CRONICAS FANTASTICAS DO IMPERIO ALMEIDA–FINAL O ULTIMO SUSPIRO DO CURPIRA APAIXONADO

Jarvis Robson estava a mil por hora, falando com vários membros da segurança, imprensa e CEOs de outras empresas interessadas em investir na tecnologia dos caminhões cinéticos Almeida quando ouviu o estrondo do laser.

Todos ouviram e se calaram.

E ele viu, da saída de emergência Mariana resgatar o velho e se aproximar.

Também viu um cara num uniforme da Stark-Almeida Inc sair das sombras com uma pistola phaser semiautomática. Seu rosto tremulou por um instante. Depois assumiu uma forma que era conhecida de Robson.

Ele reconheceu o presidente em exercício.

Pensou em alertar o segurança mais próximo.

Mas, percebeu que era inútil. O segurança não chegaria a tempo.

Por reflexo, sem pensar, desatou a correr em direção ao presidente em exercício.

“Rururororara” – pensava o presidente em exercício enquanto se aproximava com o rosto tremulante, pistola nas mãos de Almeida e Mariana.

A mira estava travada bem na cabeça da garota. Ia puxar o gatilho em 3,2,1..

PLUMKT, PLakT

ZUM, Jarvis Robson interceptou sua trajetória agarrando suas pernas. Os dois rolaram pelo chão.

A arma escapou das mãos do presidente em exercício, rolou pelo palco onde estavam e caiu no meio da multidão de famílias de caminhoneiros e visitantes que fugiam desesperados enquanto o laser de Ajax incendiava o palco.

O presidente em exercício, furioso, mordeu o nariz de Jarvis Robson. Este reagiu com um soco no rosto de martinium do vilão.

O metal estalou no punho delicado do Relações Públicas de Primeira Ordem. A dor lhe fez recuar. O presidente em exercício aproveitou-se do vacilo, mordeu-lhe a orelha. Os dentes lambidos pelas chamas que começavam a os cercar.

Robson urrou de dor.

Tomou um murro no estômago.

O ar escapou-lhe dos pulmões. Ajoelhou-se, mas conseguiu agarrar as pernas do presidente em exercício.

Em vão. O homem simplesmente chutou-lhe o saco e desvencilhou-se deixando-o retorcendo-se de dor.

O presidente em exercício riu ao ver que o laser de Ajax havia encontrado a estrutura elétrica motriz do Feirão Almeida.

“Linda explosão” pensou enquanto fugia, pulando do palco, rumo a multidão, onde manipulou o rosto de Martinium e tornou-se um Zé Ninguém.

Um a mais no meio da multidão apavorada que fugia do rastro das explosões que mandavam para os ares a frota de caminhões cinéticos Almeida.

--- SEGUNDOS ANTES –

Mariana dirigia a cadeira de rodas com mais comandos que um cruzador de batalha sideral na velocidade máxima.

O Dr. A. em seu colo, acionou o comando WarpthisShitUp em seu cibertwatch com sistema operacional em código livre Almeida.

No instante seguinte foram teletransportados para a base estratégica do sintozoide em Fobos.

Mariana não suportou o impacto da teletransportação em movimento. Vomitou nas costas do velho.

Ele não mostrou nenhuma reação. O corpo estava vazio.

Havia migrado sua consciência para o corpo sintozoide e agora pairava no ar diante de Mariana. Contemplava-a fascinado.

Esquecera-se da fragilidade humana.

Embeveceu-se com Mariana. Ficou lá parado, como um parvo, observando-a desapaixonadamente, porém desejando-a de uma maneira que sua consciência inumana não poderia definir. Havia um hiato entre ele e ela. Algo que a vida nunca permitiria preencher. A morte... Bem... Ele teria que superá-la para conseguir Mariana de volta.

