED

 

 

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