A TATUAGEM COMO ARTE–VICTOR INAFUKO , O SAMURAI-POP DAS TINTAS.

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Dou-me conta que quando falei de Mari Monteiro, disse que antes de caligrafittar uma superfície, a artista a tatua.

Pensei nas implicações desta frase.

Na possibilidade de encarar o Tatto como um ato artístico.

E porque não?

Quem tatua seu corpo e ama tatuagens de verdade não quer saber de desenhos modelos que podem ser reproduzidos em outro corpo.

Procura algo único. Algo que o identifique e conceitue, algo que simbolize o momento em que vive, ou uma mudança de vida, ou o poder de um totem, como era o significado ancestral da tatuagem.

E esse momentum, essa decisão de pintar eternamente o próprio corpo tem que ser um ato único e exclusivo.

Em tudo isso a Tattoo é idêntica a uma obra de arte.

Seu processo doloroso intervém num corpo de maneira que o eternize, assim como uma obra de arte em seu também doloroso processo criativo faz com um momento, conceito ou forma.

Arte é o Tattoo, portanto.

E, os puristas que me perdoem, merece atenção.

Por isso que falo de um artista promissor.

Victor Inafuko.

Eis algumas obras desse cara:

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Essa não é uma Tattoo, mas uma ilustração.

Repare o selo do artista em vermelho.

Em japonês.

Bem como japonesa é sua influência.

Desde as modernas referências à anime-mangás, o protagonista bombado literalmente armado até os dentes em pose de HQ até o desenho que o emoldura, dando um toque ancestral à gravura na figura de um tradicional demônio oriental.

Essa descrição não faz jus ao talento de Inafuko.

Seria preciso mostrar seus vídeos no Instagran para mostrar a precisão e perícia de seu traço, firmes, rápidos, feitos linha a linha até atingir seu efeito pleno.

O evento catártico da composição onde vemos nosso lado guerreiro disposto a lutar até o último dente protegido e alimentado por seu daimon interior.

Esse é o real significado dessa ilustração.

Ao menos para mim.

Mas o artista sabe ser sutil e belo, numa representação abstrata de leveza e cor raros em se tratando de tatuagem:

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O preto e o vermelho remetem à vários significados. Parece tanto algo ameaçador como rasgos, arames farpados, texturas abertas em carne viva.

Mas pode sugerir algo consideravelmente mais leve como ramos em flores de cerejeira.

Emolduram uma abstração em azul que nos remete a uma flor, mas que emoldurada pelos traços rosas avermelhados e negros, mais tem o sentido caleidoscópico de uma mandala.

Uma composição de significativa gama de sentidos encontra-se aqui:

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Novamente temos a moldura que fala muito sobre o ser que envolve.

Um pequeno “demónio” infeliz.

Mas o que resulta de sua infelicidade?

Essa moldura de flores raras, que num efeito mandalico, formam e são formadas por chamas que emanam do ser sofredor que Inafuko retrata na pele de seu cliente.

Uma temática que também parece significar muito para o próprio artista que as repete de várias formas em sua obra em carne.

Bem como a temática clássica japonesa:

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As carpas demônios nadando em sentido contrário uma da outra, uma vermelha outra azul, cores mais sugeridas que explícitas, formam uma espécie de infinito e nos remetem ao Ying-Yang, ao Tao, mas também, numa leitura mais marginal, à Yakuza, grande fâ da carpa e o poder a ela atribuído pelos mestres japoneses, os quais, com certeza, Inafuko segue.

Segue sim, mas homenageando-os mais que os imitando, pois apesar de jovem, já desenvolveu sua própria temática, aperfeiçoa o seu traço constantemente, uma maneira de se manter preparado para novos desafios, onde for necessária sua arte.

A espada desse samurai-pop das tintas.

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