CRÔNICAS DE AMIZADES–EASTER EGG–RACHEL

 

 

 

Private-View

Quando soube que ia escrever sobre ela, pediu-me que fosse da pior maneira possível. Sem romantizar. Pediu para brincar com todas suas falhas, seus equívocos, exageros e dramas.

Para ela, eles sempre fizeram parte das suas pseudodemissões, chinfrins e errôneas que permeiam sua vida.

Para não ter medo.

Descer o cacete.

Pediu-me uma manifestação de ódio por ela?

Ou uma piada?

Praticamente transcrevi o que ela pediu, e, com Rachel, tenho certeza:

Ela queria que eu fizesse isso.

Jornalista, vivendo a vida loka inerente a profissão, somada ao stress a que é submetida por levar nas costas uma revista, não percebe que seu burnout depressivo é por excesso de trabalho.

E psicológico.

Sofre também por um desmedido surto de acusações de seu ex, que, posso dizer de boca cheia, foi, com ela, um bom canalha.

Conheço o cara.

Fez parte da minha turma, bateu bola comigo, então desculpem se não falo seu nome.

Se for para escrever palavrões sobre algum cara ou guria que passou em minha vida, prefiro falar para ele ou ela.

Em algum momento teve minha afeição, merece respeito. Ainda que na forma de xingamento.

Então permito-me não traçar mais nenhuma linha sobre ele.

Sê é para descer o cacete em alguém, prefiro fazer isso com ela, que me pediu como socorro psicológico.

Você é uma Menina Maluquinha.

Uma Elektra.

Menina Elektra Maluquinha.

Não para nunca.

Não quer ouvir outra coisa a não ser essa sua voz que grita contra seu ser em sua orelha.

Você tem empatia com todo mundo, mas não tem consigo mesma.

Para você o amor é uma doce ilusão, o que acredito, mas por outros motivos.

Para você o amor é uma doce ilusão porque você não tem amor para consigo mesma.

Como poderá então amar outro alguém?

E você merece esse risco.

Essa chance.

Apaixonar-se de novo.

Enquanto é tempo, lembre-se, não somos mais tão novos, somos tios, tios avós e avôs no mínimo, cinquentões que somos.

Teria preferido falar isso para você tomando um café, mas que jeito.

A vida loka sempre nos afasta.

Conversamos todo dia, sim, mas só nas teleguias do WhatsApp.

Tive que intima-la uma vez para se encontrar comigo. Só para entregar um pendrive onde havia salvo uns filmes para ela.

Só para ela, não para suas crias.

Essas têm por demais ela.

Há não muitos anos atrás, quando ainda amava.

A ela, por sinal, rá.

A vida é irônica.

Ela chamava meus sentimentos de delírios Kriptônicos.

S já tinha me avisado:

“Rachel é louca, vá devagar, pisa leve...”

Como sempre, fiz o contrário do que S julgava certo.

Fiz o que Jahmed sugeriu:

“Bombardeio cerrado, meu caro. Com ela tem que pegar pesado”

Jahmed sempre foi mais sensível para comigo. Conhece meu estilo.

S é mais realista.

Jahmed, hoje, conserva, de tudo o que vivemos, uma profunda conexão espiritual comigo.

S. uma conexão intelectual.

E emocional.

E, bem, voltemos à Rachel.

Ignorei S. Segui o conselho de Jahmed e mandei bala.

Pisei fundo, bombardeei pesado essa fortaleza de ceticismo que minha amada se tornara. Rachel, meu amor outonal, minha amiga desde várias primaveras atrás...

Conheci-a em minha adolescência.

Namorava uma homônima dela.

Achava isso interessante, e ela, muito mais interessante do que minha própria namorada.

Uma maluca beleza de Avaré sonhando em fazer jornalismo.

Eu, cinema.

Na época parecia-nos lindo isso.

Mas Rachel namorava meu amigo, seu futuro ex, em seus doces 18 aninhos.

E meu interesse parou por aí.

Só voltou quando a vi na saída da Net onde trabalhava. Um pouco depois de ter deixado a casa onde morava devido ao divórcio.

Já nos dávamos bem nas redes sociais.

Ambos gostávamos de nossas postagens.

E eu nunca a achei tão bonita quanto nas fotos que postou no Facebook.

Quando a vi pessoalmente estava linda.

Uma verdadeira MIlF.

Sem fazer muito esforço, calça jeans rasgada e camiseta.

Fiquei caído, mas ela nem tchum.

Não deu bola.

E se devo descer o cacete, por favor não me entenda mal.

Apenas entenda.

Não a mim que já te amei como amante antes de ama-la como amiga, como um irmão.

Entenda você mesma. Permita mais seus defeitos, tão naturais dado as situações por que passa diariamente.

Só assim você conseguirá autoestima.

Ou você prefere ficar o resto de sua vida se autoflagelando como uma mártir medieval.

As palavras como chicote.

E você sabe muito bem como manusear esse chicote...

Principalmente contra sua mente, alma, espírito.

Permita-se deixar de ser santinha.

Solte mais a franga.

Você tem o direito e, creio eu, o dever.

Mas só por enquanto, irmãzinha, só por enquanto...

Olha que o tempo passa e o que ficou para trás,

Ficou lá, mas também nos alcança depois:

No final de nossos dias vividos,  

No pó do Museu onde todos vamos parar.

O Museu da Memória do post mortem.

Ou do Esquecimento, tanto faz.

E isso é um risco diário muito pior que o Amor…

Comentários

Postagens mais visitadas