Olhou para o cérebro que flutuava em gel de nanodados verde e brilhante, todo plugado em eletrodos e chips de direcionamento subconsciente dentro de um cristal de Murano moldável, tudo devidamente conectado num energizador portátil.

O cérebro de Afonso Soares de Almeida fora nele preservado para laboriosos e meticulosos estudos sobre a obssessão e o desejo de recompensa humanos.

Mark I julgou e decidiu ser necessário eliminar seu alter ego.

Porém, não conseguiu o fazer.

Não completamente...

Preferiu preservar o que mais gostava no homem. Desta maneira resolvia os incômodos sentimentos dúbios que nutria por aquele sacana ancião mumuficado em Nitrogênio Líquido.

Ao seu corpo, lixo. Comida para os cães robóticos que infestavam os canis beneficentes de Mariana.

O cérebro preservara.

Fez seus sonhos felizes!

Só porque podia...

Quase como Musk.

Quase...

Um dia o superaria.

O sintozoide estava perdido nessas divagações quando Mariana acordou e deparou-se com o grande espaço que continha o laboratório WarpthiShitUp em Fobos.

Deu de cara com o cérebro.

O sintoizoide a dois palmos dela.

O corpo inerte e inconsciente do Dr. A, outrora ocupado por Mark I tombou em seu ombro.

Ela gritou de susto.

Caiu no chão, rolou, ficou de cócoras.

Com um rápido golpe de olhar memorizou onde ficava cada coisa do laboratório. Sacou a faca escondida no bolso secreto do vestido de gala que estava usando para o Feirão Olenski e encarou o sintozoide.

Ele girou a cabeça, depois o corpo. O rosto esforçando-se por sorrir, porém, os resultados eram tão patéticos que se tornaram aterrorizantes tremulares de falsos dentes.

Mariana não esperou mais.

Lançou a faca em direção ao sintozoide.

Rolou novamente. Desapareceu nas sombras.

Ele ficou lá observando a trajetória da lâmina, aproximando-se cada vez mais de seu tórax.

Depois moldou seu corpo de maneira que a lâmina o atravessasse.

“PQP!!!” Que porra é essa. Eu não fico aqui nem por um cacete”, pensou a jovem. E disparou a correr novamente.

Mariana correu em direção a uma porta.

Um olho no padre outro na missa.

O sintozoide a observava sem dizer absolutamente nada. Apenas franzia o cenho. Ela arrepiou-se com aquilo.

Acionou um botão. A porta abriu.

Luz. Um corredor. Outra porta.

Antes que o sintozoide piscasse, ela se mandou.

Não chegou sequer a dar dois passos no corredor.

Mark I, materializou-se a sua frente. Estendeu a mão. Alterou sua densidade e massa molecular. A mão deslizou por entre os cabelos de Mariana, que, esgotada pela súbita explosão de sucessivas descargas de adrenalina e horror, não esboçou reação.

--- Mariana, meu amor...

Ela olhou a criatura no fundo dos olhos. O toque lhe deu arrepios lisérgicos. Reconheceu-os. Viu por um nanosegundo a trajetória de Mark I. rewind-fowawrd-rewindplay – MESMA COISA na cabeça dele. Rá rá rá rá rá.

Pirante.

“Cai fora, cara, tchau”. Pensou Mariana, preferindo a lucidez à loucura induzida pela criatura que, não ia negar, disparava-lhe o coração, mas agora era mais agradável, ela não entendia, mas era assim.

Sacudiu a cabeça, expulsou o metavirus que Mark I tentara implantar nela. Mas era tarde demais.

Haviam se conectado.

E tinha algo dela mesma neles, nos pensamentos dele, mas era distorcido, como um espelho que refratasse uma imagem ao invés de refleti-la.

O resultado era uma imagem opaca e distorcida de alguém humano que, em outra vida, em outros tempos, lhe roubara um pedaço do coração.

