AS CRÔNICAS FANTÁSTICAS DO IMPÉRIO ALMEIDA III–ABORTO EM MARTE.


ABORTO COSMICO

Em marte, Mariana abortou.

Sentiu um líquido quente escorrer entre suas pernas, junto com algo sólido, todo retorcido.

O feto, já com 04 meses, saiu com a boca aberta num grito de desespero genético de metal e carne.

Mariana, exausta, desmaiou.

Mark I, teve uma sucessão de pensamentos paradoxais. Primeiro o horror. Depois conseguiu ver algo bom naquilo.

Ele não era mutante. Era fértil. Daí seu verdadeiro sorriso. Mas chorava lágrimas de verdade. Alegria, era o que sentia. Decidiu procurar vestígios de Martinium do Feto. Moldou a matéria e construí um retrogerador de metal translúcido e o encheu de gel sensível para escanear e monitorar o resultado do aborto de Mariana. Enclausurou lá o natimorto para futuras pesquisas.

Pois Mariana poderia conservar sua humanidade.

Havia algo verdadeiro e humano nele afinal de contas.

A fertilidade, algo que, sub-repticiamente, buscara ao dar-se conta da necessidade dramática evolutiva a qual fora submetido, afinal não o abandonara. Era, de um jeito ou de outro, uma forma de vida plena.

E amava Mariana do jeito que era, não gostava ao todo da ideia de torna-la uma igual.

Nunca ficara satisfeito com a calistenia sexual de seus bonecos em eternos loops de Kama-Sutra high-tech.

Mas o sorriso desmanchou-se ao ver o grito de horror na cara do feto e o corpo de Mariana esvaindo-se em sangue.

Não.Não.Não.Não.Não.Não.Não.Não.Não.

Reagiu rápido.

Com um pensamento, inseriu parte do Martinium que extraíra do feto no ferimento do Primeiro Piloto, curando-provisoriamente e induzindo-o ao coma. Precisaria operá-lo assim para uma cura completa, era caso de regeneração celular, e Mark I, consciência desviada pela atenção à Mariana, temia que Musk II tivesse levado para a morte o segredo desta tecnologia.

Com outro movimento, dividiu um nanofragmento de Martinium construiu um nanochip coagulante e enxertou o implante em Mariana.

O sangue estancou imediatamente.

--- Por enquanto, estão salvos, disse para Tainá. Mas ela também precisa de cuidados. Por favor nos ajude.

Tainá estava atônita. Depois ficou em choque. Então finalmente gritou, correu até o banheiro da enfermaria e se trancou. Vomitava. A catarse fora demais para seu espírito fragilizado pela derrota em Titânia.

Chorou, não conseguia mais segurar o pranto. Havia ido muito além de seus limites, e havia muito mais para enfrentar. Chorava quando pensava nisso, uma tristeza que se misturava com inconformismo e finalmente raiva.

Chorava convulsivamente agora.

A tecnoxamã engoliu berros e lágrimas.

Tinha que recompor-se. Estava em uma situação onde cada nervo seu tinha que estar a postos e não derretidos em sal e agua.

Sim, ficara perplexa diante da explosão de neutrinos a sua frente, quando da aparição da energia que abrira o portal no espaço-tempo para a dramática entrada de Mariana e Mark I na enfermaria do Náutilos.

NEUTRINOS

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