AS CRÔNICAS FANTÁSTICAS DO IMPÉRIO ALMEIDA III ENCONTROS ASTRAIS

Por um momento, a consciência de Woody Pereira, pode ver sua transmissão etérica, depois sentiu um tranco.

Algo interceptara sua viagem a escuridão e sua mensagem. Examinara esta última por um minuto, antes de deixar prosseguir sua viagem para os servidores da Dark Web Sideralis.

Depois voltou-se para a consciência desmaterializada de Woody.

--- Vamos voltar você e eu. Temos muito o que fazer. Sua transmissão me atraiu e foi bastante apreciada, será útil mais tarde. Chamo-me Almeida, a propósito, e nascer novamente é minha ordem do dia, e não morrer.

Com uma centelha, a Consciência Almeida acomodou-se no marcapassos Prantos. “Meu Filho, Prantos. Bastardo como eu. Nunca pediu nada. Nunca o ataquei nem incorporei nenhuma empresa dele. O filho da puta tem tino, me dá orgulho.
Está vendo, velho safado meu amigo... As vezes temos boas surpresas com nossas crias”. Uma descarga neuroquímica reativou o marca passos.

Woody sentiu-se caindo no abismo e depois encaixando-se num doloroso vazio.

Ambos chegaram de volta ao corpo, Woody na mente e a consciência no Marca Passos, ao mesmo tempo em que um homem e uma mulher retiravam corpos e destroços da Musktower.

Do marca-passos do neurastécnico, a consciência do velho Almeida observou:

--- Inacreditável – disse o homem em trajes civis inteligentes, os sistemas offline - Não quero nem saber a contagem final de corpos. Esse tá vivo, mas por um triz. É meu último, amiga. Desculpe, mas é o meu limite. Tive que ficar off-line o dia inteiro, mas não perdi, ganhei meu dia... Sinto muito, mas não dá mais... Não sou profissional como você... – dirige-se à mulher uniformizada como paramédico.

--- Tudo bem, cara. Você já fez o bastante. Vai descansar.

--- Não vi notícias o dia inteiro. Fiquei desconectado para me concentrar aqui. Diz pra mim, já ferraram quem foi né?

--- Prenderam o presidente em exercício do Brasil e explodiram o robô que tinha o laser. Flagraram o sujeito. O pau comeu, meteram uma bazuca no robô, algemaram o tal cara. Bizarro. – disse com um espasmo de nojo - fazia caretas. O rosto coberto de Martinium. E o cara é tão pancada que nem lembra como chegou aqui, mas adorou ver sua foto nos jornais. “agora vão lembrar de mim”, foi o que o filho da puta disse.

--- Musk está morto. Isso pude ver daqui. Um buraco negro comeu o cara como se fosse bolinho de chuva. Não fosse tanta merda que provocou, teria até pena dele – disse o voluntário retirando sua capa de proteção – Ficamos assim, amiga. Vou pra casa, bom trabalho.

Os dois se cumprimentam enquanto, lentamente a consciência do velho Almeida processa as informações.

Musk II morto. Incrível como agora pouco importava. Se carne fosse, iria dedicar-se a incorporar e devorar as empresas do espólio do rival odiado.

Também era incrível como Mariana deixara de ser satisfatória.

“Quero algo mais físico, carne e sangue, dinheiro e amor, ilusões... O corpo é que realmente importa...”

E ele, através de Woody Pereira, cuja consciência fora mortalmente fragilizada e traumatizada, fácil de operar, podia agir num corpo físico poderoso.

Mas a energia do marca passos para produzir pensamentos e suportar a expansão da consciência do velho, não era suficiente para mantê-la íntegra por muito tempo. E essa energia, só poderia ser reposta no gerador que alimentava o cárcere de neocristal.

Esvanecia-se aos poucos a medida que tecia planos. Como um corredor que perde folego na reta final de uma corrida, os pensamentos do velho demoravam mais e mais a ser formulados.

Até que sem folego, foi obrigado a retornar para o cérebro enclausurado no aquário de neocristal de Murano.