--- Você?! – E tentou agarrar a mão da criatura. Mark I permitiu o gesto e deram-se as mãos. Mariana examinava a textura irreal daquelas mãos, incrédula, extasiada, mas assustada e alerta.

As mãos de Mark I não tinham nenhuma linha, nenhuma expressão, como se nelas não houvesse vida. Eram mãos estranhas, nem máquina, nem orgânicas, nem sobrenaturais. Algo metafísico, sem dúvida, porém com um estranho sentimento de dejavù agradável que a moça não conseguia evitar.

--- Martinium. Moldado em linguagem alfa-octaedrica. A sua linguagem, dança e neurotrips transformadas em códigos, este corpo, minha composição. Lembra, amor, quando eu compunha baladas e você dançava? – perguntou Mark I sintetizando a voz do compositor popular que outrora Mariana amara.

--- Marc... – Mark I calou gentilmente a boca de Mariana com um beijo. Depois afastou-se rapidamente.

--- Não fale esse nome! Por favor me chame de Mark.

--- Mas que absurdo é esse, tanto faz. Você é o que você é. Um nome ou outro, que porra de diferença faz? Olhe para você!O que você se tornou? O que você pensa que é. Venha cá! Já!

E sem esperar resposta, arrastando um Mark I totalmente atônito pela orelha, Voltou para o laboratório.

Apontou para o cérebro vivo do Dr. A.

--- Que porra de pessoa com ou sem nome faz um treco desse para outra, diga para mim, seu filho da puta, seja lá quem você for. Meu amor era um esteta. Isso é bizarro. Doentio – parou para respirar, depois lascou – Nome, vc diz... O que você faz é indigno do nome dele, do meu antigo amor...

--- Ele está sonhando com o que mais gosta. Atingiu o paraíso. Não é isso o objetivo de todas as religiões? Não e isso o sentido da vida humana, atingir a felicidade no nível mais pleno possível!? Garanto-lhe que ele está no lugar onde queria estar num aqui e agora determinado exclusivamente por sua consciência e absolutamente inacessível para qualquer outro ser humano. Menos para mim, é claro. O que poderia ser mais próximo da felicidade, na acepção mais bela e terrível desta palavra, minha querida e furiosa defensora da ética humana? Continuo um esteta... Se quiser ver, posso mostrar.

Mariana sente arrepios.

Por dentro está gelada.

Não estava falando com alguém humano. Não estava falando com alguém mal.

Não estava falando com alguém bom.

Estava falando com alguém sem parâmetros, a não ser os dele mesmo.

E sabe-se lá quais eram eles.

Estava num ambiente onde as regras humanas não eram aplicadas.

E sentiu-se culpada, quando percebeu que tudo aquilo que a repugnava e fascinava ao mesmo tempo só pode ser realizado devido a sua cumplicidade.

Fora ela que fornecera, de livre e espontânea vontade os seus segredos, os códigos alfaoctaedricos interdimensionais que possibilitaram a “evolução” de seu amado para aquilo que se chamava Mark I.

Agora só havia um jeito de concertar as coisas. Entrar no jogo da criatura. Um jogo perigoso, pois a duplicidade de sentimentos anômalos que inundavam o interior de Mariana, toldavam sua mente aguçada.

Seguia, neste momento, os gritos de sua intuição, que lhe berravam para ficar perto de Mark I.

“O amor é um vampiro com asas cibernéticas” – pensou Mariana, quando encarou Mark I.

--- Nada disso, Marc, ou seja lá o que vc é, fale-me de seu plano...

--- E no Feirão Almeida....

O Presidente em exercício esbaforia de tanto correr quando alcançou Ajax, num prédio a algumas quadras estratégicas que correra movido a também estratégicas cafungadas.

--- Senhor presidente, meus sensores detectaram neutrinos oriundos de uma explosão warp.

--- Português, Ajax, português, porra!

--- Teletransporte, senhor. A srta. Mariana Olenski e o dr. Afonso Soares de Almeida teletransportaram-se para algum lugar, senhor.

