DE POMBOS E MINOTAUROS
O pombo morto esparramado no chão
Fere meus olhos.
Suas asas esmagadas,
Corta meu coração
Penso naqueles que não podem voar
Em tantas asas que foram esmagadas,
Nos voos, que como sonhos, foram perdidos.
Não do pássaro,
Mas das pessoas que vejo nas ruas.
Essas pessoas que usam camisetas gastas,
Chinelos e rasteiras e bermudas
Roupa barata, cenho franzido,
Sorriso difícil,
Olhos baços.
Movem-se em lentas gravidades de pobreza
Neste labirinto de ruas sem esperanças.
Dizem que pombos são pragas,
Doenças com nomes difíceis,
Que eles espalham por aí.
Essas pessoas que vejo nas ruas,
São como os pombos
E suas pragas,
Aos olhos de gordos Minotauros,
Que em largos sorrisos
Ostentam seus carros e motos último tipo
Pelo intricado labirinto das ruas estéreis
Que orgulham-se ter construído
Enquanto isso gaviões em pios falsos de alto falante
Substituem os sinos da Matriz.
Berrando em alto e bom som:
Longe de nós, Pombos malditos,
Longe de nós, suas pragas.
Longe de nós, em nome de deus.
Mas, no alto da igreja
Há vitrais da Bavária,
Com pombos radiantes retratados.
Auréolas de santíssima pobreza,
Espírito vivo na face dos santos.
Compaixão e misericórdia em cores vivas.
Logo abaixo, no altar, sob o olhar estarrecido do Pombo e seus mártires, os Minotauros são consagrados com bênçãos e hóstias.
Nesse terrível espetáculo de sagrada hipocrisia,
que ousaram chamar de vida
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