CRÔNICAS DOS AMORES ESPACIAIS–UM AMOR NO INFERNO ESPACIAL–DO AMOR EM QUEDA LIVRE

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Mas o sangue esvanecia-se, gotas rosas e transparentes explodindo em meu pulso incrédulo. Suas mãos translúcidas tremiam, ela olhava para mim e sorria, aqueles olhos imensos e castanhos, mel em ondas de amor, me convidando para o prazer supremo dos apaixonados...
Enquanto desaparecia diante de meus olhos atônitos e sedentos.
Olhava para um lado para outro. Sombras. Sombras. Sombras.
O berro agonizante de quem dobra a aposta no truco argentino ecoa nos corredores metálicos. Ecoa em meus ouvidos, como quisessem arrebentá-los.
Gritam até a morte os infelizes. Vejo-os. Alguns chegam a quebrar copos com os gritos antes do urro virar seu último suspiro. Tudo se distorce em sombras metálicas, os jogadores, os gritos, os corredores. Rio. Deliro.
Elektra, meu cordão de cumplicidade e amor, tão loucos somos, unidas mentes, descargas elétricas que se encontram e seguem unidas pelo espaço, tão loucos somos, eu e ela, que o amor torna-se algo lúcido, belo, e aceitamos nosso destino trágico com uma partida de passa anel.
Brincamos de amar mais o amor que a nós mesmos, meus olhos no dela…
Aqueles olhos enormes... Tão profundos como o fim do mundo... Bem na minha frente.
Eu sedento. Sempre, sempre, sempre. Dela. Fonte, Elektra. Bebo-a por inteiro... Através daqueles olhos de âmbar irreais.
Estão lá. Bem na minha frente.
Mas não sei mais nada. Tudo sensações, exposto o peito ao pesado princípio ativo da droga do Amor, essa droga pesada. Tudo delírio e realidade. Paradoxos.
Mas surge uma poça de sangue, depois outra e mais outra. Reais.
Elektra apontava o caminho, sua mente na minha, seu delírium tremens, o meu. Ou estaria lúcido caçando o fantasma de um amor utópico. Não sei, o gemido terrível dos viciados em lutas de facas tornou visível por um momento, sinestesias de dor e cheiro putrefato.
Delirava, a insanidade batia as portas de meus tutanos, as poças tremiam diante e mim... rubras miragens colorindo o cinza metálico das trevas destes dutos. Ou tremia eu e a realidade mantinha-se firme.
Mas eis que ela emerge do ar, flutuando, caminhando, dançando.
E ela dizia:
--- Morro com amor, você não?
--- Morro – Delírio ou realidade, o amor em mim não exitou em responder.
Ela cobria seu rosto com o véu e prosseguia, seus pensamentos os meus, rumo aos intestinos deste iate, monstro espacial.
Elektra mergulhou numa passagem vertical, bem a sua frente.
Carne, espectro, miragem, ilusão ou não, ela caiu num buraco, como Alice na toca do coelho.
Segui-a, não sei para onde, sei lá se ela sabe, estou caindo é tudo o que sei, se souber algo, no momento sou como Sócrates, nada sei.
Mas caio, as sombras vertiginosas recriando todas as negras amarguras das vidas, pois foram muitas, vividas antes, a minha e a dela, entrelaçando-se como se uma só fossem, tocando-se e afastando-se gentilmente, como uma carícia, um ballet, onde as palavras que ela tanto amava dançar para expressar, não fossem mais necessárias.
Estávamos caíndo, escapando pelas Cloacas Robóticas do Inferno Sideral, abismo de torturas nunca antes imaginadas, rumo ao Cosmo, ao infinito.
Ao amor, ou a ilusão dele, àqueles olhos de abismos insondáveis, não me importava, amava em queda livre rumo a Elektra. Aqueles olhos enormes…
E a morte certa, definitiva e gloriosa.
Abraçados atingimos o destino final. Passamos pela saída de ventilação do Iate Cassino, Inferno sideral e atingimos a imensidão fria e silênciosa do vazio cósmicos, flutuando, caindo em queda livre, entre as estrelas, pequenos pontos de luz, pálidas lagrimas do Cosmos.
Foi sob a luz delas que nos abraçamos Elektra e eu.
Colamos nossas bocas uma na outra.
Antes de nos congelarmos no espaço sideral, exalei meu último suspiro dentro dela, ela dentro de mim.
Só assim soube que Elektra era real, morríamos felizes para sempre, nossos últimos sopros de vida unidos enquanto se dissolviam no vácuo implacável do Universo.
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