O ESPAÇO E O TEMPO DE JUSTYNA KOPANIA

 

 

 

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  Justyna Kopania detém um estilo singular e paradoxal. Segundo ela, suas pinturas são tanto Impressionistas – de fato, alguns de seus quadros lembram Renoir e Cezanne, quanto expressionistas. Críticos dizem que ela usa elementos abstratos sobre temas reais ou vice e versa. Ela usa a técnica de pintura a óleo, que consiste em usar tintas à base de óleo, como o óleo de linhaça, para criar pinturas expressivas e texturizadas.

Para ela, o título de um quadro não é tão importante quanto o conjunto, o contexto no qual ele se encaixa, daí batizar não quadros, mas séries, como “Sea”, “Boats”, “Variations”, “Harbors”, “Rivers” e outras.

Daí também a diversidade de sua obra. Pois sua arte reflete um grande conflito entre tempo e espaço, a própria realidade lutando para impor à artista um ponto de vista. Justyna, sabiamente recusa a retratar este ponto de vista. Antes retrata o conflito que ela vê no nervo do tema que contempla, pintando inúmeras variações de sua óbra a que retratam desde um cãozinho perdido numa noite iluminada pelas luzes da cidade e por um improvável e luminosa lua crescente, como se verá, até o seu amado mar, barcos, marinhas, rios e paisagens.

Porém, basta, por enquanto, perceber o conflito vivido pela artista:

“Time…Man is looking at time constantly. He looks at the clock,  he lives from hour to hour. It scares me. That's why I try to  capture time in my paintings. Stop time, a snippet of a second.  I'm painting fast, I'm racing against time. A surreal challenge. The  concept of time irritates me. Man was born and has only a cert amount of time. Life is like that, unfortunely. That’s reality.”

“Tempo... O homem está constantemente olhando para o tempo. Ele olha para o relógio, ele vive de hora em hora. Isso me assusta. É por isso que tento capturar o tempo em minhas pinturas. Pare o tempo, um trecho de um segundo. Estou pintando rápido, estou correndo contra o tempo. Um desafio surreal. O conceito de tempo me irrita. O homem nasceu e tem apenas uma certa quantidade de tempo. A vida é assim, infelizmente. Isso é realidade. “

“Freedom. Space. Space gives freedom, space is freedom. That's  why I love the sea, the ocean. Man looks and doesn't see an  end…no end in sight. The power of the ocean during a storm  when the waves almost reach heaven. The ship laboriously  flowing, and dozens of birds over it that scream—and then  comes the silence. You can only hear the sound of the ocean, its  whispering, the heart of the great water.”

"Liberdade. Espaço. O espaço dá liberdade, o espaço é liberdade. Por isso amo o mar, o oceano. O homem olha e não vê um fim... nenhum fim à vista. O poder do oceano durante uma tempestade quando as ondas quase alcançam o céu. O navio fluindo laboriosamente, e dezenas de pássaros sobre ele que gritam - e então vem o silêncio. Você só pode ouvir o som do oceano, seu sussurro, o coração da grande água.”

Kopania, Justyna. OIL PAINTINGS-JUSTYNA KOPANIA: Voyage, part 2 (p. 8). Edição do Kindle.

À visão de um tempo melancólico e desesperador onde sabe-se que se termina, morre-se e pronto, fim. À esta visão nihilista  do tempo, do passar do dia a dia, cuja fugacidade lhe causa medo, Kopania contrapõe uma visão extremamente prazerosa do espaço, representado pelo mar. A liberdade. O silêncio necessário para ouvir o som do oceano, o coração da grande água.

Suas pinturas decorrem desta dialética, diante desse duo, o medo diante da liberdade e a liberdade diante do medo de se finda no tempo. Formas pintadas com espátula, como a vela dos inúmeros navios da série “Boats” – Barcos, misturam-se com delicados borrifos de tinta feitos com um gesto de pincel sobre a tela para retratar as folhas de um outono. Ou mesmo misturando as cores na própria tela criando belos relevos onde seu pincel amassou e espalhou a tinta.

Este processo que decorre de sua visão particular do tempo-espaço, ou seja da própria realidade física.

O Estar aqui de Heidegger está muito bem representado em qualquer uma de suas telas, e em todos os seus inúmeros temas.

Tanto para o filósofo alemão bem como para Kopania, estamos lançados num espaço libertador num tempo finito e nos cabe apenas buscar respostas para como se viver melhor de fato e de direito ao cuidar e contemplar o que se está entorno de nós.

Pintar para a artista é um workinprogress, trabalho constante, sem fim. Pois para ela, ana arte, não pode haver interrupções, preguiça… A arte é como uma planta, todos os dias tenho que cuidar…

Caso contrário, parece-nos dizer a artista, a vida perderia o sentido…...

