CRÔNICAS DE AMIZADES–III–MAGAL

 

                                                                             EMPATHY

 

Eu o conheci numa clínica de reabilitação psíquica para pessoas com transtornos mentais e dependentes químicos.

Aos olhos da tal clínica éramos os dois.

Aos nossos olhos, dependentes químicos, nem pensar.

Usávamos substâncias sagradas em rituais psicoativos, coisa muito diferente.

Maconha não é Cocaína.

Daime não é Crack.

E, quem usava essas coisas, crack e coca, realmente tendia a desenvolver sérios problemas em sua vida pessoal.

Maconha e Daime são controláveis.

Pó e pedra não.

Podem até criar a ilusão que são controláveis, mas a verdade é que no final a química sempre sai ganhando e quando você vê, ela te controla.

Ela está no poder.

Você, não.

E, dessa maneira você vira escravo dela.

Eu sei o processo, senti na pele.

Magal também.

E a questão das drogas nos aproximava e forçava os doutos profissionais da clínica recuarem.

Irônico...

Eu estava eufórico, internado involuntariamente.

Magal estava deprimido, internado voluntariamente.

Mas de alguma forma havia tanta lógica em nossa defesa que os doutores nos deixaram em paz, finalmente.

Então, de uma certa maneira, nós dois nos divertíamos na clínica.

Mas partilhávamos as altas doses de sofrimento que a falta de liberdade proporcionava.

Magal e eu escrevíamos e, lá, não podíamos escrever, sei lá porque, nem mesmo na T.O. (Terapia Ocupacional)

Então Magal começou a mostrar seus textos na clínica.

Parou nas minhas mãos.

Li. Deus do Céu, meu irmão.

Que texto.

Ficção científica braba.

Das prá lá de boas.

O desgraçado do Magal tinha todo um universo em mente.

Compunha-o escrevendo, desenhando, editando, planejando os mínimos detalhes.

Mostrou-me alguns esquemas.

Eu o olhei com respeito renovado.

Eu escrevo o que Deus ou o Diabo mandam.

Nunca sei, no final das contas, muito bem o que vai sair.

Só sei que sai.

Ele era um planejador de primeira, um enxadrista da escrita.

Me ganhou por completo.

Admiro isso profundamente.

Então pedi para ele ensinar para mim.

Mas a esta altura, a alta dosagem de Olanzapina que a clínica adotara como minha dieta principal, para baixar a bola, havia detonado a memória.

Tenho os gráficos que ele fez da história.

Não lembro a metodologia com que ele foi feito.

Não o entendo, mas é lindo de morrer.

Tenho até hoje, colado num caderno de planejamento que adotei.

Hoje planejo um pouco mais, embora ainda seja um cara que escreva intuitivamente, sento a bunda na cadeira e já vou digitando.

Mas, antes, já planejei uma história inteirinha em minha mente.

Inconscientemente. Que foi onde o método de Magal mais me atingiu.

E o motherfucker continua me atingindo.

Mando minhas coisas para ele.

Ele lê e dá feedback certeiro.

Percebe seus altos e baixos.

Te saca num piscar de olhos.

Puta que pariu, man.

Acho isso lindo em você.

Essa capacidade de sacar o próximo.

Essa empatia incondicional que parece sentir por todo o ser humano.

Talvez seja esse colossal sentimento que pese em suas costas e o deprima.

Mas o desafio do Empata é justamente superar a depressão sem nunca pensar em perder a empatia.

Barra pesada, considerando o que nós nos tornamos...

Não somos seres lá muito bonzinhos.

Não somos nada legais.

Mas Magal nos ama mesmo assim.

Talvez Deus tenha cíumes de pessoas como Magal...

Tão cheias de amor que acabam por se tornar um desafio ao amor do próprio ser Criador.

Então ele as castiga com depressão.

Pois quem ousa amar o ser humano mais que Deus é algo que Lhe parece insuportável.

A luz não admite concorrência...

E logo manda sombras terríveis para quem ousa, mesmo sendo inocente – ato ainda mais terrível para Deus – amar o ser humano mais que Ele.

Ao seu ciúme Deus responde com A Depressão.

Esse inferno.

Mas Magal é forte. Ele sobrevive.

Continua de pé.

Metralhando amor por todos os lados...

E dane-se Quem não gostar!

Comentários

  1. Eu amei muito essa Crônica, amigo Mau. E quero conhecer o Magal 🤗

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    1. Ô amiga, obrigado, vamos combinar p vc conhece-lo via meets... Q tal?

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