AS CRÔNICAS FANTÁSTICAS DO IMPÉRIO ALMEIDA III–INTERLÚDIO NO AQUÁRIO DE NEOCRISTAL DE MURANO

AS CRÔNICAS FANTÁSTICAS DO IMPÉRIO ALMEIDA – LIVRO 3 – SSPACEPOP

----- INTERLÚDIO

No aquário de neocristal de Murano onde flutuava o cérebro humano do dr. Afonso Soares de Almeida...

--- Gostaria que vocês tirassem o escorpião do bolso e viessem para onde o Brasil começou. Bahia.

Vocês conheceriam a origem de tudo. Meu reino, minha cria.

Foi onde comecei. Cervejaria do Sagaz. Pergunte para qualquer um em Jequié.

Foi o primeiro pensamento do verdadeiro dr. A. quando acordou. Nostalgia, saudades, lembranças.

Uma memória, um estalo, luz, consciência, vida.

O que Mark I jamais conseguiria imaginar era a improbabilidade cósmica que se caracteriza a Vida. Pois como sabe qualquer imbecil, com a vida não se brinca. Ela sempre encontra um jeito.

Mark I ainda tinha em si um lado humano, de compositor popular folgado e supostamente malandro.

Mesmo tornando-se algo ao mesmo tempo terrível e belo.

E ele jamais se concentrara muito em definir o que era a Vida.

E nunca nessa vida imaginou que o cérebro encarcerado do dr. A., eternamente perdido, julgara o até então sabetudo do sintozoide, em sonhos de ganância e paixão, poderia, de alguma maneira, ganhar consciência.

E Afonso Soares Almeida, ou pelo menos sua mente, começou a pensar e exitir novamente.

Sua mente capitalizou toda a situação e não gostou nem um pouco.

Mas percebeu que sua consciência era maleável ao infinito. Poderia vazar desse aquário maldito.

Embora sempre tivesse que retornar para manter seu cérebro vivo.

Teria que ter tempo suficiente.

Não para reaver seu império, Mark I havia o aprimorado mais do que ele próprio poderia e seus neurônios queimavam de ódio e admiração por isso.

Mas para eliminar seu concorrente máximo, seu alvo primário, Musk II, como sempre quisera quando encarnado no cruel capitalista que fora.

Ah, faria justiça eliminando seu concorrente. Assunto de família.

Mas de um jeito que só uma mente para sempre encarcerada num neocristal de Murano ousaria conceber.