COMO SE QUEBRAM OS CORAÇÕES DOS PRESIDENTES - III - DE GOLPES DE ESTADOS E ROTAS DE FUGA

Descobriu-o escrevendo uma súplica patética para Vargas. Uma confissão ao contrário. Ele confessava para Vargas que sabia do caso e que sofria muito, mas que respeitaria a vontade da esposa pois sabia que ela estava feliz com ele, o presidente do Brasil. Desprezo. O rádio berra clamando por atenção; --- Extra! Extra! Extra! Exclusivo e Urgente. Golpe de Estado no Palácio Guanabara. “O Palácio Guanabara foi rendido por revoltosos. Os vitoriosos anunciaram que o presidente está cercado e em vias de se render. Relataram-nos ainda que uma junta militar assumirá o poder em poucas horas. O agora ex-presidente Getúlio Vargas deverá ser preso e conduzido até o cruzador Bahia onde permanecerá detido até ser entregue às novas autoridades do país.” Ao começar-se a anunciar quem governaria o país no lugar de Vargas, Aymeé desliga o aparelho. Aperta as mãos e os lábios. Está pálida. Vai até uma cômoda, abre a última gaveta, joga um monte de coisas para fora dela e acha um maço de cigarros e uma caixa de fósforo. Acende um cigarro e vai até o lixo. Pega a estranha carta escrita em francês. O convite antes lhe parecera ridículo: posar para uma revista francesa chamada Vogue, devido a sua exótica beleza aliada a uma elegância inata e criativa que cativara um jovem editor quando, numa estadia no Brasil, a conhecera. Mas as coisas não podiam continuar assim. Vivia num país de incertezas. E súbito soube que tinha uma única certeza. Queria o divórcio. De ambos os seus homens. Amante e marido. Mas para isso, era necessário, ao menos uma vida profissional, ter algo para se apoiar, onde segurar-se, sendo quem era e no Brasil... Ser amante do presidente era um castigo. Ser mulher de seu funcionário mais próximo, outro. Então, quem era ela e o que poderia fazer para sair deste ciclo de amor e castigo infernal em que se metera. Fugir. Claro, o que mais poderia fazer? Servir de arena para dois homens se digladiarem mortalmente? Nunca. Neste instante, viu que por trás da carta, havia um detalhe enorme que deixara passar. Uma passagem para Paris. Mesmo angustiada, transtornada, reflexiva e deprimida soltou um grito de satisfação. Paris. Sua rota de fuga.

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