VIGILANTE–XIV–DE FALSOS SUICÍDIOS E VELÓRIOS SINGULARES

 

   

 

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Denise riu.

--- Você, maldito? Seu pai vive. Sua mãe vive. Você anda para lá e para cá, bem vestido, unhas cuidadas, cabelo impecável, terno mais ainda. Se eu fosse religiosa diria que você é abençoado.

Figueiredo abre um sorriso.

--- Uma família e posses não significam benção, senhorita. Apenas fortuna. A verdadeira família construímos com quem partilhamos nossas crenças mais profundas e sagradas. Crenças que dizem que, as vezes, boas pessoas precisam ser sacrificadas para se reestabelecer o equilíbrio do mundo.

--- O senhor está dizendo que meu pai foi uma oferenda? Comida de santo? É isto?

--- Não, minha filha, estou lhe explicando como é a vida. Mas perdão, não estou conseguindo me expressar direito. Apenas quero deixar registrado meu mais profundo respeito e admiração pela coragem de seu pai. Pelo seu talento que levou essa coragem adiante triplicando nossos lucros em apenas um ano de gestão. Estou lhe falando isso porque quero você do meu lado. Juntos, com sua paixão e minha expertise, seremos imbatíveis.

--- O senhor está me propondo uma joint venture ou casamento – Denise disse sorrindo. O abdômen sacudindo pelo afogamento de uma risada indesejada. J---- Acho que ambos. Se você for como seu pai, vai entender. Seu pai era um explorador de mundos. E você quer conhecer novas paisagens antes de se fixar por aqui. Eu posso garantir que isso aconteça.

Passa a mão pelos ombros dela.

--- é só você dizer sim...

A lembrança da risada dela, rouca, grave e altíssima despertou Figueiredo de seus devaneios.

Não era hora de sonhar.

Não sabia porque deixara sua mente ir até essa noite particular, onde conversara com uma amarga Denise Mansuetto. Sentimento que, Figueiredo desconfiava, vinha mais da incapacidade de sentir alguma dor pela morte de seu pai e pelo desejo de soltar uma dor antiga que latejava cada vez mais, lutando para sair e expressar-se no mundo concreto.

Ele pode sentir nela a mesma ânsia que o levara ao crime.

A fome de vingança.

A sede de assassinato.

A necessidade de lavar a alma em sangue.

E agora havia o senhor X...

Mas porque pensava tanto em Denise.

Simplesmente não conseguia ler a matéria completa.

A cada linha, novas associações.

Corte com espadas. Artes Marciais.

A coleção de lâminas de Denise.

A peregrinação pelo mundo em busca de técnicas e táticas de combate marcial.

Deus do céu.

Estava sendo caçado pela mulher que propusera aliança.

Quase casamento.

Ah, Denise Mansuetto, são tantas surpresas que venho reservando para esse momento... Por favor, venha logo.

CORRUPT LAWYER

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