QUÍMICA VORAZ VII–DIÁRIO DA ADAPTAÇÃO DOS REMÉDIOS.
Clínica psiquiátrica – dia – quarto do C.
Ela invade o quarto.
Primeiro um cheiro bom de perfume.
Depois ela e sua cara severa.
Mas preocupada.
Minha psiquiatra.
Encurralou-me:
--- Mas o que foi isso?
Sem saber o que dizer, digo exatamente o que pensava a respeito no momento. Uma atitude romântica de fazer terapia que deu mal.
--- Mas sua química estava boa. Foi abuso de drogas.
Digo que não na mesma velocidade em que penso:
“mas não vêem que o amor é mortal, se não vivido é morto, e com ele, as esperanças que construímos para um conjunto de vidas que se propõe a amar num futuro e só lembrar do passado com o ser amado.
Um compromisso multitemporal, o amor. Com o presente o futuro e o passado.
Quando se leva isso muito a sério, sim, pode-se dar nisso. Meu caso. Tentativa de suicídio por química voraz”.
Então a doutora fala:
--- Ideias românticas te deixam alterado. Vou ter que aplicar uma Haldol com Fenergan em você. Preciso ter certeza que descansará e ficará calmo. Umas horas e depois você estará bem.
Sei que é assim com a maioria das pessoas, mas não é o meu caso.
Tenho efeito reverso com esse medicamento.
Quem desse, eu descansasse.
Fico ligado de Haldol.
Aceleradíssimo.
Exausto depois.
Odeio haldol, sou alérgico a ele.
Falei p ela, mas ela não confia mais em mim.
Suspiro.
Terei q tomar a injeção.
Peço para tomar e ficar sob observação.
Ela olha seria para mim.
--- Sem haldol. Mas vou aumentar sua química mocinho.
E sai fazendo um gesto de quem esgana o pescoço de alguém.
Seu perfume sai depois.
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