O HOMEM TORTO–IV–DE ARMAS E UIVOS

 

 

 

REVOLVER VELHO

 

Alicinha sentiu calor do verão na pradaria desaparecer de sua pele, quando entrou no bosque. O frio refrescou sua pele. Seguiu a trilha de penas.

Não percebeu o verde cada vez mais escuro das moitas e arvores que a circulavam.

Viu olhos por entre as sombras das arvores. Eles brilhavam na semiescuridão, estrelinhas rubras luzentes no meio das sombras em que o Homem Torto se escondia.

Alicinha tinha certeza que era ele.

Apertou ainda mais o passo, acelerou fundo. Os olhos brilhantes moveram-se para o interior das matas e suas trevas.

E a perseguição começou. Alicinha quase flutuando no ar.

Aprofundou-se no bosque atrás daquela estrela cadente vermelha, correndo veloz por entre as árvores.

Na estrada Ana e Arnaldo viram uma camionete velha e ruidosa aproximar-se.

Pediram ajuda, ambos parados ante a faixa de estrada por onde o veículo vinha e acenando os braços. A camionete parou frente a eles. Desligou o motor. Arnaldo dirigiu-se para ela.

Dentro da camionete, um homem moreno, chapéu a cabeça, a pele um couro curtido e enrugado sol, ouvia paciente, tudo o que Arnaldo lhe contava em seu fraco espanhol.

Ana caminhou lenta e resolutamente para onde ainda flutuavam algumas penas amarronzadas de ema lançadas ao ar pela correria da filha. Queria localizar o exato ponto onde a Alicinha entrara no bosque para ajudar na busca.

E também torcia para o homem da camionete ajuda-los. Toda a ajuda do mundo era benvinda. Ainda mais de alguém da região, como parecia o caso. Era sua opinião e, nisso, sabia que o Arnaldo concordava com ela.

Ambos estavam aterrorizados.

A filha estava perdida no bosque com um desconhecido lá no meio das árvores e isto dava-lhes terríveis ânsias de medo.

Ana estava quase dentro do bosque quando ouviu o ronco do motor da camionete novamente acionado, o cantar do pneus no asfalto, o veículo acelerando para longe dali.

Pensou “Nada de ajuda local, mundo cruel este meio do nada onde estamos”. Continuou olhando o bosque à espera de Arnaldo.

Quando ele chegou trazia uma velho revolver de grosso calibre nas mãos, estava atônito olhando-o de olhos arregalados.

--- Ana... Não entendi nada... Contei toda a história para ele. Só me deu esse revolver e foi embora.

--- O que ele falou para você?

--- Só uma palavra. Pombero. O cara fez o sinal da cruz, deu-me a arma, ligou o motor e saiu acelerando a toda. Estava se borrando de medo, isso lhe digo.

Arnaldo olhou o revolver que carregava desajeitadamente em suas mãos. Segurou-o do jeito que achava que devia ser correto, pois nunca empunhara nenhuma arma antes. Também temia a situação, mas não podia negar que a sensação que o revolver proporcionava dava-lhe uma nova coragem. Olhou para arma. Aquilo era poder.

--- Tape os ouvidos - disse para Ana – vou testar a mira.

Atirou numa arvore, suportou o tranco do revolver.

Parecia fácil usar aquilo. Apontar e disparar.

Acertou a arvore e o impacto da bala de grosso calibre a fez partir-se em duas.

Um grito inumano e horrível cortou a escuridão do bosque no mesmo instante, como que ferido pelo tiro. E foi-se repetindo, cada vez mais perto na direção do casal.

E não era mais um grito de dor o que ouviam, mas sim, de ódio, raiva e selvageria. Velozmente o grito ia emergindo das sombras

Arnaldo, empunhou o revolver com as duas mãos. Mirava para lá e para cá, tentando seguir o local de onde vinham os gritos. Pareciam vir de todos os lugares. Qualquer coisa que fosse, mesmo aterrorizado, com o revolver estava pronto para lutar.

 

       HOMEM TORTO

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