DIÁRIO MÍNIMO DA CIDADE
I
Manhãzinha.
A rua, vazia, é reflexo,
espelho de rostos sem sorrisos
nem lágrimas aparentes.
Externa, vai como Deus manda:
Tudo bom! Assim, assim, mais ou menos, tudo bem, bom dia.
Não parece se importar com vc,
com as paixões varridas para baixo do tapete
Nem com monstros escondidos no porão.
A rua é convívio e desconfiança.
Desesperos contidos
Cordão de risos forçados e sorrisos amarelos.
Na boca, um travo estranho de mugido engasgado.
Passarela de mistérios tangidos para engorda e abate.
II
A tarde não passa,
escoa em lentíssimo ritmo:
raios de sol gotejando na ampulheta.
Movimentos fluidos e vagarosos.
Cansaço e perseverança.
O pôr do sol é um alívio que não me traz prazer algum
III
Doce é o sabor da noite: água densa roendo desejos.
Cadernos passeiam sob luzes artificiais,
Vozes sussurrando prazeres estudantis.
Entre sedas e azuis, os novelos, os caldos, todo o remoinho.
Não o susto, a sedução.
IV
Mais tarde, a rua descansa: motores esparsos e ronronantes.
Bicicletas preguiçosas cruzando o profundo azul de abismo.
Cá por dentro engano o frio com luzes mortiças.
Arvores respiram no escuro
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Mande fumo pro Curupira