AMORES CRIMINOSOS–O ATENTADO AO PRESIDENTE PARTE I

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Graças ao Diabo está frio. Posso usar um capuz de motoqueiro que só mostra os olhos que os óculos escuros baratos escondem enquanto examino e analiso as melhores possibilidades para um bom assassinato.
Cidadezinha de merda, só ia receber uma ferrovia por atenção política.
Era óbvio. Não tinha nada naquela merda, a não ser coligações riquíssimas. Gente de nome e sobrenome. O que não tinha de indústrias aquela merda, tinha de plantações. Imensos mares de cana de açúcar, usinas operando 24 horas espalhando metano no ar e treminhões na estrada.
Vi um senhorzinho muito velho cuspir ao passar um treminhão com seu rugido e sua onda de vento.
---- Os filhos da Cana. O solo sofre, o solo me sustentou e agora estou sem nada...
Puxei uma nota de cinco para ele. Ele viu, sorriu e recusou.
--- Tava falando de terra prá plantar, filho. Dinheiro eu tenho e não sei prá que usar...
Loucura. Quem não tem dinheiro sabe exatamente o que quer fazer com ele. Deixei o velho fumando um cigarro de palha, o olhar perdido, como os que tem catarata, sonhando num tempo onde tinha chuchu na sua cerca, sei lá.
Os arredores da ferrovia não tinha sequer um prédio de três andares. O máximo eram sobradões prá lá de centenários, janelões expondo gordos de camisa polo com grossas listras horizontais e matronas posudas com vestidos estampados e bolsas vistosas. Todos fazendo-se de importante para o dia de hoje. O dia da visita do Presidente. E, se meu talento me ajudasse, o dia de sua morte. Porque simplesmente não havia câmeras de segurança. Qualquer testemunha teria que ser ocular. Nada de vigilância eletrônica. Fico feliz com isto.
Pois ia precisar de muito talento. Não poderia usar meu rifle. Não havia distância ideal. Teria que ser na pistola. Meia distância, dois tiros, um pro alvo, outro pro alto. Sem erro no tiro do alvo. Abrir caminho no meio da multidão a bala, se necessário. Isto é com Júlia.
A rua da nova estação era estreita, asfalto cobrindo antigas pedras de paralelepípedo. Não houve alargamento. Do outro lado, o mais próximo possível, Julia teria que estar com o carro. E com uma arma.
Caso me perseguissem, ela tinha que meter fogo em tudo o que se movesse. Matar, se necessário. Não teria outro jeito. Gente da lei hesita em matar. Gente do crime não pode se dar este luxo. Não dá prá pagar pau e deixar neguinho vivo prá reagir e te reconhecer. Refiz o caminho até ela e dei o sinal.
Ela simulou sacar a arma, sorriu e puxou um gatilho imaginário.
“Você consegue, amor... Nós conseguimos.” Parecia me dizer. Mas era cedo. Chegamos antes da própria segurança oficial. Muita coisa ia rolar, certeza. E me sentia exposto. Fui até o carro:
--- Você já sabe, né, Jú?
--- Quando ouvir o segundo tiro, saco o berro e mando bala em quem estiver na frente.
--- Sem dó?
--- Sem dó!
--- Se tiver que matar....
--- Mato.
--- Temos que fugir, não importa como e vou ter que atirar no meio da mulidão, não tem jeito. Vai ter que parecer um atentado. Bobear viramos terroristas....
--- Se der tesão, tá valendo...
--- Sério, Júlia.
--- Peter, calaboca. Não tem nada sério nesse nosso mundo. Se tivesse não estaríamos aqui.
--- Onde estaríamos.
--- Nem imagino. Só imagino o cara que vai subir naquele palanque ali mortinho da silva. Pode ser?
--- Ok. Vamos repassar de novo o plano.
--- Ok. Repassa o plano que eu vou dormir. Só acordo com os tiros.
E, em instantes, Julia estava ressonando. Suspirei. Ela tinha esta habilidade. Dormir profundamente quando queria. E só acordava quando queria. E eu sabia exatamente a hora em que acordaria. Segundo fucking tiro. Entrei no carro e me acomodei ao seu lado. Cochilei.
Acordei com o barulho de martelos. Estavam reforçando o palanque. Montes de Arapongas circulando, gente se achegando, vendedores ambulantes, cartazes, faixas, vida e movimento. Ia chegar a hora. Espreguicei-me, retirei do coldre a 765 conferi o pente. Regulei para manual, confiando na rapidez de meu dedo. Não queria que a arma travasse uma vez que dependia de uma saraivada de tiros pra atingir meu alvo e para abrir caminho pela multidão.
Sai do carro, e posicionei-me. Julia dormia.
Foi exatamente quando soou o segundo tiro que Julia despertou totalmente atenta, pistola na mão, pronta para tudo.
Porém o que viu deixou-a apavorada....

































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