AS CRÔNICAS FANTÁSTICAS DO IMPERIO ALMEIDA– DE ESMAGADORES DE CULHÕES E ESPERANÇAS

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Ah, então é assim... Força, vigor, lucidez, rapidez de raciocínio elevados ao sobrehumano. Que nenhum homem se pusesse contra ele. Mas mulheres, isso era outra coisa, sua fraqueza... Não podia possui-las, passou a ama-las como se Alessandro Soares Almeida fosse uma. Com a gestão de Alessandro, as CIA Almeida tornaram-se patrocinadoras de inúmeros grupos de empoderamento feminino. Muitas vezes Alessandro ia pessoalmente, e de surpresa visitar as reuniões.

Lá, nenhuma das inúmeras mulheres que enfrentam a miséria humana masculina reparou que um velho babava e que sua mão tremia em cima da cintura a cada uma que contava sua história. Alessandro sentia nojo de sua decrepitude, sua impotência, essa debilidade senil que lhe impossibilitava fazer valer a honra de sua masculinidade como paradigma de amor para aquelas criaturas sofridas.

Nojo do vigor que corria a mil por hora em seu sangue jovem, contido pela decrepitude induzida de suas veias e artérias. Nojo do que faziam com aquelas mulheres, que, agora percebia, era feito com o mais fraco, com ele inclusive. Uma equação simples e singela e tão poderosa que produzia todo o sofrimento da face da Terra. O mais fraco sempre se fode para o mais forte gozar.

E a humanidade gozava insanamente, reproduzia-se a velocidade da luz, não se importava com nada. Qual o que... Do “Crescei e Multiplicai-vos”, ninguém cresceu. Todos eram crianças com ganas e talentos sexuais precocemente desenvolvidos e confundidos com o discernimento necessário para encarar a longa jornada de profissionalização sistêmica que o animal humano era submetido. Alessandro achava ridículo as palavras estudo, faculdade, diploma para algo que iria treinar alguém para ser um “animal profissional altamente capacitado” com direito a canudo e carimbo do governo.

Mesmo que fosse um simples curso de pedreiro.

O resultado estava vendo por si só, nas marcas, rugas e lágrimas das mulheres cujos maridos, esses sacanas, consideravam excrescência do sistema. E tratavam-nas como capacho. Via a revolta, a dor, a humilhação, o nojo. Principalmente o nojo.

Sabia como acabar com isso. Claro que sim, como não? Porém fosse falar em admitir executivas com o mesmo salário de executivos, ou promover a talentosa mas feiosa assistente administrativa ao invés do meio neurônio, mas leal puxa-saco auxiliar de escritório para seus acionistas. Vá lá você explicar que 30 horas de trabalho produtivo era mais lucrativo que 40 horas de presença física não produtiva. Fosse lá, com planilhas, números e dividendos multiplicados com estas simples práticas administrativas e você veria... O nojo e o horror vestindo terno e gravata.

A personificação do Sistema.

O Sistema. O auto esmurramento de culhões que qualquer profissão exigia, como se o profissional moderno usasse um cinto de castidade durante o horário comercial e o jogasse fora depois do expediente. E daí, valia tudo e todo mundo era ninguém e de ninguém.

Taí, o resultado. Naquelas mulheres frágeis algumas com crianças de olhos absortos em abandono, todos sonhando com esperanças sob o beneplácito dele, Alessandro Soares Almeida, a que todos julgavam Afonso Soares de Almeida, subitamente um defensor da causa feminina. Assíduo frequentador de vários grupos de empoderamento e conscientização da mulher.

Ah, se soubessem... Aquelas criaturas, de seu sofrimento, seus sentimentos...

Como tinham coragem de expor suas fraquezas assim tão abertamente? Do que se libertavam com isto? Quando abraçavam-se ao final das reuniões voltavam para seus quartos e sentiam-se sós e fudidas? Como realmente estavam quando toda a pompa e dignidade que suas posturas construídas para a reunião da noite desmoronavam-se sob o peso da realidade?

Porque o sistema continuaria produzindo seres fortes infelizes, raivosos, confusos e com os culhões triturados. E em quem irão descontar? Nos mais frágeis. Em seres como elas. Como ele. E isso Alessandro não podia permitir.

