A BACANAL DE COBERVILLE–IV–A “ORGIA” EM PARIS

 

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Com tais declarações e manobras, o segredo era impossível e a boataria um fogaréu impossível de conter. Ainda mais no Rio de Janeiro, capital federal em 1954, na época, toda ouvidos para tudo o que fosse novidade ou inédito.

Uma das fontes da vasta teia de informantes do jornalista e amigo pessoal de Getúlio Vargas, Samuel Wainer acabou escutando os boatos sobre a monumentalidade da festa e o convite à primeira dama e os repassou ao jornalista.

Wainer, que, como Aymeé conhecia bem este tipo de festa fareja a armadilha para a primeira dama e consequentemente para Vargas. Vai até ele. Avisa-o.

Vargas fica irritadíssimo quando sabe do teor do evento, de quem o organizou e das coisas licenciosas e constrangedoras que podem nele acontecer e trata de localizar sua mulher e filha, pois Alzira Vargas acompanhava Darcy na viagem para a Europa.

Consegue contata-las a 02/08/1952.

Darcy nega-se a cumprir as ordens do marido de não ir a festa. “Não com uma ordem descabida dessa encima da hora. Não quando vou representar o Brasil num evento desse quilate!”

Alzira diz que não deixará a mãe ir só no que pode ser uma armadilha. Quem sabe não consiga fazer com que escapem.

3/08/1952 - A Festa: O desfile de Jacques Fath é aplaudido em pé e consagra o algodão e as beldades brasileiras, mas o que entrou para a história, mais pela via da fantasia do que pelos fatos, uma vez que poucas pessoas sãs os testemunharam.

Após o speech de Faith que chamou Chatô ao palco sob a ovação da plateia, tudo turvou-se na mente dos presentes. Imaginação e realidade misturam-se na descrição dos fatos e muito do que o autor viu em sua pesquisa parece ter saído de um poema surrealista.

Ou de uma rave junky.

Mas eis o que pode ter se passado no na histórica festa de Coberville, segundo fontes indiretas.

O baile começou como com uma queima de fogos que iluminou o céu por longos 5 minutos de extraordinária pirotecnia.

Porém, a loucura teria começado quando Chateaubriand e outros convidados entraram no baile montados a cavalo. A delirante Schiaparelli fantasiada de periquita Guaíba na garupa. Chatô atacava vestido de cangaceiro.

O frevo, o caruru, o samba e o maracatu rolam solto.

Bem como: 1400 garrafas de uísque. 2000 de champanhe. 100 litros de pinga da boa. E mais todos os baratos dos anos 50 com todas as grandes figuras do jet set da época botando para quebrar:

Orson Welles estoura uma capsula de Nitrido de Amila no nariz do Doris Day. Ela ri sob o efeito do gás e os dois vão para a pista de dança embriagar-se de samba e champanhe.

Danuza Leão volta do banheiro com os olhos semicerrados e nariz dilatado, sua cabeça no sétimo céu de uma inalada de heroína.

Um francês vestido de cangaceiro vomita.

Brindes entornados até o talo.

Sinhazinhas francesas brincando de dançar com os brasileiros afrodescendentes travestidos de escravos por Faith.

Lança perfume borrifado em lenços. Lenços aspirados com ânsias de êxtases instantâneos. Gente com lenço na boca largada pelas colunas do castelo, os trajes, antes luxuosos, emaranhados como os de um maltrapilho de rua.

Uma mão boba enfia uma cápsula de Benzedrina garganta adentro da futura sra. Carmem Mayrink Vega que, então bailou até desmaiar na pista.

Danuza Leão, bêbada e deslumbrada desaparece nas sombras seduzida por um gentil senhor francês com chapéu de frevista e longas suíças cinzas.

A orquestra Tabajara suava tentando acompanhar o ritmo dos assombrados franceses que se rendiam em ritmo agônico de alta festaria as manhas e belezas do Carnaval brasileiro.

Elizeth Cardoso berrava ao microfone.

Jamelão mandava brasa em seus loucos breques.

Jacques Faith não para de trocar de fantasias. Uma hora aparece sem camisa só de calça de índio. Sempre sorridente e a vontade arrancava risos e passos de danças de seus convidados.

Os gringos dançavam, loucos de música álcool e outras coisinhas más.

Então no auge do baile, uma liteira carregada por quatro poderosos africanos entrou em cena com Aymé de Soto Mayor de Heréen vestida, na visão de uns como uma rainha inca, na de outros como uma sinhazinha de beleza extraordinária.

Não se sabe até hoje como Aymée conseguiu tal efeito. O que se sabe é que a grande dama da festa circulou por entre as mesas, distribuiu amenidades, cumprimentos e sorrisos e desapareceu no melhor estilo à francesa.

Na verdade Aymée recolheu-se aos seus aposentos prematuramente, antes que os eventos da festa se deteriorassem e pudesse comprometer-se como sabia que os demais o fariam.

Uma outra cápsula de nitrato de amila é estourada no nariz de Alzira Vargas por uma mão anônima.

Ela, apesar de rir como uma imbecil pelo efeito da droga, dá-se conta do que aconteceu:

--- Mamâe, caímos numa armadilha – Diz Alzira sem conseguir controlar o riso.

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