CRÔNICAS DOS AMORES ESPACIAIS–DE TRIANGULOS AMOROSOS E DOS CORAÇÕES NELE ENVOLVIDOS IV

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Na Alfa 01 o piloto checava os sistemas operacionais da nave com a despreocupação alegre dos apaixonados, mas sem cometer erros, o sorriso alcançando as duas orelhas. Lembrava-se do beijo, da entrega de Judite, da interrupção, quase um alerta para que desacelerassem, dos beijos parando suavemente enquanto sacolejavam na ressaca da tempestade eletromagnética.
Só quando foi convocado para o voo reparatório, o treinamento de ambos foi mais forte que a paixão.
A Cel. Peixoto retransmitiu as ordens do Controle da Missão e o Piloto Fitzgerald vestiu seu traje espacial, e lançou a nave rumo ao exterior da Estação Intergalactica.
As estrelas não estavam silenciosas, eram cigarras cantando a primavera, a chegada do amor, o fim da solidão, justo elas, tão pequenas e intensas perdidas a brilhar na eterna solidão do vazio cósmico. Elas sabiam. Do amor. E cantavam para ele, como se fosse um submarino amarelo navegando rumo aos painéis solares da estação.
Judite acompanhava a operação na ponte de comando. A preocupação séria da profissional somada com a preocupação inerente ao amor. Sisuda, conferia os instrumentos a toda hora.
Na Terra, Leandro também conferia seus instrumentos. Suava. A cabeça latejava e os olhos fugiam sempre em direção ao botão vermelho. O botão fatal que cortava o controle da nave reparatória, desligando-a completamente dos sistemas do Controle de Comando e da Estação Espacial e condenando-a a vagar eternamente pelo espaço.”
“Um destino poético para um amor fracassado” ecoava a sua negra voz interna no oco de seu coração. “Um erro dele, basta isso, um erro e ela te amará como uma flama...”
Enquanto isto, Fitzgerald alcançara os painéis solares da estação intergaláctica. Acoplou-se aos braços cibernéticos da nave. Testou os comandos abrindo e fechando as mãos. O braço repetiu o gesto. Ok. Dirigiu a reparadora para as velas solares que captavam energia solar e carregavam os módulos das células da espaçonave.
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Estica os braços cibernéticos. Ajusta-o as ranhuras específicas da escotilha selada a vácuo, abre-a e cuidadosamente retira a célula solar danificada, abrindo caminho para o módulo da bateria principal.
Sem problemas. Mamão com açúcar, pensa o piloto enquanto opera com precisão os braços cibernéticos.
Judite, da ponte de comando, porém não pensa assim. Algo estranho vibra ao seu redor, uma sensação de perigo, um alerta de risco de vida vibrando em seu íntimo.
Calcula riscos e potenciais acidentes. Comunica-se frequentemente com a ponte de comando para checar dados e informações. Nada parece sufocar o medo, pois era medo por Fitzgerald, pela sua vida, inexplicável e quase sólido, como uma pontada no seu ventre.
Leandro, no comando da missão, transmite por um canal exclusivo e secreto um bug para os braços cibernéticos da nave reparadora.
“Só uma brincadeira...” lhe dizia o lado negro de si.
Como os braços estavam conectados diretamente ao sistema nervoso de Fitzgerald, o piloto receberia um choque que o levaria a inconsciência.
E Leandro ao botão fatal, uma estrela vermelha pulsante brilhando sob suas retinas.
“Sim. Sim. Sim”
Na Alfa 01 o piloto mal pode sentir a agonia súbita do choque. Apagou. Ao cair sobre os comandos da nave reparadora, alterou sua trajetória. Ia colidir com o módulo principal de energia da estação.
Judite estava monitorando os sinais vitais de Fitzgerald quando tudo aconteceu. “Não, não, não” gritou internamente.
Interrompeu o sistema de monitoramento de sinais vitais e acionou as câmeras internas da Alfa 01. Recuou até o ponto exato onde o piloto desmaiara. Não percebia motivo aparente para Fitzgerald perder os sentidos.
As imagens afetaram todo o pessoal da torre de comando. O imediato aproximou-se e pediu suas ordens. Mas para Judite, tudo estava desfocado e em câmera lenta. Não conseguiu ouvir nada. Esforçou-se para sair do transe e conseguiu ouvir o imediato:
--- Comandante? Cel. Peixoto? Está me ouvindo... Um bug inesperado afetou os sistemas do braço cibernético e causou um curto em seus nanômetros. A Alfa 1 está desgovernada, senhora. Pelos meus cálculos irá colidir com o núcleo central dos reatores de nossas células energéticas. Estou aguardando suas ordens, senhora.
Judite, porém, nada falou. Ficou parada, extática, contemplando seu amor desmaiado e indefeso frente a imensidão do Cosmos. O imediato continuava a pedir ordens. Porém a Cel. Peixoto fitava a expressão no rosto do piloto estampada na tela. Reparou nos antebraços queimados que se sobressaiam das luvas de controle do braço cibernético. Tomara um choque. Seu coração iria parar.
Checou os sinais vitais novamente. Desta vez estavam fracos, o coração pulsando lentamente, entregando-se aos poucos a uma solitária morte no espaço sideral.. “O bug” – pensou Judite.
Desesperada, digitou um comando crawler de sua autoria para traçar a origem do bug. Não provinha da nave. Mas de outro planeta, da Terra. Do Centro de comando.
Imediatamente contatou o Centro de Comando. Linha direta com Leandro.
--- Diretor – dirigiu-se formalmente – temos um tripulante a deriva e com risco de morte. A trajetória da nave encontra-se em rumo de colisão com o núcleo central de nossas células de energia. Peço permissão para abordar a nave, corrigir sua trajetória e resgatar o Piloto Fitzgerald.
--- Permissão negada, Cel. Arriscado demais. Estamos tentando controlar
--- Sim, diretor, arriscado, mas que escolha tenho, sabendo que o mesmo Centro de Comando causador deste incidente me ordena para condenar um tripulante sob o meu comando a morte no espaço?
E encerrou a transmissão.
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