OS AMORES CRIMINOSOS–PASSAGEIROS DO TINDER

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Foi a noite mais louca da minha vida. E sou um cara que, lidando com cargas ilícitas de paraísos artificiais para públicos de alto nível, pode se gabar de já ter visto de tudo, se você pode me entender. Mas não vi o rosto do amor. Nunca. A não ser da maneira que passo a relatar para vocês.

Sempre fui um cara dedicado à minhas atividades criminosas... Nunca me interessei por redes sociais, muito menos por aplicativos amorosos. Tinder, nem pensar. Que é isso, cara, tá me achando sem approach. Até que, depois de seis meses de separação, sem nem sombra de sexo, que já, no casamento, não era bom e escasso, decidi instalar e usar.

Separação, uma bomba. Inamistosa prá cacete, não podia arriscar a me encontrar com nenhuma garota na minha cidade, negócios escusos e mulher com segredos na ponta da língua... Escolhi a cidade mais próxima. Meti meus dados conforme solicitado e lasquei brasa.... Match. Julia. Pedi prá mandar foto da hora mandou. Gata. Mignon, olhos claros, cabelos pretos. Pediu pra eu mandar, mandei, gostou. Conversamos um pouco. Ela disse que gostava de coroas. Não me disse a idade. Fiquei curioso. Falou que só me dizia pessoalmente. Comecei a ficar tarado aí. E foi exatamente aí que comecei a me foder.

Porque marquei um jantar na cidade dela já ereto. O que posso dizer, se vc é homem sabe senão, bem, tente entender um alienígena implantado em sua cintura... Ou imagine a carência de domingo na hora do futebol, pois é... Multiplicada por meses, anos.... E vc tem o meu estado exato, seja você, meu leitor homem, mulher ou de qualquer outra opção sexual.

E fui, como não. Fui sim. Ela estava deslumbrante, jeans e tomara que caia, salto alto. Perfume francês, fino trato e tal. Eu também tenho as minhas manhas e mando bem na etiqueta. Nos demos bem. Muito bem. Bem demais. No final do jantar, estávamos coladinhos. Não me lembro se quem propôs o motel foi eu ou ela, mas ela definitivamente escolheu o lugar.

Não bebi durante o jantar. Tá, minto, bebi um drink, mojito. Um só. Precisava voltar pra minha cidade, não precisava. Então. Ela, ela detonou uns quatro, e umas boas cafungadas... Gostava de um pó. Dava prá perceber.

Mas, bem, lá fomos nós pro tal lugar. Escondido, sombrio, no meio de uma curva sinistra e perigosa da estrada. Muquifo total. Estranhei, mas, bem, ela estava com a mão no lugar certo e entrei no inferno com um sorriso no rosto.

Abracei-a, ela não parava de gemer e dizer que casava com um coroa como eu. Era carinhosa, guiava minha mão para seus lugares prediletos, guiava tudo com gulosa precisão, fingia, claro. Mas gostava do trabalho. Tanto que me fez derreter nela... Até o fôlego acabar e o coração reclamar descanso.

Disse pra ela que precisava tomar fôlego.

--- Porque não toma um banho... sugeriu.

Fui. No banho, fiquei pensando na cidade em que estava. Boa para turismo, boa para negócios. Quanto será que se cobrava por um bom quilo de verde nessas quebradas... Ela tinha usado um monte de bagulho, branco e verde, no quarto, talvez soubesse algo... Era louquinha, dava prá sacar. Eu estava com contatos que traziam chá do Paraguai, na segurança e discrição.

Mas onde estava baseado o mercado já estava saturado e a polícia atenta. Precisava de novos mercados. Disse meio de soslaio prá mina, Julia, era seu nome. Ela gostou, era mulher de malandro, dava prá sacar. Patrícia feroz, tá ligado... Enxuguei o Mariguela e decidi abrir o jogo com a gata. Voltei pro quarto.

Porra. Tava lá um cara, berro ostensivamente escondido na calça.

--- E aí, quebrada... Gostou do bagulho – apontou Julia. – Seiscentas Pilas, patrão. Ou tua cara na internet.

--- Pode postar cabeça. Não tenho ninguém pra me fazer passar vergonha, otário.

