Wildor Ignácio Rios Quispe: “a arte é o que importa”

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Essas minhas  postagens sobre arte e artistas não tem intenção nenhuma de ser um museu.

Fecho com Agamben: “Um museu acumula e conserva obras de arte de maneira que sempre estejam disponíveis para a fruição estética do espectador de maneira idêntica a quanto que acontece como as matérias-primas e as mercadorias acumuladas em depósitos.”

E também fecho com Holderlin:“a obra de arte não é nem um valor cultural nem um objeto privilegiado para a aisthesis (experiência de degustação estética)do espectador e tampouco a absoluta potência da forma. Antes situa-se em uma dimensão mais essencial porque sempre faz acessar o ser humano, a sua estrutura original na história e no tempo”

Posto porque a situação dos artistas, seu talento e temática, revelam-me que ser humano ele é e isso me comove.

Por isso escrevo sobre eles.

Não sou contra museus, mas ele são como áreas de preservação ambiental.

O artista não.

Ele vive sua arte e quando não raro, vende seu talento para por o pão na boca.

Quando admiro a estrutura original do ser humano que cria arte, contemplo quem é o artista e decifro sua arte, essa esfinge.

Esfinges como essa aqui:

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Os elementos desse quadro são simples, mas a alteração de tamanhos salta à vista logo num primeiro olhar.

Os beija-flores maiores do que a cerejeira florida?

Numa representação não surrealista?

A mim, parece que tudo tem a ver com a gruta em que árvore e pássaros estão. Um verdadeiro mundo mágico, a terra e suas entranhas, o eu profundo do artista.

Para Wildor Ignácio, as proporções pouco importam.

Se a imagem da árvore tem a fragilidade de um bonzai, sua pujança indica a presença constante daquela luz que vem do exterior. Não é um momento fotográfico em que a luz ilumina as trevas da caverna.

A luz, nesse mundo mágico está sempre presente.

E a festa que os beija flores fazem indica que, lá, para sempre será presente.

Caso contrário não haveria flores na árvore.

E os beija flores não poderiam ser gigantes.

Essa mesma cerejeira florida está presente em outras criações que transcendem a mera reprodução figurativa extremada da realidade e se tornam parte desse mundo luminoso em que vivem as obras de Ignácio:

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Aqui a pujança de elementos é tanta que se faz agradavelmente contraditória.

A presença fortemente marcada do branco no pico das montanhas indica um outono-inverno que não corresponde ao real, mas sim, ao mundo idealizado pelo artista.

Lá a luz é tão pura que se torna espelho no reflexo do lago em que está cercada a cerejeira florida.

E creio que luz e cerejeira florida confundem-se nesse mundo maravilhoso criado pelo jovem artista autista.

É o seu eu interior que é iluminado mesmo nas trevas mais profundas por uma luz simplesmente alienígena, outra temática constante desse piá, que, se não me engano, tem 17 anos.

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Então como não se emocionar com essas pinturas conhecendo a história desse menino.

Ele tem várias pinturas que não gosto, mas simplesmente traz o pão para a boca vendendo-as a pedidos.

Pinturas como esta.

Imagem do WhatsApp de 2023-08-08 à(s) 08.26.25

Como já disse, esse tipo de pintura não me diz muita coisa, mas sua presença na história e no tempo de Ignácio, diz tudo para mim.

Ele é um sujeito que não deixa sua deficiência o abater.

Antes, usa seu talento como instrumento de auxílio à sua família, imigrantes peruanos que vieram a esse país em busca de uma vida melhor.

Não consigo nem imaginar o que encontraram.

E ver um ato como o de Wildor Ignácio me comove ao extremo.

Não porque ele ajuda sua família que deveria no mínimo ter uma vida melhor nesse país.

Mas porque revela o ser humano que ele é.

E é por isso que escrevo sobre ele, bem como escrevo sobre quaisquers artistas que estiverem ou estarão nesse blog.

Porque sua arte revela sua humanidade, e ela me lembra como podemos ser belos, irmão.

Lembra-me como fomos belos, irmã.

Lembra-me como todos poderíamos ser belos.

Unidos pela sacra empatia do amor.

 

 

 

 

 

Comentários

  1. Parabéns pela descoberta! O garoto faz a profundidade não apenas explicitar as proporções, como também brinca com ela, como se não devesse explicações ao mundo físico. Como, de fato, não deve!

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