VIGILANTE–XVII–O TESÃO DO DETETIVE S
Quem pensava que deveria ir para um Hospício era o detetive S.
Desde que tomara para si a evidência preciosa da cena do crime, não era o mesmo policial durão e incorruptível.
A associação delicadeza da pulseira de safiras e extrema violência o excitava.
Ele torcia para “o” senhor X ser “a madame” X. Não sabia direito o que fazer com estes sentimentos paradoxais para um homem da lei. Mas sabia, com certeza, que, caso fosse uma mulher a assassina, com ela S transaria.
E muito. Botaria para quebrar. Soltaria toda a frustração de seu casamento fracassado de 10 anos, a impossibilidade de ver a filha, fruto da manifestação de seu pior lado. O lado violento.
S. durante uma discussão encalorada com a mulher ignorou completamente os apelos de Nina, sua filhinha de 09 anos. Nina postara-se a frente da mãe, durante o bate-boca e aconteceu a velha história de sempre.
S. viu vermelho. Ou melhor, não a viu em absoluto. Avançou para Nina, agarrou-a, jogou-a de encontro à parede.
PLACKE
Um estalo. Um grito. O ombro da menina com a clavícula exposta.
A longa e dolorosa separação, a perda da guarda de Nininha, a longa queda rumo ao álcool, a licença que fora forçado a tirar de seu batalhão policial, o longo desejo de viver com a garganta molhada.
S. era do tipo que não sabia beber com moderação. Nunca bebia, a não ser quando queria ficar de porre e sozinho, pois tornava-se insuportável.
Era como estava agora. Ébrio e insuportável, fantasiando a cada drink uma nova maneira de agarrar sua vigilante.
Tanto para bota-la em cana, como para enfia-la numa cama.
Mas seria capaz de fazer os dois, como tanto desejava e ainda assim, manter a correção moral, a disciplina militar policial, os valores da corporação?
O tesão pelo(a) vigilante o mortificava, pois não era mais do que isso que S. sentia. Puro e genuíno tesão.
Para S. tal sentimento equivalia a uma blasfêmia, a um sacrilégio, uma heresia em suas firmes crenças morais, as mesmas pelas quais tanto lutou para alcançar.
E que agora ameaçava perverter-se sob a forma de braços alvos e delicados usando uma pulseira de safiras e empunhando uma lâmina afiadíssima.
Sua vigilante. Pois era dele e de ninguém mais. E ele iria...
NÃO!
ELE NÃO IRIA FAZER NADA!!!!
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Mande fumo pro Curupira