CRÔNICAS DO INSANATÓRIO–X- O AMOR NA LUTA LIVRE

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Se havia o sexo pelo sexo na Luta Livre e quanto ao amor? Pode um interno amar? Sim pode, mas claro, ñão de maneira livre e plena como deve ser buscada a experiência do amor. Uma paixãozinha de Clínica, caso concretize-se, e nada mais.

Fora de lá era uma coisa cada um na sua.

Tocando a vida.

Mas quando recaem, não raro são internados novamente na Luta Livre. Claro que pela vontade dos parentes, não deles.

Lá, na Luta Livre, reencontram-se. Trocam uma ideia, negociam argumentos para ver qual a melhor maneira para se reabilitar.

Se sozinhos ou juntos novamente.

De qualquer maneira, caso fiquem juntos será apenas sexo e amizade. Não há nenhuma possibilidade lá dentro para o acréscimo da paz nesses relacionamentos.

E sem paz, podia-se falar de paixão, de sexo e amizade, mas não de amor, uma vez que a paz é inerente a esse conceito, ao contrário do que se prega os mártires que tanto sofrem em nome do amor.

Assim era o raciocínio de Velho Narciso.

Mas antes de lançar-se ao sexo e amizade, o cara precisava da faísca da paixão.

--- Sei lá, aquele plus quais ultra que os franceses falam... – dizia ele para Cícero, Juarez e Jovem Punk, em conversas no quarto onde eram companheiros, seus olhos sonhando, enquanto acertava uma madeixa de cabelo cuidadosamente calculada para escapar de seu penteado e invadir sua testa, dando-lhe motivos para sacudir levemente a cabeça e devolve-la à massa de cabelos bem tratados de onde se originara.

Juarez apenas bufava e saía do quarto. Não gostava de Velho Narciso.

Jovem punk possuía opinião oposta à de Velho Narciso.

Jovem punk era cético quanto a necessidade de apaixonar-se para se relacionar-se. Primeiro o sexo, depois a gente vê, era o que pensava...

Argumentava que o sexo era produto de uma reação química incontrolável, e que um dia a ciência terá um dia uma fórmula e um conceito matemático de paixão. E quem sabe um antídoto para aquelas indesejáveis, dando-nos o poder de escolher estarmos ou não apaixonados.

Velho Narciso escandalizava-se com isso.

--- E roubar a graça da coisa? Deixa-la tão, tão, tão, inumana?

--- Cara, que graça vocês românticos veem nessa coisa de ficar cegos de paixão? Isso, do jeito que você coloca, mais parece algo além da humanidade, algo a um passo do divino. Acorda criatura. Isso sim é inumano, a ciência então, pelo que vejo tem o papel de justamente humanizar a paixão para não mais a conceituarmos como algo semidivino.

Cícero olhava de um para outro sabendo que aquilo era uma espécie de jogo interno no triângulo amoroso que acabava de começar.

Velho Narciso e Jovem Punk estavam ficando com a mesma garota, Lia. Sabiam disso e se tratavam como amigos, ou melhor mais que amigos.

Dormiam lado a lado numa extensão improvisada do quarto, chamavam-se de “Fê” e “Ma”, primeira sílaba de seus nomes, e o carinho com que se tratavam era visível e, obviamente, mal interpretado.

Para Cícero, a verdade é que o triângulo amoroso funcionava. Havia carinho para seus três vértices. Eram verdadeiros parceiros de relacionamento. Partilhavam tudo uns com os outros e não havia encrencas entre eles.

Desta maneira, quando o triângulo amoroso deixou de ser um boato e foi revelado, os envolvidos não tiveram dificuldades em assumi-lo.

--- Não tem D flor e seus dois maridos, então, comigo e D Lia e seus dois amantes. E Lia, o polo feminino do triângulo e ria do resto da clínica – nós é que estamos de boas. Se o resto da clínica está mal, eles que fofoquem...

E riam, ela, Velho Narciso e Jovem Punk. Estavam em paz. Muito próximos do Amor...

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