Ele coça o berro, mas gostou da minha ousadia.

--- Quebrada, não quero azeitornar tua cara. Tu tem peito. Mas comeu minha mina. Seiscentão tu paga – disse o cafetão enquanto deletava o vídeo.

--- Julia, tu não falou nada, e sabe que só uso cartão. Tenho medo de assalto. Fala prá ele....

-- Quebrada, libera a chave do carro e a gente passa no caixa eletrônico.

Isso e sequestro, prá mim era a mesma coisa. Hesitei. Ouvi uma porta abrindo e batendo. Outro cara entrou. A porta de novo, outra mina.

--- Caralho, parsa, me deram a chave do quarto do golpe – fala o cara novo.

--- Julia! Vc sabia que chegou uma escama de peixe da boa lá no CEAB – a mina vai pra Julia e conversam como se nada estivesse acontecendo.

--- Nada não, parsa, o quebrada aqui vai leva nóis num passeio pro caixa eletrônico....

--- Peraí, primo.... – eu disse num momento de inspiração --- que tá rolando de bom aqui com o chegado e a gata...

--- Tamo na onda da farra, da suruba, uh-uh- o cara novo não se contem.

A garota nova aponta para mim. Julia dá uma risada insana. O cafetão gira os olhos. Eu vejo uma luz em meio a escuridão. Os caras são tarados por orgia.

--- Porra, camarada, se tu deixar eu banco esta parada... Vamos ficar doidões... Já tô no clima – agarro Julia e começo a lambê-la na presença de todos. Me bota na tua, parceiro que eu te boto na minha.

Com movimentos suaves, retiro do bolso falso da calça minha amostra de maconha paraguaia.

Ofereço. Aceitam. Bolam. Fumam. Curtem. Me olham com respeito.

--- Quebrada, vamos fazer o seguinte. Tu é dos nossos. Tu não tem grana viva que eu sei, mas tu tem cartão.

--- Passo no que vc quiser, primo. Só faz circular minha mercadoria na tua praça, falou.

--- Firmeza – e sacou o telefone.

Em minutos uma farmacopeia de drogas estava a disposição dos caras. E muita bebida. Sei porque os drinks, quem pagou foi eu. Fui no back , cerveja e funguei algumas. O máximo de lucidez era minha vantagem. Eles no speedball e no cristal. Loucos. Esfregando-se de roupa, sem roupa, buscando prazer sem nunca ter. Eu recusei transas. Disse que era voyer.

Me concentrei em Julia. Ela não sabia onde estava. Perguntei se queria seu homem. Ela disse que não. Ótimo. Apesar de tudo, sei lá porque gostei dela. Quero ela prá mim. Mas ela é de outro. Então só tem um jeito.]

Fui ao encontro de seu cafetão. Ofereci Julia, a mulher languida e desfalecida. Ele apalpou-a, caiu com ela. Sorriu para mim, apoiou-se em mim, bobeou. Aproveitei e arranquei seu revolver.

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Ele nem notou. Depois viu. Riu. Riu enquanto disparei e estourei seus miolos. Os outros riram.

Peguei Julia em meio as risadas e zarpei de lá. O dono do motel tentou me parar. Apontei a arma prá ele. Falei meu código do crime. O cara gelou e abriu o portão. Vazei.

O sol raiava quando parei o carro num ponto para turistas na estrada. Comprei Coca Cola e Batatas Fritas. Ofereci pra ela. Beijei-a. Estapeei-a. Beijei-a de novo. Acordou. Me viu e sorriu.

Mas perguntou onde estava seu gigolô. Disse que não estava mais neste mundo. Que era só eu e ela. Perguntei se ela realmente ficaria com um coroa como eu.

--- Você realmente esfriou o Maioral.

--- Definitivamente. Mostrei o revolver que pertenceu ao cara – sou assassino no crime e nunca erro, gata.

--- Pssss... Só me abrace então.]

Abracei-a.

E ela sussurrou baixinho em meu ouvido.

--- Eu te amo....

E nunca mais encarei o crime, o pecado e a morte do mesmo jeito.

Havia encontrado meu Match.

E Tudo tinha o gosto sagrado do Amor.

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