CRÔNICAS DOS AMORES ESPACIAIS - DE TRIÂNGULOS AMOROSOS ESPACIAIS E DOS CORAÇÕES NELE ENVOLVIDOS.



Enquanto a Alfa 01 traçava sua trajetória suicida, Judite estava a poucos metros do deque de aterrisagem da estação intergaláctica. Reverteu a propulsão até acabar o combustível e abraçou o piloto Fitzgerald.
Não foi o suficiente. Acionou as velas solares embutidas na mochila que continham as células energéticas do traje espacial. Serviam para recarregar as células de energia do traje, mas serviriam como freios improvisados.
Mesmo assim continuava avançando a uma velocidade perigosa.
Teria que rolar seu corpo e o dele para amenizar o impacto da velocidade de aterrisagem na gravidade artificial do deque. Rezaria, caso soubesse alguma oração.
A canção recomeçara, desta vez, a voz embargada.
--- Eu sou o homem das estrelas, quero te encontrar, mas tenho medo de explodir sua mente. Deixe as crianças brincarem, deixe elas acreditarem, deixe elas sonharem, no final as pegarei. E explodirei suas cabeças.
Era como se a Alfa 01 chorasse. Uma ânsia insuportável revolveu-se em Judite. Fechou todos os canais de comunicação e concentrou-se.
Estava sozinha e só dependia dela, não só para sobreviver, mas para salvar seu amor, a esperança de um futuro suportável na imensidão do espaço com alguém que poderia compreender as suas preocupações sem perturbar-se com sua autoridade. Fitzerald era seu sonho realizado. Não podia deixa-lo morrer.
“Jamais. Sobriveremos”.
Foi seu último pensamento antes de atingir o deque, as velas fragmentando-se com o impacto, mas servindo como proteção para os corpos de Judite e Fitzgerald.
A destruição das velas deu tempo para Judite coordenar sincronizar seu corpo com o de Fitzerald. As pernas entrelaçaram as do piloto, os braços de Judite envolveram so de Fitzgerald. Na hora certa, ela flexionou seus corpos.
Os dois rolaram pelo chão do deque, o corpo de um servindo de proteção para o de outro até chocarem-se com a parede final do deque com estrondo forte na liga de polietilenoaluminado.
Flexível, rachou, mas foi maleável o suficiente para afundar até absorver todo o impacto da colisão dos corpos dos amantes, os trajes espaciais, bem como a carne, cortados e sangrando.
Mas vivos. Uma roda de tripulantes da nave os cercou e começou a lhes prestar primeiros socorros.
Judite fechou os olhos e respirou profundamente várias vezes. Queria desfalecer, seria tão fácil...
--- Vejam. A Alfa 01 ela vai colidir conosco.
Judite abriu os olhos. A nave suicida crescia velozmente rumo ao deque de aterrisagem. Os braços cibernéticos abrindo e fechando.
--- Explodirei suas cabeças, explodirei suas cabeças - A voz de Leandro invadiu o deque. Gargalhava e repetia a mesma frase doentia.
--- Explodirei suas cabeças, explodirei suas cabeças.
Soou o alarme de evacuação. “O imediato da estação intergaláctica tomara a decisão certa na minha ausência e da do piloto” – pensou Judite. A explosão iria destruir o deque inteiro. A evacuação significava que o módulo seria desacoplado da estação.
Porém não era uma evacuação o que acontecia, mas sim uma fuga, uma explosão de corpos correndo caoticamente em busca da salvação de emergência.
Judite quase foi pisoteada. Levantou-se, alguém chocou-se com ela. Agarrou-a, Judite golpeou-o fortemente, afastando o fugitivo de si.
Então, a comandante arrastou o piloto até uma das saídas de emergência lentamente, observando a aproximação fatal da Alfa 01.
--- Explodirei. Explodirei. Explodirei.
Judite, alcançou a saída bem a tempo. As portas do deque foram seladas. O módulo destacou-se da estação no exato momento que a Alfa 01 terminava sua derradeira e destrutiva missão.
O impacto foi violentíssimo. A Alfa 01 avançou pelo deque, os braços cibernéticos voando pelos ares junto com o chão, contêineres de transporte, trajes robóticos de conserto e manutenção e o que mais encontrasse pela frente. A Alfa 01 retorcia-se sobre si mesma, sendo despedaçada aos poucos até colidir com uma nave transporte.
Judite tomou o piloto no colo e jogou-se para longe em direção ao solo.
Uma violenta explosão destruiu o que restara do deque, iluminando de azul, branco, amarelo, laranja e vermelho o espaço sideral, enquanto suas labaredas avançavam pelo espaço até atingirem a estação.
Por um minuto a liga de polietilenoaluminado se aqueceu, tornou-se rubra, queimando os membros da tripulação da estação intergaláctica que estavam mais próximos.
Depois as chamas recuaram.
E não havia mais nada do deque de aterrisagem, nem da Alfa 01.
Apenas fragmentos metálicos retorcidos flutuando sem destino no espaço sideral. A ameaça se fora.
No entanto, todos os monitores da estação intergaláctica foram acionados.
Leandro apareceu em todas as telas, em suas mãos uma pistola de plasma apontada para o queixo.
--- Caros, bom dia, boa tarde, boa noite, conforme a ocasião. Prestem atenção, será minha última transmissão.
Rimou. Rá, Rá. Não liguem, não é isso o que quero falar... tenho que lhes dizer o seguinte..
--- Eu sou o homem das estrelas, quero te encontrar, e quero explodir sua cabeça. Deixe as crianças brincarem, deixe elas acreditarem, deixe elas sonharem, no final o amor sempre morre. Agora só resta amargura. Mas explodirei suas cabeças.
E puxou o gatilho.
mind_blowing_by_psychojunc
          FIM






































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