--- Para onde?

--- Dados insuficientes para precisar, senhor.

--- Estimativa?

--- Marte.

--- Justo para lá... Mas o sacana deve estar de conluio com Musk II, outro viado que usa prótese peniana pra poder gozar. Só tem bicha nessa porra de jogo de poder. Eu é que sou a bola da vez. Vamos para Marte, Ajax. Imagino onde podem estar. Amarelaram, os merdas – uma cafungada – mas eu vou os caçar, as se vou.

Vou passar todos no facão. – deu um tapinha na cabeça do robô.

--- E depois no laser, meu velho.

--- Será um prazer, senhor.

E uma risada robótica pré-programada em doppler fez o prazer do presidente em exercício.

Riu a mais não poder.

A dor não mais o incomodava.

Nada mais o incomodava.

A não ser que não detinha o poder.

Ainda.

=== FOBOS – LABORATÓRIOS AVANÇADOS ALMEIDA

Mariana e o sintozoide discutem.

--- Você ficou louco!

--- Inumano talvez. Insano é um conceito que a mim não se aplica.

--- Mas a mim sim. E não sou maluca para topar esse treco. Você quer me transferir para um androide de Martinium para gerar filhos para você fundar uma dinastia doentia onde o poder será assegurado por sua ciberinteligência, que foi desenvolvida com dados que lhe dei num gesto de carinho. E você vai usar isso prá colocar-se como mais um Tirano Sideral. Vai se foder Mark I. Você não é a pessoa que conheci. Você é um peido que se acha deus, cara. Me tira daqui. Já! Me leva de volta prá terra, prefiro me foder com Musk II do que essa essa... sei lá o que. Louco filho da puta. Me leva pra casa, cara, por favor....

Mariana começou a chorar.

Mark I contemplou-a. Furia, tristeza, revolta, desespero, tantas emoções humanas a ser superadas. Apiedou-se de Mariana.

--- Você não entende. Você seria a Tirana. O poder é seu Mariana, sempre foi. Eu sempre fui egoísta. Você não. Nunca conseguiu deixar de por os outros em primeiro lugar. Eu jamais seria capaz de governar e ser digno de você. Mas o contrário, amor.... Isso aqui seria a Utopia...Imagino que deusa insana linda você seria, pense... Porque, para mim, você já é uma deusa...

--- Uma vaca poderosa reprodutora é o que você quer. Me tira daqui, cara, seja o ser humano que um dia amei. Uma última vez... E deixe o Dr. A. em paz... Afinal o que somos pra você, partículas caóticas num caldo quântico qualquer que você manipula... Deixe-nos em...

Mariana não terminou a frase. No instante seguinte estava em Ozark, orbitando o planeta cofre Mercúrio.

Os monitores ganhavam vida.

Mostravam o incêndio no Feirão Almeida.

E, no palco, uma explosão anunciou a chegada de Mark I incorporado no Dr. A.

Teletransportara-se novamente para o centro da tragédia, o Feirão Almeida em chamas altas iluminavam rostos apavorados na TV.

Mariana sacou que, agora segura em sua fortaleza em Mercúrio, a criatura fazia questão de que acompanhasse seus movimentos.

----- FEIRÃO DE CAMINHÕES CINÉTICOS ALMEIDA –

No prédio onde o presidente em exercício posicionara Ajax...

--- Porra Ajax o que é isso agora?

--- Explosão de Neutrinos, senhor, vinda de Marte, Fobos para ser preciso.

--- Os imbecis voltaram, é isso?

--- Não, senhor. Apenas o Dr. Afonso Soares de Almeida, senhor presidente.

--- Porra, Ajax, recarregar e chumbo no homem. Prá ontem, meu filho.

--- Reiniciando laser, senhor. Alvo na mira. Disparo em 30... 29...

