QUÍMICA VORAZ–VIII–DIÁRIO DE ADAPTAÇÃO AOS REMÉDIOS–REFLEXÃO FINAL
Casa – manhã – dilúvio controlado
Sim, pelo menos acordei antes dele.
4 da manhã para dar tempo de ir ao banheiro.
Depois 03 papagaios deram a conta.
Mas sempre há os restos, as gotas, as poças.
E o desagradável cheiro de putrefação.
Fico olhando o chão, perdido.
Dentro de mim, as palavras não saem.
Tempo ùmido, chão úmido, livros úmidos,
coisas que me definem úmidas.
Algumas e essenciais mal cheirosas.
Acendo um cigarro pensando em
Clínica psiquiátrica – fim de tarde – papo final com psicologa.
--- Então fulana, acho que tudo foi a gota que caiu no balde de problemas que tenho com a vida em família. Era um desafio para minha auto confiança. À minha auto estima.
Ela ficou me olhando um bom tempo.
Não era de muitas palavras, simplesmente fez uma anotação qualquer e mandou brasa:
--- Por mim você está bem, não vejo restrições à sua alta.
Clinica psiquiátrica – fim da manhã do dia seguinte – conversa sobre minha expectativa de alta com a psiquiatra:
--- Quero te observar mais uma semana. Deixar você preparado para a reunião familiar. Depois te dou alta.
Mas prescreveu nova química.
Passei a tomar risperidona macerado com clonazepan e neozine.
Uma porrada psiquica.
Mal conseguia acordar de manhã.
Tomava bronca por estar tomando café demais e não dormir a noite.
Imagina. Queria mais é acordar.Sair daquele estupor mental.
Mas, se antes havia uma ansiedade que me obrigava a ficar no pátio depois do almoço, agora dormia duas horas tranquilas.
Sonhei com meu pai.
Estava ao meu lado no quarto de C.
Falava coisas boas ao meu ouvido.
Depois pensei:
“Ele já morreu!”
Foi então que não estava mais
meu pai do meu lado,
mas na janela.
De onde se despedia.
Sim, a quimíca voraz é, além de tudo, uma ponte para o além.
Ou mero caos, como diria a psicóloga de lá quando falei a respeito do sonho, tentando entrar em ordem no seu inconsciente.
Entre o sobrenatural e a teoria inconsciente.
Ambas correlatas.
Melhor nem pensar…
Nem falar para a doutora.
Como disse, houve a reunião familiar, tive alta.
Com o tempo, em casa, os sonhos passaram.
De resto sentia-me bem lá.
Na clínica psiquiátrica.
Todos incapazes de violência.
Mesmo contra uma mosca.
Uma tácita, mas opaca, subserviência.
Eu, que vivia dolorido lá fora, lá na clínica, fiquei sem dores.
E só com o presente para pensar.
Aqui fora, no mundo real e em real time, nadamos entre tubarões.
Nós e os outros cações numa briga canibal.
Tudo dói e é necessário olhar para o passado para medir o presente e encarar o futuro.
Tudo muito mais difícil.
Mas com a radiante beleza da liberdade.
Casa – manhã – cigarretes nightmares.
Evento bipolar depressivo:
Olho para o chão
Para o mijo.
Imagino querosene.
O cigarro na mão.
Mais que suicídio,
uma espécie de destruição
que vai além de mim mesmo.
Quero atingir outro alguém.
Por isso guardei uma lágrima
essa bala.
Minha raiva será seu gatilho.
Disparo minha lágrima de raiva.
Para longe de mim,
de você,
de todas as pessoas dessa história,
de resto,
Onde deu, dará…
Saberá ser honesta, justa, ética,
minha bala precisa.
Muito mais que eu…
Assim, perdido e deprimido, encerro esse diário.
Confiando minha lágrima, contando com quem a receber
para, caso queira compartilha-la, por favor o fazer, obrigado.
Não para que sirva de moral para nada.
Só para que tenha a mesma sensação de liberdade
que tive ao escreve-la.
Mesmo deprimido e perdido…
FIM
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Mande fumo pro Curupira