A BACANAL DE COBERVILLE–VIII–A REAÇÃO DE CHATEUABRIAND

 

 

chatô e aymeé

E depois desta resposta infeliz realmente estaria, pois, a imprensa o massacrou durante uma semana inteira. Chateuabriand, não fosse ter uma grande mulher a seu lado perderia a compostura

Aapesar de decepcionada com o fracasso do escândalo, estava calma. Percebe que tem que usar seu plano B para virar o jogo: a revista Cruzeiro a principal publicação dos Diários Associados do amante, com tiragem de 370 mil exemplares é um instrumento mais do que suficiente para reverter a má imagem de Chateuabriand.

Ciente dos baixos riscos e das altas probabilidades de sucesso, Aymée convida o amante para passar um final de semana juntos em seu refúgio em Petrópolis para animar Chateuabriand.

Que se deixou atingir durantemente pelos ataques dos jornais.

No sábado, à mesa do café da manã, Chateuabriand está com olheiras, a longa papada caída em seu peito, cabeça baixa, brincando com as sementes de um mamão papaia.

--- Você não é homem de ficar assim, meu amor. Reaja. Você tem inteligência e recursos para isso.

--- Como assim, minha amada, que queres que eu faça para esse bando de ingratos. Eu que enalteci o Brasil diante do mundo, eu que fui ovacionado em Coberville, você estava lá, você viu, fui ovacionado. E agora sou um pária em minha própria Pátria.

--- Pois explique-se. Lembre-se o brasileiro não pensa por si mesmo. Pensa pelos jornais e revistas que lê, quando o faz. E até agora o brasileiro não leu o Cruzeiro. Pois use seu principal trunfo e sufoque essas picuinhas a seu respeito. Qual a tiragem destas micro publicações? Pífia. Qual o número de brasileiros alcançaram? Mais pífio ainda. Qual a tiragem de o Cruzeiro?

--- 370 mil exemplares, podendo dobrar facilmente.

--- Pois bem, mon cher. Teremos 300 mil brasileiros o aclamando como herói. O Rei do Algodão Seridó. Explique seu sonho de promover o autêntico produto nacional. Mostre que conseguiu. Nos seus termos. Mas primeiro consiga um aliado de peso.

--- Eu a conheço, Aymée de Heréen. Você não dá ponto sem nó. Quem é o aliado que você sugere.

--- O articulista Gilberto Freyre. Ele tem grande influência tanto sobre os intelectuais quanto sobre seus leitores comuns. E está ao seu lado, pelo que pude conversar com ele.

Chateuabriand, finalmente come seu mamão Papaya com um radiante sorriso no rosto.

Aymée retribui o sorriso. Sabia que o amante concordara com ela. Sabia que tudo seria arranjado.

E no domingo, em seu artigo “Reclamo[i] do Brasil” Gilberto Freire comparava elogiosamente Assis Chateuabriand a Barão do Rio Branco: “Quando põe a serviço do reclamo esta república obscuramente tropical gente famosa nas artes, nas letras, no jornalismo, na elegância e nas modas da Europa, seu método (o de Chateuabriand) é o de Rio Branco. Exagerado até o escândalo”.

“Porém, é preciso que na Europa, na India, na Síria se saiba que há um Brasil tão jovem e tão cheio de energia moça que não só sua música como sua dança popular são capazes de dar novos rumos a europeus e ocidentais mais ou menos oprimidos por tradições hieráticas econômicas. Através da dança, de nossos figurinos e música populares valores da cultura brasileira serão revelados ao estrangeiro e ao seus hábitos, assim, incorporados”.

Embasada por tão grande figura intelectual, Chateubriand publicou nada mais nada menos do que 68 páginas com cobertura da festa de Coberville.

image

 

 


[i] Reclamo aqui refere-se a reclame de publicidade, anúncio publicitário. N. A.

Comentários

Postagens mais visitadas