COMO SE QUEBRAM OS CORAÇÕES DOS PRESIDENTES - I - DE CARTAS E SONHOS

Ela olhava-se no espelho banhada pela intensa luz da lua cheia que invadia seu apartamento. Não conseguia creditar que o reflexo no espelho era ela. O simples pensamento daquela beleza exótica feita de grandes olhos de gata, boca carnuda, nariz reto, como uma grega e sedosos cabelos cacheados era simplesmente perfeita. E as vezes, como nesta situação, incômoda. Ia escovar os cabelos, mas era desnecessário. Sua imagem, mais parecia um duplo do que um reflexo. Arrepia-se. Aymeé foge do espelho, vai para a mesa da sala de estar onde estão cartas e papel para correspondência. Aymee gosta deste horário para ler e responder suas cartas. Chama-lhe a atenção uma carta com procedência da França. Remetente: apenas uma grande letra V. Intrigada ela abre a carta. Lê. Ri. Amassa-a e a joga no lixo. Ainda rindo vai ligar o rádio para ouvir o noticiário na PR-9 Mayrink Veiga. Amanhã seria o rendez-vous no Botafogo com o presidente e uma primeira dama secreta, cuja vigência só vale nos momentos de cama e privacidade, é uma mulher que precisa manter-se informada para, mais que seduzir, persuadir, acariciar, adular, paparicar, até conseguir fazer valer seu ponto de vista em determinada questão. Ser a primeira dama de fato. A política, descobrira Aymeé, tinha a cama como aliada. Não era à toa que tantas garotas eram flagradas com congressistas, chefes de estado e de altos escalões. Muitas destas garotas recebiam seu cachê por participar do evento de algum político e, muito frequentemente, ainda ganhavam um gordo bônus de algum inimigo do político em questão para que o espionasse e coletasse informações. Ela sabia porque o marido sabia. E o marido sabia porque era chefe de gabinete de seu amante, Getúlio Vargas, Presidente do Brasil. Luis Simões Lopes sempre fora um homem totalmente dedicado ao trabalho, ela bem o conhecia, quando aceitara casar com ele. Afinal, seu cargo exigia dedicação total. O que uma outrora Aymeé apaixonada por Simões, não poderia desconfiar é que ela também ansiava por dedicação total, não essas migalhas de atenção que recebia. Um beijo na bochecha quando Simões partia para o trabalho, um outro quando chegava e ainda outro e na bochecha quando iam dormir. Faziam amor no escuro. Papaimamãe. Aymeé queria mais. De tudo. Sentia-se capaz de engolir o mundo. E como esposa de Getúlio e Primeira Dama do Brasil conseguiria abocanha-lo de fato.

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