CRÔNICAS DOS AMORES ESPACIAIS–A CIDADE ONDE MORA A LOBOTOMIA–SIRE FAT ONE

Condenaram-nas a repetição do mesmo e sempre porre, descalços, entre gargalhadas, ensandecidos, tornavam-se violentos.
E matavam-se uns aos outros em pingaiadas de fim de tarde. E até isso fadava-se a repetição.
Morte matada aos Domingos.
    
Justo eles, que sempre defenderam a vida em suas obras.
Tornaram-se pessoas encerradas nos cafundós de uma cidade com o ranço pernicioso do séx XIX, um feudo onde o único ser consciente era lorde e mestre do universo restrito dos zumbis humanos.
Sire Fat One. Senhor e proprietário de todas as terras e de todas as mentes zumbizadas deste domo. Um retrô saudosista e ganancioso, o filho da cadela sarnenta negociou com Musk II a estagnação da cidade da redoma em troca do terço da produção de botas cósmicas para as madames do harém incontável da Musktower.
Sire Fat One. Ainda o matarei.
Mas não sei onde encontra-lo. Ninguém sabe onde o desgraçado esconde sua Casa Grande. Quanto a mim, conheço apenas os mecanismos inumanos desta  Senzala.
No vale, sou invísivel, faço o que quero e o que não quero. Choro, rio, grito com o vento, dou um peteleco no açougueiro, ninguém nota, ninguém se importa. E a vida aos poucos tornou-se solitária e cinza, a dor, apenas um torpor que te força a parar aos poucos.
Meu amor veio comigo, era artista. Veio comigo, mora comigo, mas não me vê.
Musk II em alegre associação com Sire Fat One tornou-a velha,decrépita e demente, encerrada em longas repetições de quedas em passos doblês, encerrada dentro de uma sala, dentro de uma casa, dentro de uma cidade, dentro de uma redoma.
Uma caixa chinesa onde caixas menores guardam todas as amarguras da velhice.
Até a morte por inanição espiritual.