CRÔNICAS DO INSANATÓRIO– IX– DE CARTAS DE TARO E DA BELEZA DAS SACANAGENS

                                                                                


Broxão, começou a rir junto com os outros internos de suas piadas famigeradas, blafesmas, bufônicas, indo daí para o desprezível e além.  

 Filar um cigarro tornou-se um vício.  

 Filava de quem via na frente. Só para ter alguma atenção, ainda que sarcástica e sempre cruel.  

 Virou um zumbi de si mesmo, perdeu-se na terapia, levando-a como mais uma das cruéis brincadeiras de que era vítima.  

 Não havia como o pobre “psicólogo” de lá desentortar aquele pepino.  

 --- Me dá um cigarrinho seu Dani – era o nome do “psicólogo jungiano” que trabalhava com ele o arquétipo do louco do tarô, o bobo da corte. Queria através do arquétipo do carro – o destino, a clínica – transforma-lo no rei ou no mundo, devolvendo assim sua auto estima, caso Seu Broxão resolvesse cooperar.  

 Mas Broxão ria a cada interpretação arquetípica de Dani.  

 Ele exasperava-se: 

 --- Mas pense homem de Deus, onde está a sua autoestima? Comigo você pode ser você mesmo e não o bobo, você TEM que ser você mesmo comigo, entende. Só assim vai melhorar. 

 Broxão ria: 

--- Se melhorar estraga seu Dani. Do jeito que está tá bão demais da conta. O senhor não tem um cigarrinho aí, né? 

 Dani relatou que não era levado a sério por Broxão. Que considerava um caso perdido e que era melhor encerrar a responsabilidade da Luta Livre sobre seu bem estar e integridade física e psicológica.  

 --- Ele está no ponto de causar uma revolta de tão desprezível se tornou. Não se reconhece mais como ser humano, não escova os dentes, e as enfermeiras relatam que vivem tendo que trocar suas calças, pois quando percebeu que o trocavam, para ter mais atenção, passou a fazer necessidades nas calças. Caros colegas quando um ser humano chega a esse ponto...  

 Pegou os óculos, tirou-os, sacou um pano do bolso, limpou-os, colocou novamente no rosto e depois alcançou um saco de veludo negro que repousava sobre a mesa de reunião e de lá tirou três cartas de tarô. A torre, O enforcado e o arcano sem nome, que muitos julgavam ser a morte. 

 Mostrou-as uma a uma para os executivos, “médicos” e demais profissionais da Luta Livre. 

 --- Essas cartas formam a história de uma tragédia anunciada. A torre que cai, a dignidade perdida que transforma um homem pelo qual tornamo-nos integralmente responsáveis, caso ele melhore desse transe – e mostra aos colegas, um a um, a carta do enforcado - que sua mente lhe impôs. Voltar a si mesmo, sair deste transe ciclópico que aprisiona seu ego nos abismos de seu cérebro poderia ser fatal e põe na mesa a carta do arcano sem nome, aquele mais conhecido como morte. 

 Alguma coisa muito ruim vai acontecer com esse indivíduo. Muito bem. Eu digo: aqui não, violão. É tempo de dar alta à Seu Broxão, quero dizer ao sr fulano de tal. O que me dizem. Votamos? 

Votaram. A alta foi aprovada. Broxão, despachado para casa.  

 E a a fila anda. Próxima vítima por favor. 

 Mas, desviei-me do assunto, voltemos a história do Abelardo com o pacote de Denise. 

 Era enorme. Ela fumava 04 maços por dia e sempre sua mãe lhe mandava um estoque para um mês. A cada semana. Dani nunca estava pobre de tabaco. Mas neste pacote em especial estavam a caixa de som e o fone de ouvidos – outro item indispensável dos insanatórios: a SUA música. 

 Desconfiado do tamanho do pacote de Denise, Abelardo, resolveu exibir-se com uma sacanagem. Soltou um KIAI e deu um murro no pacote. Atingiu e esmagou um pacote de cigarros inteiro. Lucro dele. Prejuízo imenso de Denise que, lá presente, ficou atônita vendo aquilo. 

 --- Eu não sabia se eu chorava ou se batia palmas, porque o golpe foi lindo. 

 A beleza sempre foi a mais eficiente maneira de se esconder a violência, a brutalidade e a intenção de te sacanear... 




Comentários

Postagens mais visitadas