VIGILANTE–PRELÚDIO–DENISE MANSUETTO

SAMURAI WOMAN

 

 

“Se tivesse saco, ele estaria arrebentado!” – pensou Denise Mansuetto quando um sargento da polícia militar lhe deu um tapa na bunda enquanto fazia barras no teste físico para soldado do 37° batalhão da Polícia Federal.

--- Força nos bracinhos de borboleta, supermodel! Ahahahahahahahah!

E, surpresa, todos os outros caras riam. Os outros só não. Haviam elas. As candidatas, que só tinham duas opções diante da toxicidade masculina do ambiente. Ou riam com os demais futuros “companheiros” ou fingiam que não viam.

Ela estava por sua conta. Só. Ela e mais ninguém. Sempre assim...

Sempre a topmodel. Sempre o assédio, a má fama, que, no caso dela, não passava de muita beleza, muito amor e ódio por aqueles olhos quase violetas, as covinhas na bochecha quando seu rosto brilhava em sorrisos. Quem podia resistir e ficar neutro?

A polêmica gerou fama, má fama, fama movida a falsos boatos. Falavam de drogas, de sua suposta bisexualidade radical – justo ela, uma baunilhinha semi virgem de carteirinha – as redes sociais turbinavam-se de murmurinhos de cliques, curtidas e haters.

E, pior, ela fizera nudes reais que vazaram e geraram incontáveis nudes falsos.

Pura má fama.

Seu nome era um caldeirão de fofocas no caldeirão de teclados e mouses que digitavam e clicavam seu nome e imagem todos os malditos santos dias.

Ela que, adolescente, vira na própria beleza e na passarela apenas um jeito fácil de ganhar uma boa grana, nunca poderia imaginar que chegaria a ser uma megatop model internacional.

A grana entrava fácil. A fama mais ainda. E em doses muito maiores do que desejava.

Parou de desfilar e posar aos 22 anos.

Passou 04 anos viajando e aprendendo táticas e artes marciais. Queria justiça. A justiça que nunca tivera. A justiça que seus olhos quase violeta viam e outros, não. A justiça de sua competência. Do seu talento e inteligência, de sua disciplina e habilidade, não de sua beleza e “fama”. Nunca saboreara esse tipo de justiça.

Uma justiça que soubesse bem. Estava disposta a construir essa justiça. Com seu corpo que uma vez belo, iria tornar-se mortífero. E ela pretendia mesmo a morte. Seja de quem fosse, todos são culpados. A injustiça provocara o seu ódio integral por tudo e todos. Ela inclusive. Isso fazia dela uma monomaníaca, quase psicopata?

Pois que fosse.

Ela clamava por justiça. E se a injustiça gerava esse ódio que a consumia, a justiça não geraria amor?

Daí candidatar-se à uma vaga para investigador na Polícia Federal

Mas ali, suando em pleno exame físico, sendo comida pelos olhos de todos, muda aos seus ouvidos, apalpada, estapeada, zoada, suada, cansada... Isso tudo já dera para o saco que não possuía.

Ali não havia justiça.

Apenas mais um amontoado de injustiças sexistas que serviam a lei a base de paulada estúpida.

Pois ela serviria a lei também.

Mas no fio de algumas lâminas espertíssimas...

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