BIPOLAR

 

 

 

bipolar nos altos e baixos

 

Desconfiar de sua tristeza, não confiar em sua alegria, não dar ouvidos à sua rebeldia. Suspeitar de tudo o que vem de dentro, do profundo, do sagrado, quem sabe.

Tornar-se tão mundano, que o mundo o achará invisível, quando nele não despejar seu lixo. Tornar-se tão reflexivo, que há o risco de virar espelho. Tornar-se não o eremita, mas a caverna em que ele habita.

Entender perfeitamente, a questão do ser ou não ser e mesmo assim, apenas estar. Estar. Esse verbo tão fugaz nunca saciado, com que todos os dias ele luta, mesmo sabendo que é fatídica sua derrota.

E, finalmente, quando considerarem-no estável emocionalmente, entender que ele não passa de um animal domesticado. Plenamente apto para viver numa sociedade que – ela sim - deveria estar num sanatório.

Pois, o bipolar, mais que singular, ou transtorno, ou qualquer palavra que usem para defini-lo, é uma força da natureza, é o mar, a suavidade das ondas que lambem o pé da criança, e ao mesmo tempo a fúria de um tsunami, é a tempestade, a beleza de um relâmpago numa torrencial chuva de paixões, o eterno ciclo de renascimento e morte incorporado em um indivíduo.

E talvez, domesticando-o, vocês estejam se privando dos guerreiros que seriam a linha de frente para transformar em realidade os sonhos dos poetas.

Mas agora é tarde. A noite caiu, o dia morreu, o canino foi arrancado, as lágrimas secaram, o sorriso murchou, as rugas apareceram, os remédios agiram.

Vou dormir, adeus. Amanhã falamos.

Quem se importa?

Sou este lobo sorrindo em uivos para a matilha que o rejeitou.

 

 

lobo e rosa

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