A CIDADE ONDE MORA A LOBOTOMIA–A CAMA VAZIA

                below_the_sidewalk_by_leothefox-d4y2he0
Não suporto este castigo.
Ela acorda e não me vê. Apenas estranha um obstáculo onde, para ela, não existo, mas sim o vazio.
E o brilho translúcido do sol que me aprisiona, ele me dá a certeza que jamais sairei daqui.
E aos poucos, ela ia morrendo em sua solitária e desmiolada velhice.
Um dia, finalmente caiu. Quebrou seu frágil e longo pescoço. Seus olhos tão azuis, mares circulando pupilas de luz, tornavam-se baços em meus braços. Foi quando, do nada, o encanto quebrou-se.
--- Você? – reconheceu-me!
E morreu com uma dolorosa surpresa estampada no rosto enquanto minhas lágrimas fechavam seus olhos.
Queimei-a, uma pira de fogo lembrando como ardia em meu peito seu amor.
Zumbis humanos em volta, sem daquilo entender nada daquilo, macabro cortejo fúnebre. Não aguentei.
Tranquei-me no quarto. Apaguei todas as luzes, fechei as cortinas.
Na escuridão posso fugir, respirar, fingir que a realidade não existe, ou ao menos que quem não existe sou eu. Sonhar que apenas existe o Amor Universal do Cosmos.
Esquecer-me dela, perdida para sempre em outro universo, no desconhecido que ronda a Morte.
Esquecer-me de mim, da vida, essa indefinição dolorosa, grave e constante de meu cotidiano invisível.
Desabei. Parei de vez.
Parei com as coisas mais essenciais que definem um humano.
Não tomo banho. Não tenho vontade.
Não escovo os dentes. Mesma coisa.
Meus cabelos cresceram, minhas unhas curvaram-se, tão longas ficaram.
Cuidar-me para que? Não tenho vontade de nada. Apenas dormir. Mas se doce é o adormecer, amargo é o despertar.
A cama vazia. Eu não a preenchia.
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