VIGILANTE–X–O SENHOR X–PARTE 1

 

 

                  

 

 

Quando chegou ao perímetro da cena do crime, S. não mostrou seu distintivo. Queria ser mais um anônimo perdido no mar de gente que cercava a área.

Ficou ouvindo a conversa dos policiais que guardavam o lugar.

--- Menos um bandido para nós, Júlio.

--- Menos trabalho de verdade, mais tempo ocioso, mais papelada pra por em dia. Estamos virando burocratas por causa desse cara, Erico. Tá um saco nosso trabalho e a culpa é nossa. A gente devia investigar o vigilante, não cruzar os braços e virar a cabeça pro lado...

--- Fale por você, a maioria não pensa assim. O sr. X é foda.

--- Claro que é foda. Porque ele é um criminoso que mata criminosos. E já inspirou um montão por aí. Você viu como aumentou a taxa de homicídios... Todo mundo está querendo ser vigilante e é porque estamos brigando para ver qual a melhor unidade paramilitar e tem uns sujeitos que se acham melhores que nós e tomam a justiça com as próprias mãos. E quantos inocentes já não morreram nesse bangue-bangue-. Somos é cúmplices de assassinato, cacete.

O detetive S. não pode se conter.

--- Você tem razão, meu caro. Quem é seu comandante?

--- Assunto policial, cidadão – rebateu Júlio. Vaze antes que eu te prenda por desacato a autoridade.

--- Eu deveria é te prender, meu amigo, falou S. avançando e sacando sua carteira de fodão da policia unificada terrestre – mas quero falar com seu chefe. Onde ele está.

Os dois guardas apontaram o caminho. S. foi para lá.

Encontrou o investigador encarregado pelas diligências. Identificou-se. Perguntou que história. O homem relutou em dar qualquer informação.

S. sacou um gravador de bolso, recuou a fita, apertou play. A conversa dos dois guardas saiu alta e clara.

--- Posso levar isso ao assuntos internos ou deixar para lá, caso colabore, a escolha é sua. Que porra de intimidade é essa de dar nome a vigilante? Que é isso de senhor X?

O investigador encarregado fez uma careta de surpresa e não escondeu sua raiva. Mas controlou-se. Não tinha escolha. Abriu o bico.

--- Ele mandou uma carta para o jornal local. O editor nos chamou. Apreendemos a carta, claro, mas arquivamos de cara, nem fizemos perícia, nem nada. Já esquecemos, entende... Mas sei onde está arquivada, caso queira dar uma olhada extraoficialmente, claro.

--- Sim, claro. Mas o que podem fazer oficialmente.

--- Senhor, não há pistas. O senhor sabe.

--- Não há pistas porque não há investigação, policial. As armas do crime, já foram periciadas.

--- Nunca foram encontradas, senhor, como periciar então.

--- Os cortes, homem de Deus. Doce Cosmos, terei que ensinar seu trabalho, investigador... Duas espadas, dois cortes diferentes. Quero saber tudo a respeito. A perícia já foi chamada, já examinou os cortes? Conseguiu determinar um padrão? Comece por ai!

--- Ahn.. Houve um pequeno atraso com a perícia, senhor.

S. dirigiu-se ao corpo da vitima... Contemplou-o atentamente...

Dois cortes. Um discreto e preciso, inutilizou o tendão de aquiles, imobilizando o traficante. O outro forte e profundo, desarmou-o.

Ambos potentes o suficientes para decepar membros e rasgar ossos.

--- Pois mande seu melhor perito para cá. Agora – e abaixou-se para melhor examinar melhor o corpo.

Havia uma expressão de surpresa e horror ao mesmo tempo em sua face.

Uma estocada entres as costelas direto no coração finalizara o ataque tirando a vida do homem, que S. reconheceu.

Sacou seu allphone e escaneou seu rosto.

Era Jonhnny Tubarão, famigerado traficante de tudo com o que se podia ficar doidão, assassino de policiais e solto após a defesa apontar um erro meramente formal no inquérito.

Podia entender porque os policiais louvavam o vigilante.

Apesar de criminoso, não matava a torto e a direito como acontecia todas as noites com os demais autointitulados vigilantes.

“Vigilantes de uma sociedade assassina... Porra, X, no meio dessa zona, vc mata certo, como eu queria matar. Por isto te odeio. Mas interessante, gosto de odiar você... Mais e mais”.

“Mas espere, o que é esse brilho no meio dessa poça de sangue?”