O Dr. A. caminhava seguido pela cadeira de rodas com mais comandos que um avião.

Era a primeira vez que o fazia em décadas.

Os repórteres mesmo apavorados, olharam-no atônitos. Os câmaras, automaticamente voltaram-se para ele. Ele sorriu para elas. A cadeira de rodas com mais painéis que um submarino quântico envolveu o corpo do ancião. Tornou-se uma armadura.

--- 20... 19...

Mariana, porém prestava atenção nas famílias que instalara na feira. Gritavam de agonia enquanto buscavam por familiares. Tudo ardia em chamas, faíscas e explosões de caminhões estalavam diante dela, na tela de seus monitores.

O Dr. A. decolou e acionou algum tipo de extintor de incêncio high tech instalado na armadura-cadeira de rodas.

Apagou as chamas. “Filho da puta”, pensou Mariana, “quer mostrar que se importa...”

--- 5... 4... 3...

As pessoas o aplaudiram enquanto as câmeras acompanhavam seu voo. “E fazer seu marketing, cretino”

--- FIRE ACTION!

Foi quando o laser de Ajax o abateu.

E os monitores de Mariana voltaram ao normal.

O presidente em exercício bateu palmas de alegria.

--- Isso, meu filho. Grande garoto. Vamos pegar esse filho da puta traíra do Almeida. Com ele, nem Musk II poderá com a gente. Rururororárá.

O presidente em exercício pulou encima do robô e foram para a rua recolher a armadura que rachara os paralelepípedos da cidade obsoleta onde Almeida inventara de fazer a justiça para os idiotas caminhoneiros. O amor o cegara.

Seu ódio o libertaria e o conduziria para a única verdade que realmente importava. A sua.

----- Mercúrio – Ozark - Bunker de Mariana.

Diante do chuvisco dos seus monitores, Mariana divagava.

No instante em que a imagem mostrou o Dr. A. sendo abatido pelo laser de Ajax ela pensou: “Bem feito”, mas sentiu uma agonia cravar-se no peito. Não sabia bem se por preocupar-se pelo bem estar do exibido sacana que se auto-intitulava Mark I, ou se por si mesma.

Mas tinha que pensar que, agora, todo o poder do sintozoide poderia estar nas mãos do presidente em exercício.

Que, ela sabia, queria-a morta.

E sabe-se lá mais o que aquele demente poderia mais desejar. Ou pior, como uma mente quase infantil e super poderosa como a que seu antigo amado se tornara poderia reagir.

Ou pior ainda. Era realmente o SEU antigo amado, ESSE cara?

E antigo significava ultrapassado, superado ou apenas um tempo passado.

Porque algo parecera não passar, desse antigo amado. Algo que se refletira nos seus anseios pelas visitas do Dr. A. quando ainda acreditava em sua identidade, que aquele homem, que, desde o reencontro na Prisão Tática, mostrara-se não mais um velho tarado babão, mas um gentlemen galante que a encantara.

Precisava pensar. E pensava melhor louca. Teria que apelar. Meta-anfetamina recombinante bipurificada em câmeras de ozônio e acetileno.

E sua intuição dizia que da viagem alucinante sairia um novo código, algo que desse uma luz, pois a sensação de responsabilidade para com algo maior que si mesma, já algo intrínseco dela, havia passado para alerta vermelho.

Ela precisava fazer alguma coisa muito louca para lidar com a situação.

E, depois de injetada a droga, riu-se a valer ao imaginar-se uma techno deusa de Martinium valsando com Mark I a marcha de uma nova raça de seres antes inimagináveis povoando o universo.

Por um instante algo muito seu lhe disse que poderia funcionar.

E ela começou a chorar.

Nenhum humano poderia lidar com a situação. A não ser ela.

Lembrou-se mais uma vez do Dr. A. como, agora tinha certeza, amara-o, carinhosa e assexuadamente, mas sim, amara-o, ainda o amava, o filho da puta...

