VIGILANTE XXXIV–O DETETIVE SURTADO
Longe dali, horas atrás, S chegava ao seu apartamento intrigado, mas incomodado.
Pusera a pulseira de safiras dentro do envelope contendo o dossiê Denise Mansuetto antes de sair da mansão Figueiredo e pôde observar que o velho sorrira de satisfação. Discretamente. Para si mesmo.
Não esperava ser notado e não percebeu o flagra.
S. imediatamente desviou o olhar e levantou-se atraindo a atenção de seu anfitrião para seus gestos e não para sua expressão facial.
Não sabia o que Figueiredo iria encontrar.
Se a raiva por sentir-se cooptado para algum fim escuso ao que dissera o malandro velho.
Arrependera-se de mostrar a pulseira para aquela raposa. Onde raios estava com a cabeça.
“No cinto de cilício, claro. Para não pensar bobagem!”
Pode ouvir nitidamente uma voz interior que era outra, não ele, S.
Como um duplo, um ser oposto ao que S era, mas ainda assim, ou mesmo por isso, era S.
Um S profundo, que murmurava a grande verdade.
S amava seu cinto de cilício.
E pensava bobagem o dia inteiro.
As coxas, com isso, viviam em sangue...
Sacudiu o envelope.
Deixou a pulseira cair no chão.
Abaixou as calças, tirou a cueca.
Nu, coxas rubras de sangue, retirou os pregos de seu cinto de cilício um a um.
Segurou-o ao mesmo tempo em que se sentava diante da pulseira de safiras.
Depôs o cinto pingando sangue ao lado da pulseira de safiras.
Levantou-se, acendeu uma vela, apagou as luzes.
Sentou-se novamente, desta vez sobre os joelhos.
Contemplou os dois objetos, o azul das safiras, tornando-se rubro lentamente.
E então lembrou de um samba.
“Com que roupa que eu vou”
Riu.
Depois riu mais.
E mais alto.
Até que a DORDORDORDORDORDORDORDORDORRRR
DOO
o
0
o
O RRARGHHH!!!!
Lampejo de lucidez final.
Estava sendo manipulado por Figueiredo.
Depois, o alívio do cinto de cilício, dois cravos a mais na perna e o prazer de uma lambida nas safiras e outra risada incontrolável que o levou as lágrimas.
Foi quando soube que enlouquecera.
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Mande fumo pro Curupira