AS CRÔNICAS FANTÁSTICAS DO IMPÉRIO ALMEIDA–CINTILARES DE MARTINIUM

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Foi quando o laser de Ajax o abateu.
E os monitores de Mariana voltaram ao normal.
O presidente em exercício bateu palmas de alegria.
--- Isso, meu filho. Grande garoto. Vamos pegar esse filho da puta traíra do Almeida. Com ele, nem Musk II poderá com a gente. Rururororárá.
O presidente em exercício pulou encima do robô e foram para a rua recolher a armadura que rachara os paralelepípedos da cidade obsoleta onde Almeida inventara de fazer a justiça para os idiotas caminhoneiros. O amor o cegara.
Seu ódio o libertaria e o conduziria para a única verdade que realmente importava. A sua.
----- Mercúrio – Ozark - Bunker de Mariana.
Diante do chuvisco dos seus monitores, Mariana divagava.
No instante em que a imagem mostrou o Dr. A. sendo abatido pelo laser de Ajax ela pensou: “Bem feito”, mas sentiu uma agonia cravar-se no peito. Não sabia bem se por preocupar-se pelo bem estar do exibido sacana que se auto-intitulava Mark I, ou se por si mesma.
Mas tinha que pensar que, agora, todo o poder do sintozoide poderia estar nas mãos do presidente em exercício.
Que, ela sabia, queria-a morta.
E sabe-se lá mais o que aquele demente poderia mais desejar. Ou pior, como uma mente quase infantil e super poderosa como a que seu antigo amado se tornara poderia reagir.
Ou pior ainda. Era realmente o SEU antigo amado, ESSE cara?
E antigo significava ultrapassado, superado ou apenas um tempo passado.
Porque algo parecera não passar, desse antigo amado. Algo que se refletira nos seus anseios pelas visitas do Dr. A. quando ainda acreditava em sua identidade, que aquele homem, que, desde o reencontro na Prisão Tática, mostrara-se não mais um velho tarado babão, mas um gentlemen galante que a encantara.
Precisava pensar. E pensava melhor louca. Teria que apelar. Meta-anfetamina recombinante bipurificada em câmeras de ozônio e acetileno.
E sua intuição dizia que da viagem alucinante sairia um novo código, algo que desse uma luz, pois a sensação de responsabilidade para com algo maior que si mesma, já algo intrínseco dela, havia passado para alerta vermelho.
Ela precisava fazer alguma coisa muito louca para lidar com a situação.
E, depois de injetada a droga, riu-se a valer ao imaginar-se uma techno deusa de Martinium valsando com Mark I a marcha de uma nova raça de seres antes inimagináveis povoando o universo.
Por um instante algo muito seu lhe disse que poderia funcionar.
E ela começou a chorar.
Nenhum humano poderia lidar com a situação. A não ser ela.
Lembrou-se mais uma vez do Dr. A. como, agora tinha certeza, amara-o, carinhosa e assexuadamente, mas sim, amara-o, ainda o amava, o filho da puta...
Velho e alquebrado mesmo...
Frio como um cavalheiro britânico. Mas tão cortês e encantador quanto. Old Fashion Fucking Way. Algo que ela não resisitira. E era Olenski, apesar de tudo, sabia disso. Sempre se consideraram evoluídos, ela, em outro sentido, mais ainda, e agora a perspectiva de tornar-se uma deusa de Martinium, bem...
Em termos egoístas, não era tão mal, agora, devidamente chapada de tão lúcida, a viagem lhe mostrou a epifania necessária para compor os algoritmos lisérgicos para lidar com a situação. Quase surtou, mas aguentou firme.
Resgataria a criatura Mark I, sim, o faria.
Apenas para unir-se a ele. Era o único jeito. Musk II o pedia, sim era o jeito, uma solução final.
E Mariana, em prantos de desespero, e epifanias de prazer, despediu-se de sua humanidade arrebentando o redutor sonoro de seu outrora amado contra as paredes da câmara de ozônio e acetileno.
--- Foda-se, Alice vai pra toca do coelho, mas não de vestido – e riu-se.
Riu-se a valer, enquanto dançava chorando entre monitores em chuviscos sem reparar que as luzes das cosmic web cams tornaram-se operacionais.
Mark I, não estava nem na cópia de Almeida nem no sintozóide. Flutuava em trânsito num tempo onde as palavras não fazem mais do que tirar um instantâneo incompleto de partículas mais rápidas do que a luz.
Tudo funcionara perfeitamente.
Mas não previra o acaso de suas emoções ao ver Mariana em sua plenitude humana.
E o acaso lhe sorria.
Transitava entre um corpo e outro.
Ir, ir, fluir, nem pro vilão
Nem pra paixão, fluir
o rio, a expansão, o leito
Moldava a realidade e por ela era moldado no exato instante em que morriam todos seus pensamentos.
No outro instante, sabe-se lá quando, logo depois de detectar o previsível acionamento do coração de rubi de Ajax, já estava no fluxo, não estava mais lá, nem na armadura nem no corpo.
Flutuava.
E agora aterrissava sua consciência no corpo poderoso do sintozoide em Fobos.
Os monitores ganharam vida e mostraram o sofrimento alucinante de Mariana.
E o orgão da criatura, que nunca antes ela mesma imaginara existir dera sinal de vida...
Um pensamento.
Desdobramento.
Um outro, ele materializou-se em Mercúrio.
Observava Mariana fascinado.
Deu-se conta do Redutor Sonoro quebrado.
Estendeu a mão direita.
O aparelho flutuou para ela enquanto auto reparava-se no ar. Quando aterrissou na mão de Mark I estava integro.
Mark I depositou-o cuidadosamente ao lado do servidor de Mariana.
Depois, segurou-lhe os ombros.
Virou-a.
Secou suas lagrimas.
E sem entender o que fazia direito, beijou-a como se quisesse atravessa-la com tudo o que havia em sua boca.
E, ela, para sua própria surpresa retribuiu com a mesma intensidade.
Então os dois pensaram a mesma coisa.
Sempre eram belos e terríveis quando loucos pela paixão. Sentiam-se mais poderosos que o Cosmos e mais leves que anjos. Quase culpados, e esse quase sempre os preocupara, até agora.
Mergulharam na química úmida ardente e inumana de sua predestinação.
Pois agora sabiam que o amor é algo que supera o que se julga humano.
E não havia culpa nenhuma na imensidão de poder sem culpa no prazer que sentiam ao fundir-se um com outro.
Pois o momento do gozo, uma predestinação sem nexo, mas com sexo e telepatia, uma hierogamia de compreensão mútua e universal...
O amor é um ciborgue com asas de vampiro, pensaram Mariana e Mark I enquanto se entregavam a sinestesias de redutores sonoros e tilintares de Martinium...
mark e mariana
FIM DO LIVRO 1


































































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