OS AMORES CRIMINOSOS–DE SADISMO E VINGANÇA–OS PLANOS DO DETETIVE SERGIO

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Quando viu Peter sair, teve certeza. Era o mesmo cara. O detetive Sergio tinha visto apenas um vislumbre de seu rosto no dia em que mataram sua família. Uma face no meio das árvores. Nada muito claro, o choque impedia focar a imagem.
A promotoria não achou esse vislumbre sólido o suficiente para montar uma dispendiosa operação de busca e prisão de um tarimbado executor da máfia, “em dois minutos o cara tá fora e o estado jogou sua grana fora”.
O que a promotoria não entendia é que ele não precisava de dois minutos. Queria o tempo suficiente para um apontar e atirar. Dois segundos no máximo. Dinheiro do estado no bolso do cidadão, justiça feita: sua vida, que o filho de uma vadia destruiu pela sua morte. Poético até.
Mas, quando viu Peter saindo do hotel, o tempo congelou e acelerou ao mesmo tempo para o detetive Sergio. E os dois segundos foram-se embora sem que tivesse tempo de sacar sua arma de serviço. O transe foi-se, Peter também. Teria que ficar de tocaia até a volta de seu alvo, para executar seu plano.
Tremia ao lembrar. Não era um sádico, mas queria que o executor sofresse. Ficou meses arrochando informantes e prestando atenção em crimes feitos profissionalmente em cidades insólitas, perdidas nos confins do país. Ambos diziam a mesma coisa.
Tratava-se do casal criminoso pop do momento que toda a bandidagem acreditava ter matado o presidente e, por respeito, silenciava. Apenas o vício feroz de T falava, embora fosse nítido que todos os escrotos e malandros sabiam. E se T estivesse certo, seu alvo tinha um ponto fraco. Sua cara metade, a tal Júlia, uma louca com longa ficha de prostituição e pequenos delitos morais. Perfil de desequilibrada. Mas gostavam-se. “Amor bandido pra caralho, figura” – vaticinava T.
Para Sergio bastava. Iria matar Júlia primeiro. Depois Peter. Queria ver o sofrimento na cara do sujeito. Queria que a última imagem que seu inimigo levasse pro inferno fosse a da sua amada morta. Como ele levaria a de sua esposa e filhos. Justo o suficiente.
E então, não me sai Júlia, batendo os saltos com a fúria típica da mulher traída. Não levava bagagem, o que era bom. Não iam mudar de base. Mas caminhava determinada, trajetória firme e rumo traçado. Iria para onde estava Peter, isso era certeza.
Sergio tremeu. Seria forte o suficiente para matar essa mulher? Afinal, era inocente, apenas um instrumento, um capricho, um gosto a mais em sua vingança... Mas pior fora sua família, não é mesmo, apanhada na linha de fogo, sem que o executor nem se importasse... – diz a voz que o domina desde que tivera a ideia de incluir Julia em sua vingança...
“Inocente – diz a voz – “ Veja como anda a gostosa, convidando todos os seres vivos do planeta à visitar suas coxas... e vc diz inocente” “Você fica excitado, Sergio, é isso?”.
E, difícil, admitir, toda a tensão do conflito deixara o detetive ligadaço em Julia. Uma síndrome de Berlim ao contrário, Sergio não sabia explicar, mas não raro tinha ereções pensando nela. Então suas opções ficavam claras. Ou matava ou trepava. Ou os dois...
E foi assim que soube que não era, há muito tempo o cara normal que sempre fora, e que todos pensavam que ainda era.
E pensava nisto quando ela passou junto ao carro. “Ah, não, de novo não, violão”, pensou o detetive.
E então agiu rápido.

Abriu a porta do carro com um pontapé atingindo Julia em cheio. Ela caiu na calçada e levantou a cabeça indignada, já armando uma torrente de xingos, o corpo preparado para uma ação violenta, apenas para encontrar uma coronha de revolver descendo com tudo em sua cabeça. Atinge-a em cheio. Ela apaga.
Sergio a revista, retira seu celular. Uma localização pisca na tela. “a filha da puta tá rastreando o sujeito, meu deus, isso não podia ser melhor”.
Quase assobiando, arrasta Julia inconsciente até o carro e a ajeita no banco do passageiro. Passa as mãos em suas coxas.
--- Não se incomode, querida, estamos indo apanhar seu namorado.

picokiller

















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