Exercício de técnica e pontos de vistas, ao criar efeitos de luz em sombra em superfícies delicadas como algodão, às vezes usando as próprias mãos, suas pinturas tem a marca da beleza fugaz, mas que se prova, através do olhar da artista, eternizada em sua tela.

Madeira, algodão, ou qualquer outra superfície que Justyna Kopania decidir usar.

Nascida em 11 de Junho de 1977, apreciadora de mestres da pintura polonesa como como Jan Matejk e Jacek Malczewski e auto didata em pintura, escapou dos estudos para dedicar-se exclusivamente ao desenvolvimento de sua arte.

Sua primeira séries de obras foi Carmem, inspirada no filme homônimo de Carlos Saura com trilha sonora de Paco de Lucia, onde retrata o exagero das óperas ambiente onde trabalhou podendo testemunhar por si própria a natureza excessiva da apresentação operística.

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Apesar da beleza das cores da composição em seus tons, negro, vermelho e dourado – retratado perfeitamente o caráter emocional explosivo de Carmem, nota-se um elemento de estranhamento, como os seus olhos arregalados e do tamanho da estranha máscara de teatro que Carmem carrega.

Teriam olhos e máscara de teatro alguma relação?

Seriam os olhos a maneira de se dizer que jamais tiramos a máscara, mesmo quando parecemos estar sem nenhuma?

Qual o horror ou deslumbre que contemplam?

Para mim, essa pintura não privilegia nenhuma afirmação, antes dúvidas.

Daí seu terrível e belo estranhamento.

 

 

 

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Justyna Kopania | 27 Landscape Oil Paintings - Polish Artist

“Amanhecer… Que amanheça… Estou no rio… Talvez haja uma árvore na margem do rio… Talvez esteja se curvando suavemente sobre a água… A aura do outono definitivamente me impressionou - essas folhas coloridas, recentemente lindamente envoltas pelos raios do sol … Talvez... folhas coloridas nas árvores brilhassem com cores ainda mais quentes… Talvez...”

 

 

O por do sol, é na visão de Kopania, um momento mágico, esse talvez a que ela se refere, a própria fugacidade da realidade, pois o que não é o o por do sol senão esse momento de passagem entre o dia e a noite que ocorre célere, quase sem que nem percebamos?

Um momento de luz resplandecente em meio ao anúncio das trevas da noite e do morrer do dia.

Justamente a perspectiva de tempo da artista, o por do sol é um leitmotif de suas pinturas, bem como o mar, a lua, o barco, a tempestade:

 

 

 

 

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Este é o quadro do cachorrinho a que me referi no começo do texto.

Separei-o porque é uma excelente amostra da técnica de Justyna Kopania.

 

Sua pintura a óleo provém de uma técnica tradicional e muito usada por grandes artistas da história. Ela consiste em usar tintas à base de óleo, como o óleo de linhaça, para criar pinturas expressivas e texturizadas. Ela tem a vantagem de ter uma secagem lenta, permitindo ao artista fazer correções e ajustes na obra. Ela também confere um brilho, um polimento e uma vivacidade às cores que outras técnicas não conseguem.

Essas correções e ajustes ficam visíveis e começam a fazer parte da obra, como se nota no grosso traçado dos prédios e no relevo a mostra nos traços em amarelo. Essa visibilidade das correções e manuseios durante a secagem passam a ser parte estética da pintura, dando-lhe ainda mais riqueza de significados e expressando a força dos conflitos que movem a artista:

“A cada toque na tela, a tinta deixa um rastro. O traço depende da pressão da ferramenta sobre a tinta, do ângulo de inclinação da ferramenta em relação à pintura, da densidade da tinta e da quantidade de tinta utilizada. Claro, o mais importante é a ferramenta para criar cada fragmento de pintura. EU.”

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Considerando o decorrer cronológico com que Justyna Kopania parece ver o espaço-tempo,  podemos dizer que, excetuando-se os que retratam o entardecer, um tempo a parte na obra da artista, todos os quadros que mostrei até agora ou tem a temática noturna como o da série Carmem e a figura mascarada contorcendo-se de desespero e tristeza da série Variations ou são Noturnos própriamente ditos.

Sobra portanto, dentro da dialética espaço-tempo com que trabalha a artista, o dia.

O dia representa a plenitude do mar em luminosidade e superfície sobre a qual singram imponentes barcos, que mostraremos a partir de seus rascunhos, seus skecths.

 

 

 

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Justina Koponia é uma artista que vale a pena conhecer e admirar. Ela mostra que a pintura a óleo é uma técnica versátil e poderosa, capaz de expressar sentimentos e sensações de forma única. Ela também mostra que a arte é uma forma de liberdade e de autoconhecimento, que pode inspirar e encantar e nos desafiar a ampliarmos nossa percepção da realidade.

 

 

 

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