A BACANAL DE COBERVILLE–II–O PLANO

 

French fashion designer Jacques Fath at work.   (Photo by Keystone/Getty Images)

Ela divaga e recorda.

Aymeé podia lembrar-se da alegria com que visitaram Genevieve e Jacques Fath pela primeira vez em Corbeville, num agradável café, num mais agradável ainda começo de primavera francesa, num março ensolarado de 1952. Havia ours d’ouvré deliciosos, risos e vinho.

Foi quando nasceu o plano. Ela pediu para Chateaubriand contar seu sonho.

--- Quero mostrar ao mundo o Brasil de verdade, um Brasil feito de mestiços autênticos, mulatos inzoneiros índios e negros, que somos todos nós, brasileiros. Não somos da cor branca com quem querem nos pintar.

Aymeé reforça o argumento com uma sugestão irresistível para Jacques e Genevieve Fath, ambos festeiros e dispostos a tudo por uma boa diversão.

--- E a melhor forma de fazer isso é um baile de carnaval, um baile à fantasia, onde todos se misturam e fica evidente a vasta experiência de cruzamento nos trópicos.

--- Um baile á fantasia inspirado no carnaval do rio de janeiro. Que ideia maravilhosa, mons amis – responde um entusiasmado Fath.

O casal Faith, era conhecido por sua alegria e festividade, e Jacques Faith era o príncipe de Paris do mundo do prêt-à-pôrter, um príncipe extravagante e extrovertido que conhecia o Brasil através de Chateuabriand e possuía um verdadeiro fascínio e vontade de trabalhar temáticas brasileiras em sua obra.

Genevieve Faith não era menos festeira e pensava grande:

--- Poderíamos convidar todo o jet-set internacional, eles amariam uma festa assim, sorri mais que fala Genevieve.

--- E também contamos com o senhor para modelar uma coleção com nosso algodão para as fantasias de carnavel, meciê Fath. – complementa Chateaubriand

--- E para presidir, podemos chamar a primeira dama. Soube que Darcy Vargas está na Europa. Acho que não resistiria a ser uma convidada de honra em nosso “pequeno” evento. Ainda mais para uma causa tão nobre quanto representar o algodão nacional. Autêntico produto brasileiro. O que acham... - pergunta com irônica inocência Aymeé.

Para sua satisfação, todos concordam.

Aymeé sorri. Beberica o café com conhaque à sua frente.

“Tolos. Engoliram tudo. Bem sei o quanto de permissividade e licenciosidade existe nestas festas e sei muito bem escapar de tais inoportunos inconvenientes. Mas saberá fazer o mesmo Darcy? Duvido. Com os Diários Associados de Chateaubriand envolvido, haverá fotos. Muitas fotos. E do jeito com que sei que a imprensa anda atacando Getúlio, uma foto será o suficiente para gerar um escândalo. E esta será minha vingança, mon cher Vargas... Atingir sua tão estimada honra familiar”.

--- Sim, diz Chateaubriand. Vamos começar os preparativos para a festa. Qual o lugar que o senhor sugere meciê [U1] Fath.

--- Oras, aqui. No castelo. Em corbeville. Vou transforma-lo num pequeno Brasil.

E nos 50 dias em que trabalhou para organizar o baile, Fath, se por um lado não parou de trabalhar no evento por um minuto, por outro achava tempo para não fazer segredos de suas intenções.

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[U1]es

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