FRAGMENTOS DA SOLIDÃO EM ANTHONY MAZZA

                                            

Lembro quando gostaria de fazer uma live com Anthony e conversamos bastante.

Oras, chegamos a tomar um porre juntos

Ele me passou um roteiro de uma história que estava trabalhando, Três Plumas, que, no final das contas, percebi que deveria ser interpretada em função do estilo de Anthony, não no sentido diegético, no que se refere a narrativa, mas pela óptica do estilo imagético do artista.

Uma ótica que privilegia imagens cheias de reflexões sobre o ser humano, sua solidão, sua ânsia em reincorporar-se com uma natureza que nem sempre se mostra receptiva – quase nunca.

E também, seu olhar afastado, como se observasse as coisas de longe.

 

Como uma garça:

 

Repare no traço vintage e no uso com forte influência da HQ em sua composição.

Mazza usa de sua principal influência, FeliX Vallotton para compor sua obra, bem como uma quebra na imagem para realçar, dentro da paisagem a solidão da garça.

Tudo isso traçado como quem olha as coisas com uma boa dose de distância contemplativa.

Pois Anthony também é um quadrinista de de natureza meditativa e nos mostra a solidão humana até retratando uma partida de futebol:

O ângulo fotográfico e o distanciamento dos jogadores denunciam que o olhar é de alguém que espia como de dentro de um apartamento, e os blocos ao fundo, nos remetem à mesma solidão de algumas cenas de Antonioni ou mesmo de algumas obras de Hopper.

Apenas com tons muito mais pastéis, como se a tão sonhada reintegração com o ambiente que cerca o homem fosse, não convidativa, mas difícil e trabalhosa

Assimm é composto o quadro que segue

Há o desejo intrínseco de uma pedalada em integrar-se com o meio que cerca o passeio com a bicicleta.

Porém a natureza parece, nos traços fugidios do autor, esvanecer-se sob as rodas dos ciclistas e a obra decomposta em duas pode nos aproximar espacialmente deles, mas o olhar é distante, como alguém que nunca participará desta pedalada.

No entanto há momentos que o lirismo salta aos olhos e o ser humano consegue enfim, sua tão desejada integração:

A menina sentada num galho de árvore interage diretamente com a natureza.

Está sentada nela, tem um pássaro no joelho e, perfeitamente alinhados, um pássaro e logo ao fundo vários pássaros voando, no entanto não conseguimos ver para onde a menina olha.

Ou seja, ou ela olha para os pássaros e assim toma consciência de sua tão sonhada integração, ou não olha para nada a não ser sua própria solidão.

A solidão humana tão bem retratada nas mãos de Anthony Mazza.