OS SALTOS QUÂNTICOS DE RODRIGO CAMPOS

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Quando levei as obras que havia adquirido de Rodrigo Campos para quem considero o melhor artista de minha terra, nem sonhava o quanto ele o iria  sacar à primeira vista:

“Ohhhhh, o que temos aqui – falou – saltos quânticos, teoria das cordas, alguma coisa dos multiversos em bolhas, que maravilha...”

Ia pedir para ele me explicar, mas fiquei envergonhado. Não via nada disso nele. Via conflito e ritmo de cores, disputando espaço no quadro, mas em harmonia, como se estivessem dialogando entre si:

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Para mim, não é a toa que o quadro chama-se Conflito e Resolução, esse diálogo entre as cores opostas e outros elementos que não pertencem à dimensão da tinta, como um discreto pedaço de papel inserido como se houvesse uma pequena ferida na textura da obra, levam condicionalmente a uma dialética.

O que nos conduz a uma premissa interpretativa extremamente subjetiva do quadro.

Em outras palavras, cada um vê o que quer nos quadros de Rodrigo e tira suas próprias conclusões.

Ele tem essa capacidade mágica de não permitir uma única definição precisa. E para isto usa uma estética pessoal e a linguagem da arte para gerar uma gama de significados só limitada pela imaginação de cada um.

Creio que poucos veêm, no quadro que mostrei, uma representação de um multiverso onde o espaço-tempo colide em saltos coloridos de matéria sempre em movimento, cordas e bolhas dialogando entre si para chegar à um suave equilíbrio.

Mas, sim, ele também representa isso, como bem sugeriu meu amigo artista.

Mas essa é apenas a fase abstrata de Rodrigo.

Há outras:

Uma obra dele, também em minha parede, inspirou-me uma história, uma novela: O Boto Azul da Amazônia, que nunca postei por vergonha. Fala de priapismo, uma coisa que estou farto de ver, então prefiro manter para mim mesmo. Mas compartilho o quadro que deu origem ao texto:

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Em uma conversa com Rodrigo, ele me contou que era um Lúcio, um grande peixe europeu. Mas meu inconsciente fabuloso viu um boto num rio, o tipo de boto capaz de seduzir um homem, uma bota azul. E foi essa história que escrevi.

Se o traço do peixe é preciso, apesar de sugerido, o do fundo de seu retrato é desfocado cinematograficamente,linhas e círculos coloridos, formas sugestivas para a imaginação, daí as várias interpretações capazes de co-existir na apreciação deste quadro.

Também tenho um do que chamo, um cubismo velado:

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Novamente, há divergências nas interpretações. Para mim, Rodrigo usa quadrados e formas tubulares para recriar o Empire State Building, com a bandeira americana, mas sem as estrelas brancas do quadrado azul, ou seja sem seus estados.

Rodrigo, dessa maneira, retirou a soberania dos EUA, subtraiu-lhe sua confederação. Daí o nome universal do quadro:

Nuestra Senhora de las Americas.

A América passa a ser a esperança de fato, para todos os americanos, latinos inclusive, e não só das pessoas que moram na Federação norte-americana.

Mas, fora o contexto político, ele mesmo já viu, nesse quadro, uma ferrovia que se dirige aos céus.

Eu, num arroubo de imaginação, as vezes vejo uma metralhadora apontada para o alto.

Novamente Rodrigo não quer uma interpretação precisa. Quer que seus quadros signifiquem muitas coisas, que as pessoas vejam seus próprios estados de espírito ao contemplar sua obra.

Pelo menos é o que acontece comigo.

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Para entende-lo melhor, adquiri um quadro, onde vejo nitidamente o espaço-tempo dobrado dando uma aura mítica à uma construção no topo de uma montanha, onde vejo um templo, outros uma casa, outros ainda, um castelo.

Reparem nas retas azuis sobre as montanhas e seus céus. Você verá uma espécie de dobra em forma de retângulos e quadrados. Rodrigo parece pintar seu espaço em dobras que vergam o espaço tempo.

Segundo o próprio Rodrigo: “ao criar um espaço de diferenciação, descontínuo, penso sempre como o "espaço sideral" pode ser heterogêneo, não abstrato no sentido newtoniano, mas imprevisível e imponderável, cheio de buracos negros invisíveis, buracos de minhoca, dobras , etc.”

Saltos quânticos que sugerem as mais variadas interpretações em suas várias fases.

Impossível numera-las:

Ele muda de fases mais do que Picasso, sempre a busca do portal ideal para inserir sua arte em nosso espírito.

Eis aí, essa capacidade de pular para dentro de nós e nos elevar o espírito, o verdadeiro salto quântico de Rodrigo Campos.

 

Comentários

  1. Depois dessa aula, nunca mais verei seus quadros da mesma forma.

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    1. Obrigado, mais um vez, pode ver os quadros do jeito que você quiser. O bom deles é isso, eheheheeh

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