CRÔNICAS DE AMIZADES - VIII - SABINA, EDU, DANI....

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A primeira coisa que aprendi na faculdade de cinema é que só se faz filmes em harmonia com uma equipe.

Cinema não é coisa de um homem só.

Não importa o quão talentoso um cineasta seja, sem sua equipe, ele não é ninguém.

Demorei dois anos para aprender a lição.

Só aprendi quando Dani, Edu e Sabina entraram em minha vida.

Sem eles, eu era um fantasma vagando inutilmente pelos sempre mesmos e tristes corredores da faculdade que tanto lutara para fazer.

Amava cinema.

E, na época em que era um fantasma de corredor de faculdade, estava começando a odiá-lo.

Hoje eu o amo plenamente, mas sem Edu, Sabina e Dani, talvez jamais tivesse conseguido.

Só com eles e aquela mágica turma deles é que as coisas começaram a fazer sentido.

Eles me ensinaram tudo.

Mostraram as músicas mais lindas deste planeta.

As ideias mais coerentes, racionais e, ainda assim, criativas e amorosas.

Sabina sofria um parto cada vez que escrevia.

Quanto mais demorado um texto seu, pode ter certeza, melhor ele será.

Amei Sabina e seu jeito melodioso de ser. Sua inteligência, cultura, o jeito terno e direto com que encarava a vida, tão diferente do meu...

Obvio. Apaixonei-me perdidamente por ela.

Se houve alguém, um dia, que imaginei envelhecendo ao meu lado, foi Sabina.

Ela foi o grande amor que vivi e, como todo bom canceriano, deixei passar.

Já a odiei, devo confessar, por isto.

Mas percebi que é simplesmente impossível odiá-la.

Ela sempre foi bem mais “na real” do que eu. E era por isso que a amava e ainda a amo, como uma pessoa a ser admirada em silêncio, cuja lembrança é um bálsamo secreto para as tristes tardes de domingo...

Mas Sabina não levou meu coração. Deu-me ferramentas para conhece-lo.

Impossível para mim, bem como para qualquer pessoa em sã consciência, odiá-la.

Não, se a gente parar para pensar.

E sentir as coisas do jeito que Sabina sente.

Única. Singular. Precisa. Ousada.

Totalmente esplêndida aos meus olhos....

Mas há os outros vértices de meu sacro triângulo de amigos de turma.

Edu levou-me a realmente entender que sou brasileiro e de esquerda.

Coisas de que me orgulho de ser até hoje.

Edu era um cara charmoso, persuasivo, seria sedutor não fosse o carinho que nossa amizade despertava nele e em mim.

Com Edu, aprendi que carinho pode e deve gerar respeito. Nós é que o deturpamos a ponto de mal poder se abraçar um amigo com vontade como gostaria de o fazer toda vez que penso em Edu.

Não, ele não era sedutor, era adorável, verdadeiramente um Gentleman tupiniquim com ascendência oriental.

Uma conversa simplesmente irresistível.

Não sei como anda o gogó dele hoje, mas naqueles tempos, aquela discreta ternura e poder de persuasão agudos eram poderosos. E creio que ainda são...

E eu o amo por isso.

Dani, o que posso falar dele....

Meu Deus, um dos caras mais incríveis que já conheci.

Dormia direto em sua casa.

Falávamos sobre tudo sem frescura e sem pisar em ovos. Pensávamos de maneira muito parecida. E eu me sentia orgulhoso disso. Mostrava-me que estava no caminho certo.

Dani sempre soube o caminho certo. Apesar das sérias dúvidas que levantava sobre suas próprias ideias, eram mais dúvidas de insegurança dele do que da história.

Dani era tímido.

Mas comigo, sei lá porque, se abria.

Talvez porque me achasse um bom contador de histórias.

Sempre contava alguma para ele.

Ele sempre me mostrava o que escrevia. Eu amava.

Dirigi um roteiro dele, de um vídeo nunca finalizado: Tetê dos Meteoros.

Se há um arrependimento maior na minha vida do que não ter finalizado Tetê dos Meteoros, desconheço.

Sabina, é claro, me ajudou com todo o processo, administrando a coisa, dando corda para minha imaginação.

Dani, nem imagino o que deve ter sofrido durante as filmagens, mas ele nunca deixou de estar presente. Total apoio. E sempre pude contar com Edu na retaguarda.

Edu sempre me deu suporte. Foi por esta época, numa das minhas crises de pretenso cineasta, que fui parar em sua casa.

Foi nesse dia que descobri o quão brasileiro e de esquerda era.

Alê, irmão de Edu, permanece grudado em minha memória, como uma aura.

Bem como toda a família de Edu.

Bem como toda a família de Dani.

Bem como toda a família de Sabina.

Conheci-os quase todos.

E finalizar Tetê dos Meteoros teria sido um ato de respeito à minha equipe. E famílias.

Então, eu cometi o maior pecado de um cineasta. Abandonei o barco. Traí minha equipe.

Nunca finalizei o vídeo.

Teria sido uma homenagem a vocês, Dani, Edu e Sabina por tudo o que passaram comigo, por tudo que os fiz passar.

Mas de qualquer maneira, vai esse para vocês que me ensinaram a amar.

Eu os amei profundamente, então.

E continuo a amar...

Para sempre amarei.

Só queria que soubessem...

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