AS CRÔNICAS FANTÁSTICAS DO IMPÉRIO ALMEIDA III– O TRANSCONTRACEPTOR QUÂNTICO DA LUCIDEZ CÓSMICA
Bastante puto da vida com o desenrolar das coisas, aliás. Não contava com o derradeiro artifício da percussionista xâmanica.
Graças a Cacau, sua imagem invadira os sistemas de todos os seus inimigos.
Que, antes de mais nada eram inimigos de Musk II. E ele, mercador nato, sabia que o conflito ia lhe deixar fartas carniças com sabor exótico de adorável putrefação. Um acepipe raro, as chagas da guerra. Mas agora ela nunca viria e ele ganhara os inimigos de seu inimigo.
E estava exposto. Não era mais apenas um mito, uma teoria da conspiração.
Seu planeta seria invadido. Era questão de tempo. Melhor se preparar.
Com uma banhada, desvencilhou-se de Cacau, com outra jogou seu corpo no incinerador atômico que aquecia seus aposentos.
Suspirou. “Que pena...” Queria esperar mais para usar seu brinquedinho. O Transcontraceptor Quântico da Lucidez.
Ergueu-se. O corpo moveu-se lentamente, ameba em em duas pernas, foi ao laboratório.
Lá golens trabalhavam numa estrutura circular orgânica entre uma rocha. Cipós alucinógenos geneticamente alterados com raízes ácidas secretoras de substâncias inumanas e inclassificáveis uniam suas mentes em conflitos e resoluções de múltiplas possibilidades quânticas. Sua arma final, sua solução definitiva. O transcotraceptor quântico da Lucidez Cósmica. Com ele iria estimular ao máximo a estrutura cerebral reptiliana do ser humano e tornar-nos canibais. A curto prazo, ficaria com os lucros do caos de uma sociedade que se autoi-devora. A médio prazo, dominaria mercados e estabeleceria uma segunda base para seu domínio. Que seria solitário, pois a longo prazo não existiria mais nenhum ente humano para se opor a sua vontade.
Luminosa, a estrutura refletia as sombras que se moviam com as criaturas.
Mas sombras que gritavam de pavor e os gestos pediam ajuda a quem percebiam ao redor de si. Parcela de almas das criaturas humanas e inumanas das quais o Judeu Errante capturara porções de identidade anímica.
Os golens nada mais eram que receptáculos movidos a espíritos humanos e alienígenas de todo o Cosmos. Fragmentos deles.
A criatura, mutante holecraftiana como Musk II, era hermafrodita e estéril, tinha como passatempo colecionar vidas.
E os fragmentos de almas penadas contidos nas sombras, aqueles gritos, os gestos de desespero, os tremores corporais que tinham uma centelha de vida e não refletiam o movimento das criaturas de quem eram parte, aquelas centelhas de identidade, eram obrigados a seguir a criatura arcana num plano de genocídio humano que lhes negaria qualquer centelha de redenção.
Bem como para qualquer ser humano do Cosmo inteiro.
Pois o Judeu Errante estava farto de compartilhar sua existência com quem quer quem fosse.
Definitivamente queria estar Só. Sem os outros, este Inferno. Daí seria Todo Poderoso.
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Mande fumo pro Curupira