AS CRÔNICAS FANTÁSTICAS DO IMPERIO ALMEIDA–O REFLEXO NO SANGUE
Eu não olhava para o sangue do extrator se espalhando no chão. Olhava para meu reflexo deformado em sua superfície púrpura. Velho, curvado, caquético. E recordava....
Quando acordei no corpo de Afonso Soares Almeida, havia apenas sofrimento físico. Sentia uma fraqueza e dor que inutilizavam minhas pernas, cintura e quadris. Braços queimando em reumatismos.
A mesa antigravitacional em que estava deitado, ao perceber minha consciência, tornou-se uma cadeira de rodas cibernética.
Conectada com o gel nanocondutor implantado em cérebro.
Sistemas operacionais zumbiram dentro de mim.
--- Iniciando sequência de injeção de liga de carbono ---
Ligas de metal orgânico estalaram, ao fundir-se com meus ossos.
O nanometal inteligente invadiu as frestas calcáreas de meus ossos, revestindo nervos, substituindo membranas, ligamentos, serrando artroses e artrites impelidos pela explosão mental de meu despertar. E acelerados por cada grama de dor que sentia.
Até finalmente, assentar-se com suavidade de besta satisfeita em meu organismo.
E, finalmente meus gritos de dor silenciaram-se.
O alívio foi substituído por desespero, ao olhar meu corpo. Pernas frágeis, músculos em frangalhos, macérrimo, esverdeado, braços de passarinho.
Decrépito. Busquei um espelho. Achei. Vi meu rosto. Velho. O mesmo do sonho. Rindo de mim. Lembrei-me das diretrizes. Devia segui-las. Mas não eram minhas. De onde vinham. Do velho ou de MuskII? Porque vira aquele filho da puta desalmado num sonho? Olhei a minha volta, profundamente abalado.
Cadáveres por toda a parte. Olhos esbugalhados, corpos secos dentro de trajes pressurizados imaculados e assépticos.
Choque, confuso demais para sentir qualquer coisa. Eu e a cadeira. Captava minhas ondas cerebrais e movimentava-se conforme a clareza da transmissão.
E falava em minha cabeça
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Mande fumo pro Curupira