AS CRÔNICAS FANTÁSTICAS DO IMPÉRIO ALMEIDA–INCONSCIENTES

     servorobo


O motorista era um servorobô sem nenhum sistema de comunicação. Um silêncio pesado se fez em minha alma. De um momento para outro Mariana, seu rosto, o corpo na aerodança, em meus braços.

Tudo se desvanecia. Como se dela estivesse fugindo para longe, como fosse para outro planeta.

Uma dúvida sobressaía-se sobre todas as lembranças, doces e amargas dos intensos momentos de nossa paixão.

--- Ficaria muito diferente? Ela vai me reconhecer?

Pois a procuraria...

Explicaria tudo a ela, ela haveria de reconhecer as feridas expostas nas novas melodias de dor e angústia que explodiam em minha mente.

Retirei o redutor sonoro e as toquei antes que esquecesse as novas notas geradas no mais profundo recesso do coração. A caverna do amor.

Ela dançava a minha frente, sua imagem fundindo-se com a do servorobô. A realidade misturava-se com seu bailado, as notas suaves e lentas, uma canção de ninar que se silenciava enquanto as trevas invadiam minha consciência.

E antes que apagasse de vez saquei que fora dopado.

----- Enquanto isto, nos laboratórios ultrassecretos Almeida:

O velho também se prepara para apagar na longa inconsciência do sono congelado. Acomoda-se na câmara criogênica.

--- Estou pronto, supervisor.

--- Quer dizer algo para registro, senhor?

--- Homens como eu não podem morrer supervisor, isso é tudo. Até logo...

Em segundos, o gás ultra congelado o induz a uma viagem sem sonhos rumo a inconsciência vazia e cheias de silêncios. “Uma coisa que nunca tive na vida”, pensa Afonso Soares de Almeida com um sorriso antes de penetrar num nada absoluto e agradável.

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