E uma noite, em plena reunião com suas amadas, as luzes piscam. Apagam. Gritos e Risos. Ninguém podia ver nada.

Menos Alessandro... Sentiu-se fervendo, podia imaginar a ebulição em suas veias, as bolhas arrebentando na corrente sanguínea, cada vez mais rápidas, estourando, explodindo, mais rápido, explodindo; rápido, mais, estouro!

Desfalecimento do Espírito.

Alessandro está a beira de um véu de noiva.... Em ebulição, fervente e terroso, seu próprio sangue. Chamando-o... uma voz, por trás da cachoeira, na caverna... lá na escuridão onde brilha o rosto marcado por rugas inexplicavelmente visíveis. Muito visíveis. Chamando-o, as vozes, as rugas, a visão, a cachoeira, o nada e o mergulho. A dor insuportável dura apenas pelo momento em que Alessandro verifica que tudo aquilo é sonho, imaterial, indolor.

E anda rumo à caverna, atravessa o véu d’agua, penetra na escuridão. Rumo a voz, as rugas, o rosto. Que se revela uma anciã. Indatável. Ela lhe sorri e por um minuto ela parece ter vinte anos. E as rugas transformam-se em dados.

Equações, uma fórmula, um arcabouço físico molecular que, caso encaixado em um modelo matemático e químico adequado, produziria a regeneração celular de que Alessandro necessitava. Os números brilhavam e se apagavam em sua mente. Tanto que era impossível defini-los. Mas sim anotá-los. Precisava destes dados, das rugas, do rosto, da anciã, do conhecimento...

--- Para tudo tem um jeito Alessandro, basta esperar.... E tem gente esperando você...

A Asessora! Mas era outra voz. Suave, velha, muito, muito velha, e ainda assim, cristalina, limpa e água.

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---- Mas estes dados estão congelados. Selados. Na capsula criogênica impenetrável do pai.

E a voz suspirou, morrendo aos poucos nos fundos de sua mente.

Há mais de um caminho para tudo... para tudo. Este é só um...

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A reunião, o real, sua cadeira de rodas, a velhice, e as primeiras linhas da fórmula da juventude em seu cérebro.

Levou a cadeira até a mesa do café, pegou a caneta, anotou os números uma vez, depois outra e mais outra e outra. Até que os guardanapos de papel tornarem-se farrapos em suas mãos. Mas os números lá estavam. Limpos, puros, cristalinos. Prontos para o laboratório.

--- Eureka! – Gritou.

E quando gritou, Alessandro levantou-se da cadeira. Desequilibrou-se, caiu.

A líder do grupo socorreu-o. Alessandro ria e rolava no chão, derrubou-a. Alessandro segurou seu rosto, beijou seus lábios.

--- Eureka, baby! Tradição da ciência, precisamos respeitar... e ria. Mas o grupo permaneceu em silêncio.

Menos a mais jovem que sorriu, riu e depois gargalhou. Seguida pela líder, e por todas....

--- Não sei que tradição é essa, Sr. Afonso, mas se for tão divertida quanto parece, espero que lhe traga muitos frutos.

E beijou-lhe demoradamente os lábios. Quando acabou, beijou a testa de Alessandro atônito, que, mesmo sabendo a líder ser uma mulher de 39 anos, via a anciã, aquelas rugas encantadoras cantando para ele....

Alessandro sorriu desnorteado. Voltou para sua cadeira de rodas, sentou-se e saiu. Algo uivava em sua cabeça, algo que se revelava no raio e se escondia nas sombras, algo mais que a fórmula que tinha nas mãos... Algo forte e ancestral que escapara para o mundo e o tomara, revolvia-se dentro dele, arranhava e alisava. Algo que não se encaixava em nenhum padrão conhecido por Alessandro. E isso era bom. Lá fora chovia.

Alessandro não se importou em proteger sua careca grisalha com o chapelão Panamá.

Hoje a chuva era um batismo. Em suas mãos, tinha certeza, a fórmula da regeneração celular descoberta pelo pai. O espírito selvagem o impulsionava, sempre em frente e para o alto.

Em seu sexo, um comichão.

Alessandro chamou-o de esperança...

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