AS CRÔNICAS FANTÁSTICAS DO IMPÉRIO ALMEIDA III–NO DONA D’ARK

 mao espaço

---- TERRA – APARTAMENTO DE WOODY PEREIRA

A consciência expandida do velho Almeida não havia deixado de lado o velho e ladino hábito de invadir o subconsciente da pessoa.

Woody despertou subitamente malicioso e onanista. Olhou atônito para sua mesa de trabalho onde estava desenhado um elegante projeto de um nanogerador de energia cibernético. Não fazia a menor ideia de onde havia aparecido aquilo, mas não importava.

Sentiu-se feliz. Com aquilo implantado, teria energia de sobra para nunca mais se preocupar com seu marca-passo. Havia um problema com a equação de excedente de energia, algo que não compreendera direito, mas e daí?

Aquilo era um motivo a mais para comemorar. Estava lúbrico demais para detalhes técnicos. E sabia onde encontrar um biohacker capaz de operar-lhe o peito.

O cara já fazia a manutenção de seu marca-passos e administrava clandestinamente o melhor puteiro dessas bandas.

Ao pensar no Dona D’Ark, excitou-se.

Era um pensamento simbiótico de liberdade que experimentava com sua mente. Mal sabia que, em sua cuca, haviam dois inconscientes conjugados. O seu e o do velho e sacana Almeida. Que acabara de lhe injetar imagens das inúmeras técnicas sexuais das garotas locais.

Memórias que Almeida havia descartado e dado de bandeja para o neurastécnico. Eram tudo o que ele não tinha, ou seja, muita sacanagem. E Pereira, bem, ele era carne. E estava faminto.

joana dark

Não se saciou fácil...

Mas lembrou-se, lá no meio daquela erótica mulherada, na mais profunda inocência, como ditava sua ladina metaconsciência simbiótica, tentando aliviar o corpo, com um travesseiro forrado com penas de ganso por baixo da cintura suada de uma curvilínea parceira, logo ali, no meio do ato, lembrou-se do projeto estranho e belo que vira encima de sua mesa de trabalho.

Sem mais, livrou-se das mulheres que o cercavam, delicada, porém de maneira firme.

Foi a gerência, cochichou a senha para a secretária, uma antiga conhecida androide.. Uma porta disfarçada com holo-refração surgiu e abriu-se.

Lá dentro, encontrou Gomez, o biohacker cirúrgico que cuidava da manutenção do seu marca-passos.

Como em transe, pegou uma caneta da bancada de trabalho e começou a desenhar o projeto de memoria.

Quando acabou mostrou-o a Gomez, que observava curioso e espantado a criação do cliente.

--- Quero isso implantado em mim, no peito, alimentando o marca-passos. Pago o que for necessário.

--- Cara, isso é tão cool que faria de graça. Mas você sabe, né...

--- Ok, Gomez, apenas faça.

---- Beleza, Pereira, quando.

--- Agora, já. Enquanto estou offline.

--- Bem, o cliente tem sempre razão. Vamos lá.

Gomez conduziu Woody até a sala dos servidores holográficos da casa de prazeres. Seu refúgio e escritório.

Gomez era um dos hackers libertários mais procurados tanto por Musk II quanto pela rebelião. Lema fácil. Pagou levou, ideologias e balas lá fora, por favor.

E agora administrava a D’Ark enquanto escondia-se até as coisas esfriarem.

E há tempos, não via nada tão elegante e quanto o que Woody desenhara. Uma suave e quase despercebida chama de cobiça brilhou em seus olhos. Desceu para o peito e estômago, traduzida em uma palavra... Traição.

Revisou o projeto tecnológico feito pelo velho Almeida.

Era perfeito. Gomez iria ter horas de diversão instalando aquilo em Pereira.

Mas e depois, bem.... O coração do homem valia uma grana, o resto não...

Pobre trouxa, esse cara, pensou gomez, enquanto, sem que Woody notasse, alcançou uma longa seringa de pressão.

--- Ok. Ambulatório Express.

E disparou a seringa na testa de Pereira. O osso estalou tão alto que abafou o grito de Woody quando caiu apagado.

--- Espero que não se importe, W., seu cérebro não tem muitas conexões cardíacas e podemos correr o risco de perde-lo. Mas isto, isto – sacudiu o desenho do projeto de gerador - vale ouro, xará.

E conduziu um Woody Pereira com uma séria concussão cerebral rumo à sua sórdida mas bem organizada enfermaria e de lá para uma mais sórdida ainda sala de operações.

“Mas Pink poderia ajuda-lo.”

Woody está consciente, mas não consegue mover um músculo enquanto vê tudo na velocidade da maca arrastada por Gomez pelos corredores de luzes mortiças e esfumaçadas.

Sombras dançam nas paredes sujas e pichadas de palavrões que Pereira nem sabia ser possíveis.

Uma delas era linda, movia-se suave, gostosa de ver, como uma gata, uma linda gata-mulher negra, a Pink...

Apesar de ruim como limão podre, ela nutria por ele, a seu modo, uma consideração maternal.

Ela o ajudaria...

Caso soubesse como encontra-la.

Tump. Pop. O corpo de Gomez cai encima da maca, Pink enroscada nele, gira-o, Woody pode ver a lâmina girando no pulso de Pink, enquanto Gomez é levado ao chão. Um esforço sobrehumano, agora. Woody agarra a lâmina.

--- Não. Ele tem que instalar meu microgerador de energia cinética. Depois, sim...

Pink olhou Pereira admirada, “quem diria”, pensou.

--- Ok, vou deixar o mano aqui cuidar de você. Daí, quem sabe...

Gomez, aliviado, mijava enquanto rezava o terço baixinho.

beco futurista


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