Velho e alquebrado mesmo...

Frio como um cavalheiro britânico. Mas tão cortês e encantador quanto. Old Fashion Fucking Way. Algo que ela não resisitira. E era Olenski, apesar de tudo, sabia disso. Sempre se consideraram evoluídos, ela, em outro sentido, mais ainda, e agora a perspectiva de tornar-se uma deusa de Martinium, bem...

Em termos egoístas, não era tão mal, agora, devidamente chapada de tão lúcida, a viagem lhe mostrou a epifania necessária para compor os algoritmos lisérgicos para lidar com a situação. Quase surtou, mas aguentou firme.

Resgataria a criatura Mark I, sim, o faria.

Apenas para unir-se a ele. Era o único jeito. Musk II o pedia, sim era o jeito, uma solução final.

E Mariana, em prantos de desespero, e epifanias de prazer, despediu-se de sua humanidade arrebentando o redutor sonoro de seu outrora amado contra as paredes da câmara de ozônio e acetileno.

--- Foda-se, Alice vai pra toca do coelho, mas não de vestido – e riu-se.

Riu-se a valer, enquanto dançava chorando entre monitores em chuviscos sem reparar que as luzes das cosmic web cams tornaram-se operacionais.

Mark I, não estava nem na cópia de Almeida nem no sintozóide. Flutuava em trânsito num tempo onde as palavras não fazem mais do que tirar um instantâneo incompleto de partículas mais rápidas do que a luz.

Tudo funcionara perfeitamente.

Mas não previra o acaso de suas emoções ao ver Mariana em sua plenitude humana.

E o acaso lhe sorria.

Transitava entre um corpo e outro.

Ir, ir, fluir, nem pro vilão

Nem pra paixão, fluir

o rio, a expansão, o leito

Moldava a realidade e por ela era moldado no exato instante em que morriam todos seus pensamentos.

No outro instante, sabe-se lá quando, logo depois de detectar o previsível acionamento do coração de rubi de Ajax, já estava no fluxo, não estava mais lá, nem na armadura nem no corpo.

Flutuava.

E agora aterrissava sua consciência no corpo poderoso do sintozoide em Fobos.

Os monitores ganharam vida e mostraram o sofrimento alucinante de Mariana.

E o orgão da criatura, que nunca antes ela mesma imaginara existir dera sinal de vida...

Um pensamento.

Desdobramento.

Um outro, ele materializou-se em Mercúrio.

Observava Mariana fascinado.

Deu-se conta do Redutor Sonoro quebrado.

Estendeu a mão direita.

O aparelho flutuou para ela enquanto auto reparava-se no ar. Quando aterrissou na mão de Mark I estava integro.

Mark I depositou-o cuidadosamente ao lado do servidor de Mariana.

Depois, segurou-lhe os ombros.

Virou-a.

Secou suas lagrimas.

E sem entender o que fazia direito, beijou-a como se quisesse atravessa-la com tudo o que havia em sua boca.

E, ela, para sua própria surpresa retribuiu com a mesma intensidade.

Então os dois pensaram a mesma coisa.

Sempre eram belos e terríveis quando loucos pela paixão. Sentiam-se mais poderosos que o Cosmos e mais leves que anjos. Quase culpados, e esse quase sempre os preocupara, até agora.

Mergulharam na química úmida ardente e inumana de sua predestinação.

Pois agora sabiam que o amor é algo que supera o que se julga humano.

E não havia culpa nenhuma na imensidão de poder sem culpa no prazer que sentiam ao fundir-se um com outro.

Pois o momento do gozo, uma predestinação sem nexo, mas com sexo e telepatia, uma hierogamia de compreensão mútua e universal...

O amor é um ciborgue com asas de vampiro, pensaram Mariana e Mark I enquanto se entregavam a sinestesias de redutores sonoros e tilintares de Martinium...

FIM DO LIVRO 1

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