ISABELLA VON FREIESTEIN DO MUNDANO AO SACRO

Isabella

Críticos de arte são curiosos. A internet também. Tendem a ignorar a jornada espiritual de um artista em prol de sua jornada social.

Quando o artista segue sua jornada social com sucesso, que nem sempre traz alegria para o espírito, enaltecem-no.

Porém, quando o artista se volta para sua jornada espiritual em detrimento de sua jornada social, ou literalmente manda a sociedade à merda... bem tendem a ser ignorados.

Isabella Von Freiestein colecionou prêmios internacionais por retratar as inúmeras facetas da sociedade de uma maneira quase multidimensional.

Seu talento, à época, quando escrevia uma pequena coluna sobre arte no Instagram para o Literocupa, foi evidente para mim. Estávamos em 2019, e fiquei seu amigo no Facebook e lhe mandei um salve do “Brazil”.

Queria escrever sobre seu trabalho.

Obras como essa:

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Nothing is Free tem forte influência da pintura tibetaba (repare no peixe jacaré sacro por aquelas bandas) e já nos mostra vários símbolos religiosos acima da massa de figuras distorcidas, uma parecendo abraçar a outra, sob o toque de um rosto bidimensional levemente maior que os demais

Este rosto contempla a cena com brandura, tocando uma figura feminina amparada e que ampara outra forma feminina inconsciente.

A massa que forma estas figuras é composta por formas que parecem vir do nada, mas seu sentido revela-se num olhar mais fixo e atento:

A moça segurada no colo e moça que segura são praticamente o mesmo corpo, dominado por uma figura masculina bidimensional com um olhar triste e cansado.

Auréolas que rementem tanto a santidade quanto a rodelas de limão de um drink.

Um drink que é tomado de canudinho por outra figura masculina bidimensional à direita do quadro que parece sorver a cena central de canudo no nariz.

Nada é de graça...

Nem mesmo um ato reconfortante e humano.

Um ato sagrado sorvido pelo mundano.

Uma roda sem fim...

Evidente que Isabella levou o cubismo e o neocubismo a um outro nível.

O dela.

O seu olhar.

Sua visão de mundo.

Um mundo que promete conforto mas suga o espírito como se fosse um drink.

Conta alta a que temos que pagar pela vida nesta sociedade, Isabella parece questionar.

Vale a pena pagá-la?

Ou é melhor seguir outro caminho, dar uma banana para a sociedade, olhar para as origens e o que vêm das origens e como a origem atingia o sagrado?

Não mais ser tocado pelo sagrado, mas tocá-lo?

Pois foi o que Isabella ousou fazer em sua jornada de vida.

Encontrou-se com o xamanismo europeu.

Radical.

Daí obras como essa:

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Cristãos mais sensíveis logo classificarão a obra como coisa demoníaca pela presença intencional de símbolos alquímicos – eu pesquisei – em pleno peito, ou chacra cardíaco, como queiram.

Há a presença imersiva da natureza nessa obra, uma natureza sacra.

Temos a sabedoria do corvo e o poder do puma, a força psicodélica do cogumelo Amanita Muscaris, vermelho e todo pintadinho de branco, o delírio da toxina da rã aliada com a carne dos peixes, cujos rabos unem-se e confundem-se e se fundem na roda dos signos.

Uma operação alquímica está acontecendo aqui.

Um rito xamânico.

Uma volta a origem e a sacralidade da origem.

E a cura do espírito.

Daí a ordem dessa obra em comparação à Nothing is Free.

A primeira mostra a doença, a segunda, a cura.

A entidade criadora, xamã, herói mítico, ancestral sagrado retratado aqui não é caucasiano, mesmo com elementos caucasianos, sua cor tende ao pardo, ao ameríndio, à diversidade humana.

Nossa origem.

Tão renegada e afastada de nós.

E que Isabella resgata tão bem nessa sua fase de sua Arte. Ia falar de mais obras dela, mas me empolguei. Acabou meu espaço de palavras. Deixo mais imagens dessa fase de Von Freiestein ao final do texto para que apreciem ou não, como diria Caetano...

Infelizmente essas obras são ignoradas por puro preconceito, em minha humilde opinião, por crítica e público.

Pois então, desejo que essas linhas sejam o primeiro dos muitos tiros que derrubarão de uma vez por todas essa rançosa, perigosa e doentia parede social feita de premissas falsas, arrogância e egocentrismo.

Esse preconceito...

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